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SÃO PAULO
Parasita: São Paulo alagada mostra que a Coreia não está tão longe do Brasil
Redação

São Paulo amanheceu embaixo d’água hoje, deixando inúmeras famílias desabrigadas. Isso um dia depois de ser premiado com o Oscar o filme Parasita de Bong Joon-Ho, que retrata situação como essa. “Essencialmente todos vivemos no mesmo país, ele se chama capitalismo”, são as palavras do diretor frente à miséria que este sistema reserva aos trabalhadores de todo o mundo.

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Como abordamos aqui, o filme sul-coreano Parasita (o primeiro de língua não inglesa a ganhar o Oscar) conta a história dos membros de uma família pobre (família Ki), sem perspectiva, numa situação desesperadora, que transformam-se (primeiramente com artifício do humor depois da tragédia) em empregados exemplares da rica família Parks. Aproveitar as oportunidades que surgem, com malícia e persuasão, assim a família Ki é apresentada. Uma adaptabilidade muito familiar para nós brasileiros frente a situações também familiares, mesmo o filme sendo feito do outro lado do mundo: dar o seu jeito frente ao desemprego e a precariedade do trabalho, enfrentar a miséria com todo arsenal e experiência de vida.

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Uma das cenas mais fortes do filme é a do temporal, que para a para a família Parks significou um passeio frustrado, afinal o rio havia alagado, para a tristeza do filho mais novo; voltam para sua mansão, têm como jantar um delicioso prato, uma noite de sexo entre Sr. Park e Yeon-Kyo enquanto o filho vai brincar na chuva com sua barraca dos EUA. Para a família Ki, por outro lado, significou uma ameaça a seu sustento, o alagamento de sua casa e perda de seus pertences, numa situação desesperadora com o fim num abrigo com centenas de outros pobres que sofreram dura consequências por causa da chuva.

O dia seguinte amanhece com um lindo sol, para alegria da Sra. Parks a quem muito agrada a chuva que deixou milhares desabrigados. “O céu tão azul e sem poluição. A chuva foi uma verdadeira bênção!”, são suas palavras em frente a seu motorista que havia acabado de perder tudo. Interessante notar que, enquanto a precária casa da família Ki é destruída, a barraca de brinquedo do filho mais novo da família Parks amanhece intacta.

A casa de brinquedo do garoto rico tem tecnologia de ponta para resistir à chuva muito mais do que a casa onde reside toda uma família pobre. Esse retrato “desigual e combinado” é escancarado de diversas maneiras ao longo do filme: aos da classe dominante tudo é provido da mais alta tecnologia, enquanto aos trabalhadores resta residir em locais precários em que sequer há Wi-fi, sujeitos a alagamentos. Para o capitalismo isso não é uma contradição, uma mera “fase” que irá passar e logo a situação de todos se igualará, pelo contrário: a combinação do progresso e do atraso é crucial para que se mantenha a exploração de uma classe sobre a outra no sistema irracional em que vivemos.

O filme ainda mostra que a família é gentilmente convidada a trabalhar no aniversário do garoto no dia seguinte da tragédia, sendo obrigados a encarar um dia de trabalho após passarem a madrugada embaixo d’água, buscando salvar seus pertences. Situação idêntica à que está acontecendo com centenas de trabalhadores em São Paulo hoje, que estão sendo obrigados por suas empresas a se arriscarem em meio à chuva, empresas estas muito confortáveis em fazer isso uma vez que o governo retirou o direito de se reivindicar que paguem por acidente de percurso. Isso apenas reforça o que o próprio diretor do filme relatou em entrevista semanas atrás. Impressionado com a repercussão do filme no mundo inteiro, afirma: “fiz o filme especificamente para a sociedade na Coreia do Sul, e a recepção e resposta em tantos países foi a mesma, ou seja, essencialmente vivemos no mesmo país, chamado capitalismo”.

Em meio ao caos da cidade, não podemos aceitar que os trabalhadores paguem com suas vidas, se colocando em risco para se locomover ao trabalho, muito menos que percam um dia de seus salários, por conta do descaso dos governos que deixam com que a cidade fique nessas condições por conta de temporais. Sem transportes, com alagamentos, deslizamentos e quedas de árvores, é preciso exigir que haja a dispensa das e dos trabalhadores, sem que se corte seus pontos.

 
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