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AUTOMOTORAS E DITADURA
Denunciam a Volkswagen Brasil por cumplicidade na última ditadura
Guadalupe Bravo

Após o escândalo da falsificação dos registros de emissões de gases contaminantes, outra denúncia da marca alemã de carros, desta vez sobre sua filial no Brasil que é acusada de ter cumprido um papel repudiável na ditadura (1964-1985) como "inteligência" para armar listas negras de operários e detenções na fábrica.

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A gigante automotriz Volkswagen que no primeiro semestre de 2015 superou a rival Toyota se tornando a número um em vendas de automóveis no mundo com 5 milhões de unidades, foi recentemente denunciada pela cumplicidade nos crimes da ditadura brasileira que concluiu em 1985.

Enquanto a Volkswagen atravessa na atualidade um escândalo mundial pelo fraude ambiental em mais de 11 milhões de carros vendidos, essa denuncia feita por ex-trabalhadores e agrupações políticas, continua desvelando os "segredos" do sucesso que ocultam essas multinacionais com o objetivo de aumentar seus lucros.

Desta vez a denúncia é feita sobre a filial brasileira, acusada de ter sido cúmplice da última ditadura militar. Ex trabalhadores e ativistas apresentaram uma demanda civil contra a Volkswagen, acusando-a de ter permitido torturas e perseguições sobre dezenas de opositores, durante a ditadura militar. A empresa tem sua montadora no Brasil desde o ano 1953 e emprega aproximadamente 20mil trabalhadores.

A denúncia nas procuradorias de São Paulo e São Bernardo do Campo foi apresentada pelo Fórum dos Trabalhadores e Trabalhadoras por Verdade, Justiça e Reparação que conta com o apoio de várias centrais sindicais, as comissões da verdade nacional e de São Paulo e representantes das vítimas de tortura durante o regime ditatorial.

"Volkswagen não foi a única empresa envolvida, mas teve um papel de inteligência em São Paulo e ainda coordenou outras empresas. Por coincidência, os documentos que temos contra ela são devastadores, no sentido de que permitiu um estado policial dentro da empresa ou mesmo detenções desde os próprios postos de trabalho", afirmou Sebastião Neto, coordenador do Fórum dos Trabalhadores e Trabalhadoras por Verdade, Justiça e Reparação em declarações à agência AFP.

Os denunciantes também destacam o papel da VW através da espionagem, elaboração de listas de trabalhadores que foram marcados como "subversivos", relatórios internos e entrega de dados ao hoje extinto Departamento da Ordem Política e Social (DOPS), principal órgão repressivo da ditadura brasileira, liderando este serviço de inteligência que implementava-se não só na Volkswagen mas no resto das fábricas.

Esse modo de operar, de cumplicidade entre a patronal e os militares foi sistemático durante os governos militares, buscando atacar a resistência que crescia nas fábricas frente ao ajuste e distintas medidas anti operárias. Nas empresas automotoras, como aponta esta denúncia, foi muito marcante o papel de colaboração com as ditaduras das patronais. Também na Argentina foram várias as plantas automotivas acusadas, como a Ford que desenvolveu um centro clandestino de detenção no seu próprio prédio (em processo de expropriação a partir de um projeto apresentado pelo deputado do PTS-FIT, Christian Castillo), ou a alemã Mercedes Benz, que sequestrou praticamente a totalidade da comissão interna combativa.

Mas essas operações aconteceram num contexto regional de cumplicidade através da conhecida Operação Condor, que unificava as ações entre as ditaduras dos anos 70 e 80 em países como Argentina, Brasil, Chile, Uruguai e Bolívia, orquestrado por Estados Unidos e as classes capitalistas locais. Essa mega operação internacional garantia "o seguimento, vigilância, detenção, interrogatórios com tortura, deslocamentos entre países e desaparição ou morte de pessoas" consideradas por estes regimes como "subversivas da ordem instaurada ou contrárias ao pensamento político ou ideológico oposto, ou não compatível com as ditaduras militares da região"

A inofensiva investigação do Estado dos empresários cúmplices

No Brasil no ano 2011, Dilma criou por Decreto a Comissão Nacional da Verdade " com o intuito de examinar e esclarecer as graves violações aos direitos humanos". Este órgão participa da denúncia sobre a Volkswagen.

Na Argentina, há uma semana atrás foi votada na Câmara de Deputados a criação de uma Comissão Bicameral encarregada de "identificar as cumplicidades econômicas e financeiras" durante a ditadura argentina. Segundo consta no projeto apresentado pelo FPV: "o objetivo do grupo de parlamentares será determinar os "atores econômicos e técnicos que contribuíram ou se beneficiaram" com a ditadura militar e deram o apoio econômico, técnico, político, logístico ou de outra natureza".

Desde a bancada da Frente de Esquerda-PTS a deputada Miryam Bregman explicou de forma muito esclarecedora o apoio crítico a esta medida, afirmando que a citada comissão precisa ser independente de aqueles que foram cúmplices da ditadura militar, que contribuíram, intendentes, governadores e embaixadores", apontando o papel que cumpriram as cúpulas de partido como a UCR, o PJ e o Partido Socialista durante aquele período, como também a relação entre o governo de María Estela Martinez de Perón com a "Triple A" (Aliança Anticomunista Argentina). Também fez referência histórica às comissões internas e corpos de delegados combativos, como também aos planos do Ministro Celestino Rodrigo e ao lock-out patronal do 16 de fevereiro de 1976.

Finalmente, Bregman também negou que a comissão seja integrada por aqueles que "votaram a obediência devida e o ponto final" assim como por aqueles "que votaram nos nefastos indultos", em referência ao PJ. "A cumplicidade com a ditadura não foi simbólica", concluiu a advogada e deputada da FIT, quem destacou que desde o ano 1983 a política econômica erguida pelos governos destes partidos "beneficiaram de forma excludente aos grandes grupos econômicos, incluindo aqueles que orquestraram o golpe militar".

Tanto sob o Governo de Cristina Kirchner como o de Dilma, é correto investigar a fundo o papel criminoso que cumpriram as grandes patronais entregando trabalhadores nas ditaduras militares, mas a investigação deve ser "independente" dos partidos e grupos econômicos que também foram parte, como aponta a intervenção de Myriam Bregman. Também esses grupos e multinacionais continuam obtendo grandes lucros, tanto na Argentina como no Brasil acima de uma maior exploração sobre seus trabalhadores e com o aval dos governos do FPV e do PT.

 
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