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ARGENTINA
PTS na FIT: é possível uma esquerda da luta de classes que conquiste peso eleitoral
André Barbieri
São Paulo | @AcierAndy

Existe hoje um fenômeno na esquerda latinoamericana que se fortalece na Argentina e merece ser conhecido: a Frente de Esquerda e dos Trabalhadores (FIT), e em particular o PTS (partido irmão do MRT, que compõe a FIT com o PO e a IS), cuja estratégia retoma o ensinamento dos clássicos marxistas em unificar a atuação dos revolucionários no parlamento com a intervenção na luta de classes contra os capitalistas.

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Trata-se de um exemplo que é de interesse de toda a esquerda e de todos que andam desiludidos com a possibilidade de uma política que não seja para enriquecer e para interesses individuais, sentimento que no Brasil é massivo devido à traição do PT.

O Partido dos Trabalhadores Socialistas, desde sua fundação no início da década de 1990 e com mais força depois das jornadas de 2001 na Argentina, escolheu construir-se nas principais concentrações operárias. Esta estratégia levou o partido a participar das principais experiências da luta de classes na década kirchnerista, ser protagonista do fenômeno do “sindicalismo de base” antiburocrático, e tirar as lições de grandes conflitos como a luta dos trabalhadores de Kraft em 2009 contra a patronal norteamericana, fortalecendo uma tradição da luta independente dos trabalhadores junto à esquerda.

Ligada a este desenvolvimento, a FIT, surgida em 2011, longe de um “fenômeno eleitoral” é produto de uma década de luta dos trabalhadores na Argentina, atravessada por experiências de recuperação de comissões internas fabris e ocupações de fábricas desde 2001, como Zanon e a gráfica MadyGraf (ex-Donnelley), e grandes batalhas contra a burocracia sindical para recuperar os sindicatos como instrumentos de luta dos trabalhadores. Representa, em síntese, o “salto” de uma enorme camada de trabalhadores, mulheres e jovens, das lutas sindicais para a militância política anticapitalista.

Uma mostra disso são os 1800 candidatos operários, os principais referentes da luta de classes na Argentina, que acompanham Nicolás Del Cãno, dirigente do PTS e candidato a presidente pela FIT, na campanha eleitoral, o peso das mulheres em cada chapa e a juventude trabalhadora e estudantil que se soma à política desde a esquerda contra Scioli, Macri e Massa, os candidatos do ajuste.

Atualmente, a FIT representada por Nicolás Del Cãno é a quarta força política nacional na Argentina. Isto ocorre porque manteve a independência política dos trabalhadores frente aos partidos patronais. Del Caño denunciou os políticos corruptos da burguesia nas sessões do Congresso, dando exemplo na defesa do programa, inspirado no primeiro governo dos trabalhadores da história, a Comuna de Paris de 1871, de que todo alto funcionário de Estado ganhe o mesmo que uma professora e seja revogável, doando o restante às lutas dos trabalhadores como dos metalúrgicos de Lear, junto aos quais foi reprimido com balas de borracha nos piquetes da Rodovia Panamericana pela Polícia Federal.

Esta prática política, desconhecida no Brasil, é uma mostra poderosa de como é possível atuar de maneira revolucionária no parlamento sem separar-se da luta dos trabalhadores. Na contracorrente disso vemos experiências como a do Podemos no Estado espanhol que, desde sua fundação, aliou-se a setores do reformismo e da burguesia, e como o Syriza na Grécia que, com um discurso “antiausteridade” que não tinha nada de anticapitalista, terminou por aplicar um verdadeiro ajuste neocolonial contra os trabalhadores.

É de se perguntar a razão do por quê setores da esquerda, por exemplo o MES/PSOL, deu grande apoio a estes mesmos reformadores utópicos do capitalismo sem pouca ou nenhuma relação com os trabalhadores, como o Syriza (e depois ao igualmente reformista Unidade Popular, ex-Plataforma de Esquerda, que sequer conseguiu 3% dos votos para alcançar uma bancada parlamentar) e chega ao ponto de defender os atributos "socialistas" de um apoiador das guerras do Iraque e do Afeganistão como Bernie Sanders do Partido Democrata dos EUA, mas é incapaz de olhar ao lado para enxergar o grande exemplo de independência de classes que é a FIT.

O êxito eleitoral da FIT mostra o acerto em ligar a intervenção parlamentar à luta de classes

Ao observar a forma como a esquerda se habituou durante décadas a atuar nas instituições parlamentares da democracia burguesa, é inevitável lembrar da estratégia com que o revolucionário russo, Lênin, defendia esta intervenção tática. Exatamente porque a esquerda se habituou a fazer o contrário. Para Lênin, a atuação dos revolucionários no parlamento deveria servir para demonstrar com maior facilidade o por quê semelhantes instituições devem ser dissolvidas pela luta dos trabalhadores.

A maioria das organizações da esquerda separa a atuação nos parlamentos da intervenção na luta de classes classes e acabam sendo corrompidos ou se afastam da vida e luta dos trabalhadores. Dessa forma, ao invés de demonstrar a necessidade de “suprimir” a democracia dos ricos, e substituí-la pela democracia dos trabalhadores a caminho do fim da sociedade de classes, rapidamente se incorporaram ao Estado burguês ou fracassaram como alternativas.

A experiência da FIT em geral, e do PTS em particular, contradiz a hipótese deste amplo arco de organizações, inclusive que se reivindicam trotskistas, que no passado degradaram o programa revolucionário para “chegar às massas”, entusiasmando-se com projetos de partidos sem uma estratégia anticapitalista de independência de classe. Mostra que é possível conquistar peso em setores de massas sem abandonar a luta para que o movimento operário se transforme em sujeito político, avance das lutas sindicais à militância política e construa um partido com independência de classe que lhe seja próprio.

Trata-se de uma conquista para a esquerda internacional na medida em que expressa, ainda em pequena, mas significativa escala, a correção de uma estratégia para construir partidos revolucionários a nível internacional, ligados à classe operária e com capacidade para influenciar setores cada vez mais amplos do movimento de massas.

Nos espelhamos neste exemplo do PTS para construir uma esquerda dos trabalhadores para fazer diferença na luta de classes no Brasil e debater em nosso país a conformação de uma Frente de Esquerda e dos Trabalhadores desta natureza, por isso convidamos Nicolás del Caño para vir ao Brasil em novembro.

 
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