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DATAFOLHA
O que está por trás da estabilidade da rejeição a Bolsonaro no Datafolha?
Yuri Capadócia

Num contexto de aprovação da reforma da previdência, privatizações, pacote anticrime, aumento do preço da carne, da gasolina…. como explicar a estabilidade da reprovação do governo Bolsonaro registrada pela última pesquisa Datafolha? Motivos não faltariam para que a onda de protestos que varre o continente desembarcasse no Brasil tendo Bolsonaro como alvo. Então como explicar?

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A trajetória de recorde após recorde de reprovação do governo Bolsonaro apresentou uma estabilização na última pesquisa do Datafolha, com ligeira queda de 38% para 36%, dentro da margem de erro. Para a mídia burguesa é fruto direto da suposta retomada do crescimento na economia. De fato, a pesquisa aponta uma correlação entre a avaliação do futuro da economia e o apoio a Bolsonaro. Enquanto aqueles que creem que a crise já passou (5%) ou está próxima a passar (37%) tendem a apoiar Bolsonaro (54% e 57%); para a maioria da população que sente na pele a persistência da crise (55%) a aprovação é mínima (12%).

Como vemos, o que predomina na população ainda é um pessimismo em relação ao futuro da economia e a aplicação da agenda neoliberal de ataques do governo. Entretanto, a cobertura da mídia burguesa preferiu sobrevalorizar os mínimos dados que apontam a diminuição desse pessimismo, numa manobra para legitimar a agenda de reformas e ataques.

A debilidade do crescimento econômico registrado no cálculo do PIB do último trimestre - 0,6% de aumento - não parece justificar uma reversão de expectativa. Mais do que a timidez desse crescimento, a principal questão é seu caráter conjuntural. Ele foi puxado pelo crescimento de 0,8% no consumo – com a liberação de FGTS e aumento do crédito para as famílias- e pelos investimentos privados que aumentaram 2%. O setor público e o setor externo encolheram, sem contribuição ao PIB, pelos ajustes fiscais e devido à crise Argentina e a guerra comercial entre Estados Unidos e China, respectivamente. A instabilidade e incerteza ainda são os elementos que preponderam na economia mundial.

Para além desse componente econômico, existe também um forte componente político nessa instabilidade. O ascenso da luta de classes tomou diversos países pelo mundo. Na América Latina diversos países vizinhos passam ou passaram por processos de luta de classe, com destaque para o Chile, a Bolívia e mais recentemente a Colômbia. Até um país do centro imperialista, como a França, vivenciou a maior greve geral dos últimos vinte anos. Frente a esse explosão da luta de classes, até Paulo Guedes anunciou um recuou na pesada agenda de ataques que acelerava para impor, com o adiamento da reforma administrativa.

Essa nova cautela de Bolsonaro - parcial, pois outras PECs nefastas do governo (emergencial, dos fundos, do pacto federativo) seguem em tramitação, assim como privatizações e a MP do trabalho verde e amarelo -, junto a esse ímpeto de legitimação da mídia da agenda econômica do governo demonstram uma precaução da burguesia, um certo tensionamento para não despertar aqui no país o mesmo ódio contra a agenda neoliberal que por todo o mundo provoca questionamento ao regime de diversos países.

E esse programa de ataques é de consenso de toda a burguesia, por mais fragmentada que esteja, logo, é diante desse objetivo maior que todos passam a conjunturalmente dar trégua ao governo, se apoiando neste pequeno e temporário crescimento para ampliar o discurso da imperdível "janela de oportunidades" para implementação das reformas e, assim, permitir ao governo conduzi-las.

Porém, outro fator não apontado pela mídia burguesa para a estabilização da reprovação de Bolsonaro, é a atuação das centrais sindicais. As centrais cumprem um papel decisivo para que o pessimismo e a desconfiança ainda predominante na classe trabalhadora não se transforme em revolta. Foi a trégua e a passividade das centrais que assegurou a aprovação da reforma da previdência, fato que se repete agora na votação em diversos estados de seus ataques a aposentadoria dos servidores estaduais. O ódio expresso pelos professores do RS há 20 dias em greve, ou pelos professores do Paraná que se enfrentaram com a polícia e ocuparam a Alep para impedir a aprovação da reforma da previdência, poderia evoluir para um processo nacional de contestação das diversas reformas locais e mesmo para anulação da reforma da previdência de Bolsonaro. Porém as centrais sindicais mantêm as greves isoladas sem batalhar pela coordenação e unificação dessa resistência.

Além disso, a pesquisa por segmentos confirma a prevalência de importantes trincheiras na resistência a Bolsonaro, como é o caso das mulheres (41%); a juventude (41%); os negros (46%); os indígenas (46%); os nordestinos (50%). São esses setores que mais sentem na pele o avanço reacionário desse governo sob seus direitos.

Todos esses setores da sociedade são a comprovação de que a agenda de ataques de Bolsonaro conta com uma forte reprovação. Para que esse rechaço se transforme em revolta, é preciso nos inspirarmos nos mais avançados exemplos internacionais, como a mobilização permanente no Chile, ou a histórica greve geral na França, para exigir das centrais sindicais e entidades estudantis um plano de luta que impulsione a autoorganização dos trabalhadores para barrar por completo os ataques econômicos do governo Bolsonaro junto a suas versões locais.

 
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