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As importantes conquistas da juventude Faísca e do Movimento Nossa Classe na USP
Redação

A juventude Faísca e o movimento Nossa Classe, juntamente com dezenas de estudantes e trabalhadores independentes construíram as chapas Pulso Latino e Pra poder contra-atacar, que ganharam os Centros Acadêmicos dos cursos de Letras e da Faculdade de Educação, e a Chapa 2 - Nossa Classe, que fez uma grande eleição para o SINTUSP, com fortes campanhas em defesa da unidade de todos os lutadores diante do primeiro ano de governo Bolsonaro. Conversamos com Lara Zaramela, Giovanna Maria e Marcello Pablito, que nos contaram um pouco mais sobre essas importantes conquistas.

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No curso de letras da USP, um dos maiores do país, a chapa Pulso Latino venceu as eleições para o CAELL com 38,3% dos votos, depois de 3 anos de gestões petistas que mantiveram o curso em uma grande paralisia, mesmo com o avanço do projeto golpista de ataques, do autoritarismo judiciário que prendeu Lula arbitrariamente, e do primeiro ano do governo Bolsonaro. Como vocês analisam esse resultado?

Lara Zaramella: Desde o início nossa chapa foi construída buscando unificar os setores da oposição de esquerda para podermos debater qual o melhor programa que permitiria os estudantes do nosso curso retomar nosso centro acadêmico como uma ferramenta de organização, já que as políticas burocráticas da antiga gestão, composta por organizações como o PT e o Levante Popular da Juventude, vinha afastando os estudantes da entidade. Infelizmente a maioria dos setores organizados da esquerda, como o Juntos e o PSTU, se recusaram a buscar conformar uma chapa unitária. No entanto, essa proposta foi muito bem aceita, tanto que a chapa Pulso Latino foi resultado dessa convergência de ideias com diversos estudantes independentes do curso, contando também com inúmeros apoiadores.

Toda nossa campanha tinha como eixo central a necessidade de que frente ao governo Bolsonaro, e o enorme ataque que ele representa para as ciências humanas, para a classe trabalhadora e toda população, especialmente para as mulheres, os negros e LGBTs que são maioria em nosso curso, era necessário uma política que buscasse unificar estudantes, professores e trabalhadores para defendermos nossas entidades e organizarmos nossa luta. Nossa chapa tinha um claro posicionamento sobre a necessidade de construir essa unidade para enfrentarmos o governo Bolsonaro e todo projeto golpista de ataques e avanços autoritários contra nossos direitos, de uma forma independente da política conciliatória e meramente eleitoral que o PT vem apresentando ao longo do último período e que as entidades estudantis e também de trabalhadores dirigidas pelo PT - como a UNE e a CUT - fortalecem, não mobilizando suas bases para enfrentar os ataques que estão em curso agora e o governo Bolsonaro. Também temos muito orgulho de termos conseguido dar voz às lutas em curso na América Latina, de forma viva e dinâmica, pulsando a arte, a literatura e a cultura do nosso continente que tanto nos apaixona em nossos estudos. Eu inclusive tive a oportunidade de ir para o Chile como correspondente da juventude Faísca e voltei cheia de energia para nossa campanha, buscando transmitir para meus companheiros de chapa e para todos meus colegas de curso o quão apaixonante é a luta da juventude e da classe trabalhadora daquele país.

Chapa Pulso Latino CAELL 2020

A educação é uma das áreas que o governo Bolsonaro decidiu atacar mais frontalmente, seja com projetos de censura e perseguição aos professores e estudantes, seja com os cortes de verbas e projetos que buscam avançar na privatização do ensino. Dentro desse cenário, como vocês veem a importante conquista de ser eleito para a gestão do Centro Acadêmico da Faculdade de Educação da USP com 46% dos votos?

Giovanna Maria: Escolher estudar pedagogia ou ser professor no governo Bolsonaro é um ato político, essa foi uma das ideias mais fortes que tivemos ao longo de toda campanha. Ainda mais em tempos de grandes ataques como o Future-se, Marco Legal da Ciência e toda uma busca por avançar num projeto de educação cada vez mais mercadológico e produtivista é muito importante ter uma entidade que se coloque abertamente contra esses projetos e defenda uma outra concepção de universidade, uma universidade verdadeiramente a serviço da classe trabalhadora e do povo pobre. Como você apontou, uma entidade que carrega em seu nome o legado de um dos educadores mais atacados pela extrema direita, como é o Centro Acadêmico Professor Paulo Freire (CAPPF), precisa ser também um polo de resistência e organização. Foi por isso, que também fizemos um forte chamado à unidade, pois para nós seria muito melhor se as forças de esquerda que atuam no curso e há anos se apresentam divididas nas eleições, buscassem, frente aos desafios colocados nesse momento, construir uma unidade programática em uma chapa comum para fortalecer nossa entidade, uma proposta que infelizmente não foi aceita pelos outros setores, como a Ação Subversiva e o Afronte.

Temos muito orgulho de ter construído uma chapa cuja maioria dos integrantes eram mulheres, negros e LGBTs, uma chapa com dezenas de estudantes da pedagogia e da licenciatura, mas sabemos que somente a gente não é suficiente frente a tantos desafios, por isso, uma das ideias mais fortes da nossa campanha foi a proposta de proporcionalidade na gestão, uma forma de garantir que as opiniões de cada estudante possa ser expressa na entidade de acordo com o voto. Uma proposta que para nós é elementar como forma de democratizar e fortalecer nossas entidades. Sempre defendemos essa ideia, seja entre os estudantes ou entre os trabalhadores, nos mais diversos momentos. Também nos orgulhamos muito de tanto na Educação, como na Letras, termos colocando muito centralidade na necessidade de defendermos fortemente a permanência estudantil, as cotas étnico-raciais, o acesso diferenciado para indígenas, e a necessidade de que o movimento estudantil busque se ligar com a população de fora da universidade, defendo que a USP se torne de fato uma universidade onde o conhecimento produzido possa estar a serviço da classe trabalhadora e de toda população, com o fim do vestibular e a estatização das universidades privadas. Questionando a estrutura de poder que hoje está colocada, com um reitoria e um conselho universitário que nem sequer deveriam existir, e batalhando por uma estatuinte livre, soberana e democrática que nos permitissem colocar a gestão da USP sob controle dos estudantes, professores e funcionários proporcionalmente ao peso de cada categoria na universidade.

Chapa Pra poder contra-atacar - CAPPF 2020

O SINTUSP carrega uma tradição de luta em defesa da educação pública e dos direitos da população muito importante, num momento de tantos ataques os direitos trabalhistas e a organização política e sindical dos trabalhadores e da juventude, como vocês analisam o processo eleitoral, onde a Chapa 2: Nossa Classe obteve, 32% de votos no total, e 42% no Butantã?

Marcello Pablito: Foi um processo muito intenso para toda categoria de trabalhadores da USP, desde a realização do nosso congresso até o momento das eleições nós tivemos oportunidade de debater muito com o conjunto dos trabalhadores, ouvindo suas opiniões sobre a política nacional e internacional, sobre as condições de trabalho cada vez mais precárias pela falta de contratação, como nos organizamos agora que passou o grande ataque da reforma da previdência e os avanços após a reforma trabalhista, como é a proposta de uma carteira de trabalho verde e amarela, ou as intenções de ataques profundos ao funcionalismo público que Paulo Guedes vem apresentando. Assim como nas campanhas estudantis, no movimento operário também defendemos a necessidade de uma reunião que pudesse debater um programa para unificar todos os lutadores numa chapa comum, fortalecendo nosso sindicato, mas essa proposta foi terminantemente recusada pela Chapa 1: Piqueteiros e Lutadores. E foi nesse marco que encontramos ainda mais abertura para ideia de um sindicato proporcional, onde pudessem estar todos os lutadores da categoria fortalecendo nossa organização, essa proposta foi muito bem aceita não somente entre os votantes da nossa chapa, mas inclusive num importante setor de trabalhadores que votou na chapa 1. Outro elemento que gostaríamos muito de destacar foi nosso resultado no Hospital Universitário, com uma chapa tendo na sua linha de frente as mulheres trabalhadores do HU, obtivemos um importante resultado de 37% dos votos nessa unidade.

Além disso, temos orgulho de historicamente termos sido parte daqueles que sempre defenderam a efetivação dos trabalhadores terceirizados, combatendo essa divisão imposta pela burguesia nas fileiras da nossa classe, uma divisão que atinge sobretudo os negros e negras, que recebem os piores salários e trabalham nas condições mais precárias, esse programa teve muita centralidade como parte das ideias defendidas pela nossa chapa. No país mais negro fora do continente africano, a precarização e a exploração tem rosto negro, os mesmos negros que são impedidos de entrar na universidade para estudar por conta do vestibular, como a Giovanna colocou. Em sua ampla maioria, nós só podemos entrar aqui na universidade para ocupar os postos mais precários de trabalho, enquanto nossas crianças e adolescentes são reprimidos e assassinados pelas mãos dessa polícia racista, como foi no massacre contra os nove jovens em Paraisópolis. É por cada um desses jovens que lutamos. Também nos orgulhamos muito, de mesmo em meio a toda correria das campanhas, termos construído o lançamento do livro “A revolução e o negro”, que busca resgatar um pouco da nossa história de luta e resistência que os bolsonaristas, os capitalistas e toda essa direita racista busca apagar, mas que pulsa em cada pequena expressão da nossa identidade negra no dia a dia, em cada manifestação cultural como é o funk, o rap e os slams, em cada grito de revolta e em cada luta que a juventude e a classe trabalhadora do nosso país protagoniza.

Chapa 2: Nossa Classe

Para finalizar como vocês veem os desafios do próximo ano e quais são as perspectivas entre os estudantes e os trabalhadores?

Lara Zaramella: No próximo ano queremos ampliar a construção da unidade, por isso desde as gestões do CAELL e do CAPPF saímos com uma proposta para unirmos os Centros Acadêmicos da oposição de esquerda para fortalecer o movimento estudantil na USP. Também queremos ampliar a relação das entidades estudantis com a base dos estudantes, o que passa por já começar desde o início do semestre letivo com uma forte calourada, que já vem sendo construída com reuniões abertas com todos os setores dispostos a fazer a melhor recepção para os ingressantes do ano que vem. Uma caloura que possa expressar nossa arte e nossa resistência em toda América Latina, nossas lutas em defesa da educação, e a força das mulheres, dos negros, indígenas e das LGBTs. Queremos também construir as nossas propostas da campanha, com boletins, podcast, revistas, um forte congressos dos estudantes e também pautar a discussão extremamente necessária sobre a proporcionalidade nas entidades.

Giovanna Maria: Só para complementar esses elementos que Lara colocou, queremos colocar nossas gestões a serviço de fortalecer a auto-organização dos estudantes, buscando uma aliança profunda com os trabalhadores de dentro e fora da universidade, com os movimentos sociais e com toda população. Agora é o momento de organizar nossas forças e nos preparar para contra-atacar, e queremos junto aos estudantes da letras, da pedagogia e das licenciaturas fazer do CAELL e do CAPPF ferramentas militantes que sejam polo de organização ao lado dos estudantes, esse é o chamado que fazemos também ao conjunto da esquerda, para que possamos construir juntos essa política em todos os lugares onde estamos, apresentando para os estudantes uma alternativa a burocracia da atual gestão do nosso DCE, a chapa Nossa Voz, dirigida pelo PT, Levante Popular da Juventude e UJS. Vemos que será um ano de muitos desafios, mas seguiremos com muito disposição para fazer aquilo que foi fundamental em nossas campanhas e em nossa atuação ao longo deste ano, ouvir a opinião de cada estudante e construir de forma coletiva nossa resistência.

Juventude Faísca e Movimento Nossa Classe no ato da USP do dia 30 de maio

Marcello Pablito: Em trabalhadores queremos agora fazer uma grande campanha pela filiação em nosso sindicato, fortalecendo a nossa organização sindical. Também iremos construir as eleições para o Conselho Diretor de Base do sindicato e uma grande campanha para que possamos aprovar a proporcionalidade no Congresso Estatutário do primeiro semestre de 2020. Mas não poderíamos terminar essa entrevista sem reforçar um aspecto que foi central em todas essas importantes conquistas que obtivemos esse ano, que foi a enorme aliança que construímos entre os jovens da Faísca e do Nossa Classe, nossa atuação comum em diversos momentos do ano, seja nas lutas, nas atividades sociais, nas reuniões em nossos locais de estudo e trabalho. Com a juventude nos contagiando com sua energia e disposição quando se levantaram e tomaram as ruas contra esse governo, com os companheiros trabalhadores compartilhando sua experiência e tradição para essas jovens geração. Sem dúvidas essas conquistas são fruto dessa potente aliança que viemos construindo e queremos ampliar ainda mais. Somos uma só corrente na USP, que reúne estudantes e trabalhadores, o que é uma novidade na universidade já que a maioria das correntes atuam ou no movimento estudantil ou no movimento sindical de forma muitas vezes separadas. Por isso queremos terminar fazendo um convite para todos os estudantes e trabalhadores que simpatizam com nossas ideias, para que se organizem conosco e venham construir essas batalhas que damos enquanto Movimento Revolucionário dos Trabalhadores, na USP e em todo país, impulsionando a juventude Faísca e o Movimento Nossa Classe, mas também o Quilombo Vermelho e o grupo de mulheres Pão e Rosas, tendo a rede internacional de diários digitais Esquerda Diário como uma ferramenta para expressar a voz das nossas lutas e nossa batalha contra esse sistema de miséria e exploração que é o capitalismo, buscando em cada uma das coisas que fazemos ligá-la com nosso grande objetivo de revolucionar essa sociedade e conquistar um novo mundo, uma sociedade comunista.

 
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