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EDITORIAL MRT
25N: Com a força das mulheres latino americanas e caribenhas lutamos por nenhuma a menos
Maíra Machado
Professora da rede estadual em Santo André, diretora da APEOESP pela oposição e militante do MRT
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Hoje, dia 25 de novembro é o dia em que a América Latina e o Caribe se mobilizam no combate contra a violência às mulheres. Esse dia geralmente é marcado por atos e pronunciamentos que revelam índices alarmantes de violência e denunciam que nosso continente é uma das regiões do mundo mais letais para as mulheres. Nesse momento, milhões de trabalhadores e jovens se levantam em diversos países latino americanos e caribenhos contra a imposição de ataques neoliberais para precarizar ainda mais a nossa vida, nessas batalhas as mulheres assumem a linha de frente no enfrentamento com a repressão do estado e no combate para derrotar os governos e ajustes que se dirigem contra toda a classe trabalhadora e a juventude da América Latina.

Os enfrentamentos abertos da luta de classes percorrem e transformam a América Latina e o Caribe, e deixam ainda mais claro que o estado se utiliza da violência de gênero para tentar calar nossas vozes e impedir com o medo que sejamos protagonistas da mudança da correlação de forças em nosso continente.

No Chile, a polícia herdeira da ditadura de Pinochet, atua sob as ordens de Piñera - que está a frente de um governo em frangalhos e deslegitimado pelas massas - empregando enorme violência física e sexual contra as mulheres que tomam as ruas. Com milhares de prisões e verdadeiras caçadas de participantes dos gigantescos protestos, são inúmeros casos de abuso sexual pelas Forças especiais, Carabineros e militares do Chile, são relatos de maus-tratos, espancamentos, tortura e abuso sexual. Algumas denúncias revelam que meninas foram presas e despidas na frente de homens e que todas as mulheres presas foram tocadas nos órgãos genitais, nos seios e várias tiveram a ponta de fuzis inseridas na vagina, violência acompanhada de ameaça de estupro.

Na Bolívia, as mulheres trabalhadoras e indígenas se enfrentam nos últimos dias com as forças repressivas do golpe de estado, que atua com enorme violência para frear o ódio das massas contra o governo golpista dos capitalistas e de Añez, uma mulher que está a serviço de massacrar ainda mais as condições de vida de toda a população boliviana. O golpe de estado na Bolívia tem um profundo caráter racista e misógino, já que se apoia na Bíblia para demonizar e atacar a cultura dos povos originários, extrema maioria da população boliviana.

Para lutar contra a violência de gênero estatal, que cerca os combates em pleno desenvolvimento em nosso continente hoje e a violência presente no cotidiano de cada mulher latino americana e caribenha é preciso uma forte unidade entre todas as mulheres, trabalhadores, jovens, LGBTs, negros e indígenas para que com uma só voz e um só punho tenhamos força para derrotar os ataques neoliberais e a violência a que somos submetidas. Mesmo com toda a violência estatal, as mulheres chilenas afirmam que o governo roubou tudo que tinham, inclusive o medo. As mulheres bolivianas, marcham aos milhares até La Paz e sem medo enfrentam as forças golpistas.

Mulheres Chilenas, Haitianas, Equatorianas, Porto Riquenhas, Colombianas, Bolivianas tomam as ruas com tamanha força e coragem que nos permite ver um enorme caminho aberto para que também no Brasil possamos enfrentar os ataques do governo de extrema direita e misógino de Bolsonaro. Em nosso continente, nove mulheres são assassinadas por dia, vítimas da violência de gênero. A região, segundo um relatório da ONU Mulheres, é o local mais perigoso do mundo para nossas vidas, fora de uma zona de guerra, o Brasil ocupa o 5º lugar no ranking de violência contra a mulher, ficando atrás apenas de El Salvador, Colômbia, Guatemala e Rússia, além disso, está em 14º em relação à taxa de feminicídios entre os 23 países da América Latina e do Caribe.

No Brasil ocorrem mais de 50 mil estupros por ano, tendo como base apenas os casos que são denunciados, a cada 2 dias uma mulher morre em decorrência de complicações por abortos clandestinos, uma mulher é violentada a cada 12 segundos e assassinada a cada duas horas. Esses números, que já são assustadores aumentaram ainda mais nesse primeiro ano de governo Bolsonaro, um governo que conta com Damares Alves à frente do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, uma mulher que atua cotidianamente contra nossa vida e já chegou a declarar que meninas indígenas são estupradas porque não usam calcinha.

Em dados divulgados pelo 13º Anuário mostraram que no Brasil de Bolsonaro a cada 4 horas, uma menina é estuprada por seu pai, padrasto, tio, primo ou vizinho. Meninas menores de 13 anos compõe quase metade do grupo que sofre violência sexual. De acordo com estatísticas do Observatório da Violência (OBVIO), divulgados no mês de julho de 2019, só no Rio Grande do Norte, 53 mulheres foram assassinadas desde o começo do ano até o dia 24 de julho, sendo desse total 16 feminicídios, dentre esses 15 assassinatos foram cometidos pelos parceiros atuais das vítimas. Em São Paulo, governado por Dória, vemos um alarmante aumento de 44% dos casos de feminicidio só esse ano, uma realidade presente em todos os estados do país, com governos ajustadores e alentados pelo discurso machista do presidente de extrema direita, que dá carta branca para que a violência doméstica siga aumentando.

Há pesquisas que apontam que três em cada cinco mulheres já sofreram violência doméstica, a cada minuto 7 mulheres buscam atendimento e socorro para violência que sofrem dentro de casa. A violência contra as mulheres que se mostram nesses dados, são impulsionadas pelo estado e por uma política de governo que quer submeter às mulheres trabalhadoras, negras e indígenas às piores condições de vida, descarregando sobre nossas costas o peso da crise capitalista mundial.

O Brasil de Bolsonaro, marcado pela aprovação da Reforma da Previdência, quer impor às mulheres que já cumprem duplas ou triplas jornadas de trabalho, que tenhamos que trabalhar até morrer nas piores condições e com os piores salários. O governo capacho do imperialismo norte americano, quer aprofundar a Reforma Trabalhista, ataca as mulheres com a violência do trabalho precário e quer avançar até mesmo para acabar com o direito à licença maternidade, afirmando através do Tribunal Superior do Trabalho (TST) de que o direito de estabilidade por gravidez não se aplica para as mulheres que trabalham sob contrato temporário.

Essa decisão absurda do TST mostra a arbitrariedade do judiciário que atua para legitimar os ataques capitalistas e também desnuda a difícil realidade das mulheres negras brasileiras, que já ocupam os piores postos de trabalho, são vitimas dos contratos temporários, chegam a receber 60% a menos que os homens brancos e são as mais afetadas pela violência de gênero. Em nosso país, a violência contra as mulheres atinge principalmente as mulheres negras, já que de modo geral a população negra é a principal vítima de homicídios e sofrem com a violência policial cotidianamente. Em relação aos feminicídios, entre as mulheres negras aumentou 54,2% em dez anos (de 2003 à 2016). Além disso, o Brasil é o país do transfeminicídio - recorde de assassinatos de pessoas trans pelo simples fato de assumirem sua identidade orgulhosa e de violências homofóbicas.

A violência contra as mulheres negras em nosso país, conta com as forças repressivas do estado como grande protagonista, para derrota-la precisamos nos embandeirar do espírito de combate das mulheres haitianas que lutam hoje contra os ataques à suas condições de vida, e que historicamente tem lutado contra o racismo estrutural naquele país, inclusive no momento em que as tropas brasileiras ocupavam o Haiti, durante os anos de governo do PT e tinham como objetivo ajudar o imperialismo a esmagar a luta de classes aguda que se desenvolvia naquele instante. Por isso dizemos que Marielle Franco está viva em nossas lutas e que seu assassinato segue sendo uma ferida aberta do golpe institucional, a cada dia novas evidências mostram que a família Bolsonaro está envolvida de alguma maneira nesse assassinato político. Também é expressivo o aumento do número de jovens pobres e negros assassinados pela polícia, uma das vítimas fatais da polícia assassina do Rio de Janeiro, sob o comando do ultra direitista de Witzel, foi Agatha, uma menina negra de apenas 8 anos.

Por Marielle e Agatha, por cada menina violentada em nosso país, por cada mulher que sofre com a violência machista gritamos nesse 25 de novembro: nenhuma mulher a menos! Junto a cada mulher que nesse momento se levanta na América Latina, com o espírito de todas as mulheres chilenas que perderam o medo, de cada indígena e trabalhadora boliviana que não se cala frente ao golpe de estado, das mulheres haitianas e seu combate insurrecional contra o racismo e os ataques capitalistas, nos colocamos na linha de frente para enfrentar Bolsonaro, seus ajustes e a tentativa de avanço do imperialismo na América Latina.

Lutamos no Brasil em cada local de trabalho e estudo para que os sindicatos e entidades estudantis levantem com toda a força as bandeiras das mulheres, nos apoiando no enorme levantamento de mulheres que tem percorrido o mundo durante todos os últimos anos, em defesa da unidade entre mulheres e homens, negras e brancas, junto à juventude e as LGBTs para que com um só punho possamos combater a violência de gênero e todos os ataques capitalistas.

Defendemos um plano de emergência de combate à violência as mulheres no Brasil, que deve ser tomado por toda a esquerda e seus parlamentares, esse plano deve estabelecer políticas que devem ser garantidas pelo Estado, como auxilia financeiro, casas abrigo e um plano de moradia às milhares de famílias sem teto; todo apoio a vitimas de violência, com equipes especializadas de médicos e psicólogos e dispensa do trabalho e estudo para as vítimas de violência. Além de medidas que combatam a precarização do trabalho e da vida, exigindo a revogação da reforma trabalhista e da previdência e o fim da terceirização do trabalho com a incorporação de todos os terceirizados ao quadro efetivo de funcionários, lutando pela igualdade de direito e salário entre todos os trabalhadores, homens e mulheres.

Aqui no Brasil, no Chile, na Bolívia, na Argentina, no Uruguai, na Venezuela, no México, na Alemanha, nos Estados Unidos, no Estado Espanhol e na França construímos o grupo internacional de mulheres Pão e Rosas e nos irmanamos com a força da resistência aos ataques às nossas condições de vida, que se mostram de maneira apaixonante no continente latino americano e caribenho, preenchido de energia revolucionária para enfrentar o capitalismo. Impulsionamos o Esquerda Diário, que conta com a sessão de gênero e sexualidade para dar voz e impulsionar nossa luta, em cada lugar lutamos pelo nosso direito ao pão e também às rosas.

 
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