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ELEIÇÕES NO ESTADO ESPANHOL
PSOE vence as eleições espanholas sem avançar em uma saída definitiva para a crise
Redação

PSOE vence sem resolver a crise de governabilidade. Unidas Podemos segue oferecendo o governo de coalizão e fazer parte de um fechamento por cima da crise do regime. Vox emerge e seguirá marcando a agenda. A crise catalã se mantém aberta. Que esquerda necessitamos para os desafios que vêm?

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Com 99,8% dos votos já contados, o PSOE ganhou as eleições gerais - com 28% dos votos -, mas sua aposta para repetir resultados anteriores não saiu como este esperava. Sua vitória não consegue melhorar os resultados de abril. Pedro Sánchez fica com três deputados. Tampouco alcançaria, ou com muitas dificuldades, o outro grande objetivo: uma reconfiguração do Parlamento que o permitiria chegar aos 176 votos sem ter que contar com nenhuma força independentista catalã. O que já conseguiu é o enorme crescimento da extrema direita, impulsionada pelas políticas e discursos reacionários contra a Catalunha que Sánchez esteve fazendo nestes meses.

Uma crise de governabilidade que vem para ficar

Apesar de que a chamada “esquerda da mudança” voltou a piorar seus resultados, sua vontade de chegar em um acordo com o PSOE se mantém intacta. Unidas Podemos perde 7 deputados, ficando com 35, e Más País entra com 3 cadeiras - um deles que já tinha o Compromís -.

Seus 38 votos foram oferecidos a Sánchez. Iglesias fez isso em sua primeira aparição, na qual insistiu em sua proposta de um governo de coalizão. E esse governo pode agora, na ausência de outra opção, ser aquele em que a maior parte do establishment apostará a partir de amanhã.

Se o PSOE aceita a oferta de Unidos Podemos e consegue somar aos de Más País, 7 deputados do PNV, o do PRC de Revilla, os 2 da Coalizão Canaria -Nova Canaria, o de Teruel Existe, o da Coalizão por Melilla e os que obtiveram as forças agrupadas no “Agora Repúblicas”- 5 do EH-Bildu e o deputado da BNG-, poderia chegar a 176.

Um resultado ajustado que, se não consegue combinar todos estes sócios variados, deixaria a bola no telhado da ERC, que deveria ao menos se abster. Algo que, visto o curso dos republicanos catalãs de volta à gestão da autonomia, é possível mas não livre de contradições pelo giro ultra espanholista de Sánchez nas últimas semanas.

Não chegarão? Pode ser, ou pode ser que não. Porém, mesmo que a investidura desta vez consiga avançar, o governo saliente, com o apoio de uma dezena de formações, uma nova crise econômica no horizonte imediato e a crise catalã aberta, não será o governo “forte” que Sánchez e a CEOE fantasiaram quando provocaram segundas eleições.

A extrema direita entra em cheio na luta pela hegemonia da direita e a definir a agenda

A grande novidade da noite foi a grande subida de Vox que dobrou seus resultados, chegando aos 52 deputados, superando o PP em zonas como Andalucía e, inclusive, chegando a ser a primeira força em outras como Murcia.

A extrema direita chega ao fim da radicalização alimentada pelos PP e Cs, mas também pelo PSOE. Especialmente na questão catalã, mas também em outras como a criminalização da imigração. Não esqueçamos que a maneira de responder de Sánchez a Abascal no debate sobre este último tema foi querer competir com ele para ver quem havia expulsado mais imigrantes.

O PP se recupera do seu pior resultado histórico de abril, subindo para os 87 deputados. Uma melhora que, dado o ascenso do seu competidor verde pela direita, passa como uma vitória amarga. Apesar de que o Cs sofre um colapso sem precedentes, até os 10, a guerra pela hegemonia da direita se mantém aberta, ainda que agora reduzida a dois oponentes. Isso coloca uma dificuldade extrema para Casado e Sánchez poderem ensaiar alguma fórmula de pacto do velho bipartidarismo. O PP não vai querer facilitar para que Vox conclua a ultrapassagem que começou em muitas províncias.

Iglesias, Errejón, Colau e Baldoví concordaram que a única maneira de impedir a ascensão da extrema direita é um governo de coalizão com o PSOE. Eles ignoram, novamente, que o que tem mais impulsionou Vox foram as políticas e discursos de direita, os quais Sánchez elogiou na cara dura nas últimas semanas, especialmente na questão catalã. Um governo com o partido do 155, o IBEX35 e as políticas de ajuste quando a crise as demanda -como fez Zapatero- seguirão pavimentando o caminho para o fortalecimento da direita populista.

A crise do regime seguirá aberta: que esquerda necessitamos?

A principal rachadura da crise do Regime de 78 segue aberta. Apesar da queda de participação de 5 pontos, o independentismo catalão conserva o número de votos -mais de 1,6 milhões- e sobre um deputado no Congresso. ERC baixa 2, mas o JxCat recupera 1 e a CUP consegue entrar no Parlamento com 2 cadeiras. Uma constatação de que, apesar da brutal repressão e, como vimos nestas semanas nas ruas, as aspirações democráticas catalãs seguem vivas.

Para além disso, os 240.000 votos da CUP chegaram em uma opção que se apresentava criticando o Governo e seus partidos pelo seu retorno ao autonomismo e pelo papel que tiveram na repressão, e que se opuseram abertamente a lógica do “mal menor” de apoiar o PSOE, da qual toda a esquerda reformista espanhola é tributária.

As forças soberanas também aumentam no País Vasco, tanto PNV quanto EH-Bildu somam um deputado a mais, e na Galícia o BNG consegue entrar com 1. A ofensiva recentralizadora que vem sendo aplicada pelo bloqueio monárquico, no último tempo com o PSOE a frente, encontra nesses fenômenos um obstáculo maiúsculas para impor-se sem seguir incentivando novos episódios de crise e desafios para o Estado.

Além dessa agenda centralizadora e autoritária, o PSOE está comprometido com a agenda do ajuste pendente. As contrarreformas que tanto a patronal como a UE consideram que tem que aplicar no Estado Espanhol, e que as perspectivas de uma nova crise se fazem ainda mais urgentes. Falamos de novos pensionazos, reformas trabalhistas e ataques como a “mochila austríaca”.

Se alguém pensa que o acordo com a Unidas Podemos e com o Más Madrid poderá modificar esta agenda, tem que ver seus referentes internacionais, desde Tsipras na Grécia até Lenín Moreno no Equador. Quando vão mal, o neo-reformismo ou o populismo de esquerda não hesitaram em aplicar as mesmas receitas da Troika ou do FMI que os governos da direita ou do "extremo centro".

O que temos adiante será um governo que continuará com o curso autoritário, recentralizador e de ajuste. Um governo que não hesitará tampouco em seguir sendo o advogado das multinacionais espanholas no estrangeiro e apoiará passiva ou ativamente governos reacionários como de Piñera no Chile ou golpes como o de Guaidó, ou o que está em curso agora na Bolívia.

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O que precisamos é justamente de uma esquerda que se prepare para enfrentá-lo e não para ser seu sócio. Que marque com uma linha vermelha a independência política dos partidos do regime, começando pelo que se propõe agora a governar, e levante um programa anticapitalista e de luta contra o Regime de 78.

A CUP, com suas novas posições nas Cortes, estará em uma posição favorável para poder começar a trabalhar por um agrupamento deste tipo, e descartar qualquer retorno aos pactos com o processismo. Grupos como Anticapitalistas deverão definir se querem seguir dentro de um partido que se prepara para entrar no Conselho de Ministros dos sociais liberais do PSOE, ou se decidem romper e começar a construir esta alternativa. Desde a CRT seguiremos trabalhando nesta direção, o único caminho possível para poder enfrentar o governo que está por vir e as tentativas de impor-nos uma crise por cima da crise do regime.

 
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