O ex-assessor de Flávio Bolsonaro, exonerado há 8 meses e suspeito de envolvimento com milícias no RJ, Fabrício Queiroz parece ser um arquivo vivo das relações umbilicais da família Bolsonaro com as milícias e de desvio de dinheiro público.

É investigado pelo Ministério Público do Rio pela prática de “rachadinha”, alocando servidores em cargos parlamentares sob a condição de que parte do salário seja devolvido. Ele esteve no gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio entre 2007 e 2018 e, no período, emplacou sete parentes na estrutura, tendo livre poder de nomeação de assessores. Sua mulher, duas filhas, a enteada, uma ex-cunhada, entre outros familiares foram nomeados no período em que atuava na Alerj. Há suspeitas de que o dinheiro obtido dessa forma tenha sido usado indiretamente na campanha de Bolsonaro e outros 7 políticos cariocas, por meio de lavagem de dinheiro.

Desde então, a família Bolsonaro diz não ter mais contato com o ex-assessor. Depois de meses sem saber o seu paradeiro, descobriu-se que estava em São Paulo tratando de um câncer, a princípio afastado da política.

No áudio revelado, referente ao mês de Junho deste ano, indica, no entanto, que Queiroz segue próximo do governo, sendo parte da negociação de cargos políticos em gabinetes e comissões parlamentares. Menciona especialmente o gabinete de Flávio Bolsonaro, senador que nega mantem contato com Queiroz desde o final do ano passado ou aceitado qualquer indicação dele.

Transcrição do áudio, que pode ser ouvido aqui.

[“Tem mais de 500 cargos lá, cara, na.... na Câmara, no Senado. Pode indicar pra qualquer comissão, alguma coisa, sem vincular a eles em nada, em nada. 20 continho pra gente caia bem pra c*** mesmo, entendeu? [...] Não precisa vincular um nome, chega lá. Pô cara, o gabinete do Flávio faz fila de deputados e senadores, de pessoal pra conversar com ele. [...] Pô é só chegar, mermão, nomeia fulano pra trabalhar contigo aí. Salariozinho bom desse daí, cara, pra gente que é pai de família, p***, cai igual uma uva”]

Enquanto Bolsonaro celebra a aprovação da reforma da previdência e anuncia uma nova bateria de ataques à classe trabalhadores, sobretudo aos serviços públicos, desobrigando gastos com saúde e educação, e atacando o funcionalismo, esse novo áudio mostra que sua família segue apegada à tradicional velha política, enriquecendo parentes e amigos nos seus 28 anos de carreira política.

Esse vazamento de áudio por parte do Globo se insere numa série de disputas entre os atores do regime político, sobretudo após as recentes rupturas de Bolsonaro com a Lava-Jato, que levou a uma crise interna no PSL.

Por isso, devemos apenas confiar na luta de classes, como demonstram o chilenos, para derrotar Bolsonaro, sem nenhuma confiança que qualquer variante golpista do Judiciário, se vier a aprofundar as investigações contra a sua família, pois tem o mesmo interesse que ele na aprovação da reforma da previdência e novos ajustes.