Organizações de trabalhadores, estudantes e movimentos sociais realizaram coletiva de imprensa para convocar à greve geral para esta quarta e também quinta, buscando a paralisação total das atividades produtivas.
Na conferência do Coletivo Unidade Social, participaram organismos como a Central Unitária dos Trabalhadores (CUT), União Portuária do Chile, CONFUSAM, Colégio de Professores, Federação de Trabalhadores do Cobre (FTC), Confech, Coordenadora de Trabalhadores NO+AFP, entre outros.
De acordo com o documento lido, a greve será com mobilização na quarta-feira. Com marchas desde a central Praça Itália, em Santiago do Chile, e nos locais definidos em cada uma das regiões.
Na quinta-feira, a atividade será de concentrações, panelaços e assembleias.
As exigências são:
- 1) Revogação imediata do estado de emergência e o retorno dos militares aos quartéis.
- 2) Que os parlamentares efetuem uma greve legislativa e que, enquanto dure o estado de emergência, não se trate de nenhum projeto de lei.
- 3) A retirada dos projetos de lei que afetam o povo chileno. Pensões, reforma tributária, TTP 11 etc.
- 4) Implementação de um pacote de medidas de emergência.
- 5) Assembleia Nacional Constituinte para que se elabore coletivamente um novo marco estrutural e que abra passo a um novo modelo de desenvolvimento nacional que ponha fim ao atual modelo neoliberal.
- 6) Rechaçamos as declarações de Piñera de que "está em guerra" contra o povo do Chile, Exigimos sua renúncia.
Os mineiros também
O chamado vêm após vários dias de repressão brutal pela polícia e os militares, com centenas de feridos e presos, e ao menos uma dezena de mortos com as operações dos Fuzileiros.
Segunda-feira se escutou com força o chamado à paralisação geral por parte dos trabalhadores portuários que pararam os 20 portos mais importantes do país.
De sua parte, os trabalhadores da mina de cobre La Escondida, a mais importante do mundo, se juntaram ao chamado contra a repressão do Governo e os abusos empresariais.
"Nossa organização sindical não aceitará abusos nem repressão dos empresários nem de seu Governo, especialmente quando a repressão afeta até os filhos de trabalhadores que se manifestam contra um sistema injusto que foi imposto pelos que hoje governam". Assim afirmas as e os trabalhadores pertencentes ao principal sindicato da Mineradora Escondida, em seu comunicado oficial.
O comunicado emitido pelo Sindicato aponta além disso: "Chamamos todos os trabalhadores mineiros de nosso país a se manifestarem em protesto pela repressão exercida contra o Povo e contra os abusos empresariais."
Fracasso da política de Piñera
Piñera fracassou na terça-feira com a política de unidade com toda a oposição. Tanto o Partido Socialista (PS) como o Partido Comunista (PC) não participaram da reunião promovida pelo Secretário da Presidência, Gonzalo Blumel, a todos os partidos políticos da "Oposição" - incluindo a Frente Ampla. O objetivo das reuniões era desbloquear as massivas manifestações que vem se desenvolvendo contra o estado de emergência e o toque de recolher em nível nacional.
No caso do PS, eles ainda emitiram uma declaração que explica a ausência na instância, enquanto no caso do PC, o fizeram através de seu presidente, o deputado Guillermo Teillier, que disse ter recebido o convite do ministro Blumel apenas às 10h de hoje, mas que desconsiderava a instância, levando em consideração o contexto repressivo.
"Curiosamente, hoje de dia, às 10 horas da manhã, chegou um convite do Governo e também recebi um chamado do ministro Blumel onde me convida", disse o deputado, adicionando "não se escuta os movimentos sociais e prefere se fazer isso em La Moneda (...) sem saber se haverá definições claras e precisas", de acordo com a mídia Radio Bio Bio.
A encruzilhada frenteamplista ante a militarização e a repressão
No caso da Frente Ampla (FA), existe uma importante divisão no interior do conglomerado cidadanisa, onde de acordo com o meio "El Desconcierto", os partidos Revolução Democrática (RD), Comuns e Convergência Social (CS), que há algumas horas ainda avaliavam a possibilidade de participar da reunião com o presidente Piñera, considerando que o governo tem sustentado sua linha repressiva com o Estado de emergência e os toques de recolher, decidiram se retirar totalmente da instância.
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Não ao pacto social com o governo assassino e antidemocrático
É inaceitável sequer pensar sentar-se com um Governo responsável por mais de 15 pessoas mortas em todo o país, e que segue reacionário em sua linha repressiva e criminalizante com os protestos sociais, onde militares e policiais têm agredido e violentado de maneira permanente as dezenas de milhares que gritam em alta voz "que se vayan los pacos y milicos de las calles" [que saiam os camburões e militares das ruas].
Os trabalhadores portuários, na segunda, e também os mineiros, deram uma pequena mostra da forma com que realmente se pode derrotar não apenas o estado de emergência e a repressão, como também o próprio Governo Piñera e todo o regime podre: com as mobilizações e a paralisação dos portos e da atividade mineira.
A greve geral como método do povo trabalhador é o caminho para tirar os Fuzileiros e militares das ruas, acabando com o estado de emergência e os toques de recolher, tombando esse governo indolente e miserável. A necessidade de uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana, baseada na mobilização, se faz latente para dar uma resposta estrutural à enorme crise que o Chile vive atualmente, contra as soluções de remendos e migalhas que o governo encurralado procurará entregar.
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