No domingo a noite, enquanto a tendência das bocas de urna estabelecia uma diferença menor que 5% entre o primeiro e o segundo lugar, dando por garantida o inevitável segundo turno pelo caráter praticamente irreversível desta tendência, o Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) interrompeu de forma inesperada e inconveniente o Sistema de Transmissão de Resultados Eleitorais Preliminares (TREP). Isso provocou denúncias do candidato da oposição, Carlos Mesa da Comunidad Ciudadana (CC) que já festejava o segundo turno, convocando os comitês de civis, partidos políticos e a Conade (Comitê Nacional em Defesa da Democracia), a ir a todos os centros de computação dos tribunais eleitorais para impedir que se concretizasse uma fraude e se repita um 21F, fazendo alusão ao plebiscito do 21 de fevereiro de 2016, no qual Evo Morales perdeu a tentativa de reforma constitucional para habilitar uma nova reeleição e logo se recusou a reconhecer este resultado eleitoral por meio de uma Decisão Constitucional.
Após retomar a contagem de votos, 15 horas depois, e em meio a vários incidentes que fazem suspeitar fraudes como a aparição de milhares de atas e urnas seladas em um apartamento privado na cidade de Potosí, a tendência se inverteu rapidamente dando o triunfo ao binômio oficialista com uma diferença superior a 10% em relação ao segundo, Carlos Mesa.
Frente a esta situação, a Missão da OEA em seu comunicado declarou que “manifesta sua preocupação e surpresa pela mudança drástica e difícil de justificar na tendência dos resultados preliminares tornados públicos após fechamento das urnas”. Assim mesmo chama a “manter a calma e evitar atos de violência”. No entanto, assim que se tornaram públicos os resultados do TSE que davam como ganhador Evo Morales, rapidamente começaram a se concentrar multidões nos diferentes recintos eleitorais departamentais do país. Carlos Mesa declarou não reconhecer os resultados do TSE e chamou a população a “defender o voto”. Neste sentido, a Conade está convocando uma junta de emergência e uma paralisação indefinida com bloqueio de ruas difundidos pelas redes sociais e alguns meios televisivos, mensagens à população para tomar mantimentos e se abastecer de alimentos.
Grupos do oficialismo também se concentraram para festejar o “triunfo oficialista” ao mesmo tempo que dirigentes da COB (Central Operária Boliviana) e de diferentes organizações sociais próximas ao governo como a Codelcam (Coordinadora Departamental por el Cambio) ameaçavam se mobilizar para defender os votos que lhes deram o triunfo.
Em meio a alguns enfrentamentos nas diversas vigílias dos tribunais eleitorais departamentais e nacional, grupos oficialistas e opositores se afrontavam entre gritos “se sente, se sente, Mesa presidente” e “se sente, se sente, Evo presidente”. Uma centena de policiais foram transferidos para a cidade de Potosí e outros foram colocados a postos nos quartéis. Em altas horas da noite, grupos opositores se mobilizavam colocando fogo em latões de lixo nas proximidade do Tribunal Supremo Eleitoral.
As manifestações rechaçam o que em amplos setores da população foi qualificado como uma fraude descomunal. Abriu-se uma profunda crise política cujo resultado é incerto já que ainda que não tenha existido nenhum tipo de fraude, por mais ações irregulares evidentes, a diferença obtida de 10% é políticamente insustentável e pode se transformar em uma fonte de crise permanente para a governabilidade de Evo Morales e García Linera.
Enquanto esta nota foi escrita, o Tribunal Supremo Eleitoral da cidade de Sucre foi incendiado após uma massiva mobilização com os gritos “abaixo a fraude”.
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