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PROTESTOS NO CHILE CONTRA PIÑERA
Erupção de revolta dos jovens e trabalhadores no Chile: nova ameaça a Bolsonaro na América Latina
André Barbieri
São Paulo | @AcierAndy
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Depois das mobilizações massivas dos trabalhadores e indígenas do Equador, que obrigaram o governo neoliberal direitista de Lenín Moreno revogar o pacote de ajustes negociado com o FMI, a luta de classes explode no Chile contra o aumento das tarifas do transporte e a precariedade das condições de trabalho, impostas pela patronal e pelo governo direitista de Sebastián Piñera. A população trabalhadora na América Latina vem colocando contra a parede os amigos regionais de Bolsonaro na América Latina, e como dissemos em outra ocasião, soam um alerta à extrema direita em nosso subcontinente.

Os protestos no Chile irromperam como um rastilho de pólvora: a princípio, o estopim foi o aumento das tarifas do transporte metroviário, já altíssimas num país em que mais de 50% da população recebe um salário mínimo (quase 20% do salário é absorvido por tarifas de transporte). A explosão social teve como epicentro a capital Santiago: as tarifas e contas sobem, os salários nunca aumentam, e as condições de trabalho são cada vez piores. Depois que o governo Piñera respondeu instalando um estado de exceção na capital e outras regiões – deixando estas zonas nas mãos das Forças Armadas comandadas por Javier Iturriaga – a chama da luta de classes se estendeu para distintas cidades do país: Concepción, Antofagasta, Valparaíso, Arica, Iquique, entre outras. Essa raiva social acumulada se dirigiu não já apenas ao aumento das tarifas, mas contra a prepotência política de um governo que “roubou tudo da população, até o medo”, como dizem os manifestantes.

Jovens chilenos pulando catracas no metrô de Santiago

Jovens pulam catraca na região de Puente Alto, alvo do estado de exceção

O governo tentou dissuadir e intimidar os protestos, militarizando Santiago com soldados armados com fuzis de guerra e seus veículos blindados, sob a proteção da pinochetista Lei de Segurança Interior do Estado, apresentada pelo ministro do Interior Andrés Chadwick. Não conseguiu. Milhares foram às ruas e praças enfrentar as forças repressivas, que são o braço armado dos ajustes neoliberais do governo. As imagens da população desafiando o estado de exceção percorrem o mundo – ao mesmo tempo em que a população da Catalunha, no Estado Espanhol, desafia a repressão policial e inunda as ruas exigindo a libertação dos presos políticos.

Ver aqui: Abaixo o estado de emergência no Chile!

Muitos jovens, não apenas secundaristas, saíram às ruas: vários dos quais foram parte das históricas batalhas em defesa da educação pública em 2011. Muitas famílias, pais e mães, aderem aos chamados às manifestações. Panelaços foram ouvidos nos quatro cantos do Chile, inclusive em bairros acomodados, ampliando a simpatia da população com as reivindicações de jovens e trabalhadores, que preparam jornadas nacionais de paralisação para os próximos dias – o Sindicato dos Estivadores Portuários já enviou comunicado chamando a organização uma greve geral para derrubar os ajustes de Piñera.

Massivo protesto em Valparaíso

Enfrentamento contra a polícia em Antofagasta

Piñera, assim como o equatoriano Lenín Moreno, é um amigo íntimo de Bolsonaro: o neandertal da extrema direita brasileira foi pessoalmente ao Chile saudar o presidente, e com ele bateu continência ao ex-ditador Augusto Pinochet, sanguinário déspota que torturou e assassinou dezenas de milhares de pessoas entre 1973 e 1990. "Se não fosse o pessoal do Pinochet derrotar a esquerda em 1973, entre eles o teu pai, hoje o Chile seria uma Cuba”, disse Bolsonaro em setembro.

Ao longo de sua trajetória como deputado federal, assim como fez com o regime militar brasileiro, Bolsonaro defendeu o governo de Pinochet em diversas ocasiões, afirmando, em pronunciamentos ou entrevistas, que o ex-ditador "fez o que tinha que ser feito" ou que "devia ter matado mais gente".

E é justamente contra essa herança que a juventude e os trabalhadores chilenos saem às ruas, exigindo o fim do estado de exceção e a abolição da Lei de Segurança Interior do Estado, ambas criadas durante a ditadura pinochetista.

É inevitável recorrer à imagem de que um espectro desconfortável para Bolsonaro percorre a América Latina. As explosões tão recentes da luta de classes no Equador e no Chile transmitem a milhões de pessoas em todo o subcontinente o verdadeiro método para derrubar os ajustes neoliberais, direta ou indiretamente comandados pelo FMI. A reforma trabalhista de 2017 e a reforma da previdência de 2019 (para não mencionar as inúmeras privatizações, a maior entrega do petróleo da história, etc.) adornam o pescoço do bolsonarismo; ainda assim, é um pescoço vulnerável às ondas de protestos que atravessam o subcontinente.

É notável a dificuldade da direita neoliberal na região emplacar seus ataques à população. Depois do Equador, o que ocorre no Chile é mais um símbolo da crise dos governos da direita na América Latina, que fracassaram em toda a linha em dar uma resposta à crise econômica mundial e às péssimas condições de vida. Essa crise da direita regional está estreitamente vinculada aos problemas enfrentados por Donald Trump e sua “internacional direitista”: Salvini não prosperou em sua aposta política na Itália, Netanyahu não consegue formar governo em Israel, Viktor Orbán foi derrotado nas eleições na Hungria, e Boris Johnson é um pateta que vê minguar sua política de Brexit agressivo. Em nossos arredores, a derrota de Mauricio Macri nas eleições primárias argentinas, a derrubada de Rosselló em Porto Rico e a crise estatal no Peru são sinais de que há limites para o giro à direita na América Latina.

Os amigos de Bolsonaro, portanto, não vivem dias fáceis. E o próprio tem suas crises particulares a encarar, vide a fissura interna no PSL e a avidez do clã bolsonarista pelos milhões do Fundo Partidário em meio à queda de popularidade do presidente.

Diante desse cenário, vale embaralhar a hipótese acerca de que, se em países como Equador e Chile os ajustes são enfrentados pelas massas previamente à sua aplicação, no Brasil uma explosão social - para nada descartável, dados os altos índices de desemprego - possa incendiar o país como forma de derrubar ajustes agravados desde o golpe institucional.

De todo modo, estes exemplos internacionais são a base sobre a qual pode se desenvolver uma esquerda com um programa anticapitalista, socialista e revolucionário, contra as burocracias sindicais e dos "movimentos" - mecanismos do Estado ampliado para organizar o consenso - que tentam travar essa auto-organização. Essas burocracias, como a da Confederação das Nacionalidades Indígenas do Equador (CONAIE), jogam a favor de soluções pactuadas com o governo e os capitalistas, organizando o consenso burguês no movimento de massas e contendo a irrupção da luta de classes. No Equador, a CONAIE busca negociar com a classe dominante em base à suspensão das mobilizações que derrubaram o decreto 883 (nem sequer exigiram a liberdade dos presos políticos). No Chile, as burocracia do Partido Comunista e da Frente Ampla não convocaram uma paralisação nacional contra os ajustes de Piñera, mesmo com feridos e presos na manifestações. Essa conduta lembra, sem dúvida, a condução burocrática do PT nos movimentos sindicais e sociais, utilizando a CUT para frear a luta contra o golpe institucional, os ataques da extrema direita e do autoritarismo judiciário da Lava Jato e do STF.

Não podemos confiar naqueles que querem negociar nosso futuro: ou se está do lado das massas latinoamericanas em luta, ou do lado do FMI e dos governos.

Somente a auto-atividade das massas trabalhadoras e da juventude, coordenando-se e impulsionando organismos de auto-organização de massas, pode enfrentar seriamente os ataques com os métodos da luta de classes. Não há espaço para conciliação com a burguesia ajustadora.

O Chile está em chamas, e a juventude em luta precisa vencer. O Partido dos Trabalhadores Revolucionários (PTR), organização irmã do MRT no Chile e que impulsiona a rede internacional de diários La Izquierda Diario, está colocando todas as suas energias, sua presença nas universidades, nas escolas, nas fábricas e em cada local de trabalho, para impulsionar esta alternativa política anticapitalista e socialista, batalhando pela revogação do estado de exceção, a derrubada do "tarifaço" de Piñera, e por uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana baseada na mobilização, em que a população trabalhadora e a juventude possam decidir tudo, tocando a estrutura econômica do país, e abrindo caminho à percepção de que só é possível aplicar essas medidas com um governo dos trabalhadores de ruptura com o capitalismo.

 
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