Entre as que já decidiram em seus conselhos internos pela não adesão estão as maiores e mais tradicionais federais, como a de São Paulo (Unifesp), do Rio de Janeiro (UFRJ), de Minas Gerais (UFMG) e de Brasília (UnB). O levantamento foi feito pelo jornal O Estado de S. Paulo em consultas às 63 universidades.
Reitores já dão como certo que o programa não será implementado como foi apresentado. No mês passado, em entrevista ao jornal, o ministro Abraham Weintraub chamou dirigentes que criticavam o Future-se de "pessoal militante politicamente" ligado ao "PSTU, PSOL, PT". Para ele, o programa, de adesão voluntária, contaria com um quarto das federais.
A maior crítica das instituições é sobre possível perda da autonomia acadêmica e financeira porque os contratos de trabalho ou para pesquisas seriam fechados por meio de OSs. "Não sabemos quais serão os objetivos das organizações sociais, os projetos podem passar a estar subjugados ao que dá lucro. Que mercado vai querer financiar doenças negligenciadas, por exemplo?", indaga a reitora da Unifesp, Soraya Smaili.
Segundo ela, a Unifesp não é contrária a diferentes formas de captação de recursos, desde que "garantido o recurso público para o funcionamento das instituições". Documento aprovado pelo Conselho Universitário da instituição, que abriga a Escola Paulista de Medicina, uma das mais conceituadas do País, diz que o Future-se "possui diversas fragilidades e riscos" e, por isso, é "inaceitável".
Nesta semana, Weintraub declarou que as instituições que aderirem ao Future-se teriam de contratar professores por regime de CLT (carteira assinada) e não mais por concurso público. Para boa parte dos reitores, a informação se tornou mais uma razão para não participar do programa.
"Nosso trabalho é o oposto, é buscar a dedicação exclusiva do professor para garantir que ele dê aulas e faça pesquisa", diz a reitora da Federal de Alagoas (Ufal), Valeria Correa. A Ufal não divulgou um documento final sobre o assunto elaborado pelo Conselho Universitário, mas tem criticado o programa.
O levantamento do jornal mostra que 34 das 63 universidades federais (54%) rejeitam o projeto de alguma forma. São 27 que já decidiram em seus Conselhos Universitários por não aderir à proposta e outras sete que ainda vão concluir um documento, mas criticam o Future-se. Outras 27 ainda não tomaram uma decisão ou não pretendem se manifestar até que haja um projeto de lei. Duas não responderam à reportagem e também não publicaram posicionamento a respeito do programa.
As universidades enfrentam contingenciamento de 30% de seus orçamentos e cortes em bolsas. Weintraub já disse considerar que há "balbúrdia" nas instituições e elas recebem dinheiro demais para fazer pouco.
Todos esses ataques brutais de Bolsonaro à educação fazem parte de um projeto de país maior que não se descola em um centímetro de seu objetivo de descarregar nas costas dos trabalhadores e da juventude a crise capitalista. Com a nova reforma trabalhista, com a terceirização irrestrita e com a reforma da previdência, Bolsonaro ataca toda a juventude e os trabalhadores fadados ao desemprego, ao emprego precário e sem direitos e com uma perspectiva quase nula de se aposentar, e por isso o governo vê a necessidade de atacar as bases educacionais que formará os trabalhadores para um emprego cada vez mais miserável.
Mais do que nunca, na luta contra os ajustes, é preciso que o programa de uma universidade a serviço dos trabalhadores e do povo pobre, expulsando a ingerência das empresas seja uma tarefa urgente do movimento estudantil que quer se ligar à população. Não só a luta da juventude pode incendiar a classe trabalhadora, como o desafio de colocar o conhecimento que foi historicamente impedido de acessar os trabalhadores, os negros, as mulheres e LGBTs e é uma urgência que este tempo nos coloca. Ligado a isso, fortalece-se a luta pela defesa das cotas e pelo fim do vestibular, junto à estatização das universidades privadas.
Com informações da Agência Estado
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