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INTERNACIONAL
Haiti queima pelos protestos por falta de combustível
Diego Sacchi

Há alguns meses a ilha está com falta de combustível. A privatização do mercado, entregue às empresas americanas, é uma das causas da crise.

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Porto príncipe e outras cidades do Haiti vivem desde segunda-feira uma jornada de protestos contra a falta de combustível, uma série de manifestações duramente reprimidas e que já registram pelo menos uma pessoa morta.

A falta de combustível foi o que despertou uma nova crise e manifestações. Vários fatores, incluindo a privatização mais importante do setor de petróleo, contribuíram para o esgotamento do suprimento de combustível no país e tiveram um efeito incendiário nas ruas de Porto Príncipe.

Neste ano, o Haiti sofreu pelo menos três períodos de escassez de combustível, alguns mais graves que outros, e a atual crise já está em sua quarta semana, além dos repetidos anúncios do governo sobre a chegada de novos embarques de petróleo. Transporte público, escolas, comércio, administração publica e privada estão paralisadas desde segunda feira.

As ruas da capital haitiana ficaram vazias por vários dias. Várias estradas e avenidas na região metropolitana de Porto Príncipe foram cortadas, incluindo a rota que leva ao aeroporto, barricadas ou queima de pneus e protestos em vários pontos da capital onde consignas eram cantadas contra o presidente, Jovenel Moise.

Nesta segunda-feira, um jovem manifestante, identificado como Vladimir Phebé, foi morto a tiros durante um protesto em Carrefour, uma cidade perto de Porto Príncipe. Os manifestantes acusam a polícia de ser responsável pela morte do jovem, mas nenhum organismo de segurança ou o governo assumiram a responsabilidade.

O governo chegou a anunciar a chegada no país de 500.000 barris de combustível, mas essa carga ainda não chegou aos postos de venda. O coordenador geral do Movimento Unificado de Transportadores do Haiti (MUTH), Duclos Bénissoit, disse à agência Efe que a nova carga não resolverá o problema da falta de combustível, e responsabilizou o governo. "No passado, foram as pessoas que bloquearam o país, agora é o governo que o faz. A população está disposta a comprar combustível a um preço normal, mas não ao preço que o governo deseja", disse Bénissoit.

As causas da crise

Algumas das causas da atual crise estão no final do acordo Petrocaribe, através do qual o Haiti importava petróleo venezuelano barato, movimento este impulsionado pelo embargo dos EUA contra o governo da Venezuela.

Atualmente, o Haiti importa petróleo principalmente dos Estados Unidos, a preços de mercado superiores aos obtidos no acordo com a Venezuela, o que tornou a conta de energia mais cara.

Por outro lado, a privatização do mercado de combustíveis provocou a disparada dos preços. Em abril de 2019, o governo haitiano decidiu privatizar o mercado de energético com o argumento de uma suposta aceleração da importação e distribuição de combustíveis. Desde então, as empresas de petróleo são responsáveis pela importação e o Estado apoia essas empresas através de subsídios.

"Eles apenas disseram que, para evitar atrasos na entrega e escassez, iriam transferir para o setor privado. E vemos que nas mãos do setor privado isso não necessariamente resolve o problema", diz a economista Emmanuela Douyon, diretora da consultoria policité.

Além disso, o governo haitiano deve às empresas de combustíveis cerca de US$ 100 milhões em pagamentos em atraso. Frente a isso, as empresas optaram pela verdadeira chantagem: diante da dívida, recusaram-se a entregar produtos petrolíferos, gerando uma situação de escassez que afeta milhões.

Entre as empresas que reivindicam a dívida está a americana Novum Energy Trading Corporation, que suspendeu a entrega de cargas de derivados de petróleo para a ilha, o que causou blecautes elétricos e escassez de gasolina em várias estações.

Um governo sustentado pelo apoio imperialista

As manifestações marcaram a situação da ilha ao longo do ano. Em março, uma onda de protestos começou quando as irregularidades no programa Petrocaribe foram descobertas. Uma auditoria apresentada no início de fevereiro pelo Tribunal de Contas revelou irregularidades entre 2008 e 2016 nesse programa e envolveu 15 ex-ministros e funcionários atuais nesse caso, além de uma empresa chefiada pelo atual presidente Moise.

A situação piorou como resultado dos planos de austeridade que o governo aplica a pedido do FMI. Em meados de 2018, o primeiro-ministro, Lafontant, teve que renunciar após o anúncio de aumentos entre 37 e 50% nos preços dos combustíveis. As mobilizações, protestos e bloqueios de ruas foram a resposta imediata nas principais cidades do país contra a medida ditada pelo Fundo Monetário.

Este ano, devido à forte depreciação do gourde, a moeda oficial, e da crise elétrica devido à falta de combustível, as coisas pioraram. Mais da metade dos 10 milhões de habitantes do país sobrevive com menos de 2 dólares por dia e a economia cresceu apenas 1,4% em 2018, uma das mais baixas da região.

Somente o relacionamento subordinado do governo haitiano aos desígnios de Washington explica por que Moise, um presidente questionado pelos protestos, implicado em casos de corrupção e que chegou à seu cargo vencendo em uma eleição na qual apenas 21% da população votou permanece em sua posição.

 
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