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GREVE DOS CORREIOS
Teriam sido os trabalhadores dos Correios que elegeram Bolsonaro?
Redação

Uma chuva de comentários atacando os trabalhadores dos Correios em greve não vem dos bolsonaristas, mas de petistas. Esse texto é uma resposta, de uma trabalhadora dos Correios, a este setor. Nós, trabalhadores dos Correios, estamos protagonizando uma grande greve que se enfrenta diretamente com o governo Bolsonaro/Guedes, que buscam retirar importantes direitos do nosso Acordo Coletivo ao mesmo tempo que anunciam a privatização dessa importante empresa estatal. Os que estão contra os ataques desse governo não deveriam estar lado a lado organizando a luta das diferentes categorias em uma grande Frente Única de trabalhadores que se ligasse também a juventude para derrotar esse governo? Não devemos negar as diferenças e muito menos deixar de fazer balanços, porém ter uma perspectiva de unidade na luta contra os ataques devia ser uma preocupação fundamental de todos que estão descontentes.

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"Faz arminha com a mão que passa"

Nas postagens do Esquerda Diário cobrindo a greve dos Correios ou chamando a solidariedade a esta luta, sobram comentários do tipo "Faz arminha com a mão que passa", e muitas relembrando uma icônica foto em que alguns carteiros aparecem queimando a bandeira do PT. A que servem e o que expressam esses comentários, dignos de "bolsominions" (seriam os PTminion?)?

Em primeiro lugar é preciso dizer que não existe uma pesquisa eleitoral por categoria onde se evidencie uma votação massiva em Bolsonaro. Como em todas as categorias, há setores que votaram no Haddad, outros no Ciro Gomes, e sim, outros no Bolsonaro. Nada indica que a maioria foi no Bolsonaro. Então por que tanto ataque?

O carteiro reaça

Se tem uma figura que ajudou a disseminar essa imagem de trabalhadores dos Correios bolsonaristas, foi o tal carteiro reaça. De origem nordestina (pernambucano) e trabalhador, o carteiro suicida passou a defender ideias reacionárias e foi "descoberto" pelo clã Bolsonaro, que o lançou deputado estadual em São Paulo, onde é líder do PSL. Ele defende todas as paulas da direita, como um papagaio dos bolsonaristas, e provavelmente pensa que não será atingido por seu próprio discurso anti trabalhador porque vai seguir nos carreirismo político como seus ídolos.

Uma expressão do Bolsonarismo, sem dúvida, mas frequentemente atacado e desprezado nas redes por outros trabalhadores, longe de ser uma expressão majoritária ou hegemônica, como a forte greve atual demonstra.

O antipetismo

O que sim, é verdade, é que assim como se expressou um fenômeno antipetista no país, isso também existiu nos Correios. Por ser uma categoria de luta e fortemente atacada já nos governos petistas, isso se aflorou bastante.

E por que? Porque o PT abriu espaço para a direita! Foi na gestão petista que a terceirização se ampliou na categoria, que o convênio médico foi rifado, que os planos privatizantes tiveram início (e seguem sendo cumpridos e aprofundados), que os gastos exorbitantes e mal explicados deram brecha pra criar no imaginário popular a ideia de que o PT "quebrou os Correios" (foram milhões para trocar de logo, milhões em publicidade e patrocínio, milhões repassados antecipadamente à união).

O papel das direções sindicais

Os trabalhadores dos Correios tem uma estrutura sindical particularmente confusa e dividida, contando com 36 sindicatos e duas federações. As principais direções desses sindicatos são ligadas ao PT e ao PCdoB. Burocratas que deixaram de trabalhar a muito tempo e passaram a viver do próprio sindicato e cumpriram papel de trair e dividir as lutas ao longo dos governos petistas. Sem dúvida não ajudaram a "melhorar" a imagem do PT na categoria...

Por outro lado, direções à esquerda do PT, como o PSTU, frente a iminência e depois concretização do golpe que depôs Dilma, ao invés de contribuírem com o avanço de consciência dos trabalhadores, mostrando que os únicos que podiam superar o PT eram os próprios trabalhadores, aumentaram o caldo da direita, fizeram coro com o Fora Dilma. Direções de independentes ligados a CSP Conlutas chegaram a ir em atos da direita e usar adesivos "Fora Dilma" acreditando que qualquer coisa contra o governo seria bom, e assim contribuíram para que a direita canalizasse o justo descontentamento contra aquele governo de conciliação de classes.

A atual greve dos Correios e seu enfrentamento a Bolsonaro e Guedes

Apesar de tudo isso, não foram poucos os trabalhadores que votaram em Haddad no segundo turno justamente por enxergar em Bolsonaro a ameaça de privatização. Ou seja, mesmo com toda a crise de direções, o interesse de classe permaneceu, ainda que de forma confusa.

Atualmente a empresa tem pouco mais de cem mil funcionários, naquele momento da eleição era um pouco mais (houve PDV no início do ano, e ainda no governo Dilma já estavam ocorrendo alguns, de lá pra cá o quadro só tem encolhido). Difícil saber quantos votaram em quem, mas sem dúvida não foram responsáveis sozinhos por eleger Bolsonaro, ainda mais num cenário que tivemos eleições manipuladas, prisão de Lula, e uma série de manobras para definir o resultado eleitoral de forma totalmente ilegítima.

Agora na greve, que tem grande adesão nas unidades apesar do nefasto papel que as burocracias sindicais seguem cumprindo de controlar e dividir a greve, o que se expressou foi uma vontade muito grande de derrotar o governo, que inclusive obteve eco na população. Não foram poucas as expressões de solidariedade nos atos de rua, que se materializam em milhares de assinaturas nos abaixo-assinado que a categoria tem levado a população contra a privatização.

A quem serve os ataques nas redes?

Esses ataques do tipo "eu avisei, agora quero mais é que se ferrem" são expressões individuais mas que demonstram uma lógica petista de seguir apostando na via eleitoral, de conciliação, e no fundo reivindicando ataques aos trabalhadores em troca de "governabilidade". Esses que ficam confortavelmente gritando "eu avisei, bem feito" estão contra a luta de classes. Estão dizendo: aprendam com os ataques mais duros de Bolsonaro e votem no PT nas próximas eleições, aceitando "ataques mais brandos" ou um "mal menor" ao invés de lutar por seus direitos e seu futuro. Um desserviço a toda a classe trabalhadora brasileira.

Agora é hora de organizar a resistência aos ataques em todos os locais de trabalho, articulando pela base uma forte luta de enfrentamento a este governo antioperário, privatista e entreguista. Apoiar a greve dos trabalhadores com solidariedade ativa com esta perspectiva.

 
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