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DECLARAÇÃO DO QUILOMBO VERMELHO
A fome e o chicote: símbolo do 7 de Setembro racista e do presidente que ama tortura
Quilombo Vermelho

Violentas chicotadas em um jovem negro no supermercado na Zona Sul de São Paulo. Um velho e novo símbolo de uma independência nacional manchada de sangue negro e indígena. É a tradução contemporânea de um velho símbolo desse Brasil independente. É também o símbolo da atualização do racismo, do latifúndio, do reacionarismo num Brasil que agora tem um presidente que ama a tortura. O combate ao escândalo racista do supermercado Ricoy em São Paulo, que repete o que já fez o Extra, o Carrefour e tantos outros é também um grito que precisa sair da garganta, por Môa do Katendê, por Marielle. É um combate a esse Brasil histórico e renovado com Bolsonaro.

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A fome e o chicote são a verdadeira identidade nacional

Um chicote estrala nas costas de um adolescente negro. Aquilo que parece uma imagem do século XIX no Brasil - colônia e independente - estampou redes sociais e algumas páginas de jornais nesta semana. Um jovem negro num mercado na periferia da zona sul de São Paulo roubou chocolates e como resposta foi levado a um quarto de fundo e açoitado nú pelos seguranças aos gritos de "Tô fazendo isso, simplesmente, pra não atrasar o seu lado, pra não ter que te matar".

Essa cena escandalosa e repugnante, que faz reviver as imagens mais terríveis dos castigos físicos sofridos pelos escravos no pelourinho e nos navios negreiros, foi protagonizada por seguranças da empresa KRP Valente Zeladoria Patrimonial, que é de propriedade de uma família de policiais militares e presta serviço ao supermercado Ricoy.

As cenas que chocaram o país são uma expressão da violência racista sistemática sofrida pela população negra no Brasil todos os dias. Essa forma de opressão, foi uma ideologia criada no capitalismo para tentar justificar de forma artificial a suposta inferioridade dos negros em relação aos brancos, baseando-se em suas características físicas e culturais para legitimar a compra e venda de seres humanos através do tráfico de escravos (um dos negócios capitalistas mais lucrativos da sua época).

Os castigos mais brutais, a tortura física e psicológica e a morte foram o meio de tentar subordinar e humilhar sistematicamente os negros para tentar reduzi-los à condição de um animal. Essa prática perdurou durante séculos no Brasil, para deixar publicamente escrito com sangue e gravado na pele e na memória de cada negro qual seria o seu lugar na sociedade. As torturas praticadas nas delegacias e presídios, nos “esculachos” e enquadros policiais, a identificação dos negros como “suspeito padrão”, a naturalização dos assassinatos impunes da juventude negra nas favelas e periferias são a forma como a burguesia, através do judiciário e das forças repressivas, buscam todos os dias impor sua dominação e “colocar os negros no seu lugar”. Um lugar que se traduz em cada indicador social. Salários menores, moradias piores, menos acesso à saúde, saneamento e escola.

Repudiamos a ação racista e grotesca dos seguranças do Ricoy, supermercado que já teve outros casos idênticos, conforme denúncias nas redes sociais. Nos solidarizamos o jovem agredido, com seus amigos e familiares e nos somamos, nas ruas e em cada local de trabalho e estudo à indignação.

O chicote contemporâneo está nas mãos de um presidente que ama a tortura

Essa tradição de violência e humilhação ganha uma escala nova e mais profunda em um governo de extrema direita, racista, machista e misógino. Bolsonaro, a extrema direita e os golpistas são uma ameaça à vida dos negros e são quem está por trás de cada chicotada que foram desferidas contra esse jovem, mas que que tem como alvo toda a juventude negra.

As declarações de um governo abertamente racista, herdeiro do golpe institucional, defensor da ditadura e de torturadores como Ustra e Pinochet é o que está por trás da ampliação em nova escala e em toda a sociedade de casos brutais de violencia contra a população negra como o do supermercado Ricoy, como esteve nas facadas em Môa, nos tiros em Marielle.

Bolsonaro e a extrema direita são um verdadeiro choque à direita nas relações raciais. Nos anos 90 ainda existia força na histórica e falaciosa tese de “democracia racial” porém o Estado já assumia algum reconhecimento do racismo. Os governos do PT assumiram como política de governo o reconhecimento do racismo e promoveram medidas reivindicadas pelo movimento negro como as cotas raciais, ao mesmo tempo que promoviam a militarização das favelas com as UPPs e colocavam tropas brasileiras no Haiti. Junho e a luta por “Cadê o Amarildo” chocaram pela esquerda estas relações, colocando no primeiro plano político do país o tema do racismo e do Estado racista e assassino de negros. Bolsonaro é um novo choque, em sentindo inverso, reacionário. Ele nega a existência de racismo, e seu discurso busca promover a perseguição de todos aqueles que lutam contra o racismo. Só assim se entende também Witzel e o PSL quebrando placas de Marielle e tentando atacar as cotas raciais.

O objetivo de Bolsonaro é dar um recado: “você pode ser negro, indígena, porque o Brasil é de todos, acima de tudo somos “brasileiros”, mas desde que você não questione o racismo, desde que você fique de cabeça baixa diante da reforma da previdência, diante dos ataques à educação, à pesquisa, diante do fogo na Amazônia, do desemprego, que na juventude atinge mais de 30%, da falta de educação de qualidade e do trabalho precário e desde que sua negritude não saia dos padrões daquilo que esperamos, do cidadão submisso ao imperialismo que queremos. Se não, vai ser chicote, prisão, e ameaças de morte.” É esse o Brasil de Bolsonaro, que não à toa trabalha para anistiar os policiais assassinos de Eldorado dos Carajás e do Carandiru, é o mesmo Brasil de Sérgio Moro e sua lei “Anti-Crime” que pretende dar impunidade a policiais que matem.

E nesse Brasil que se apoiam figuras grotescas como Witzel no Rio de Janeiro que diz que a polícia vai “mirar na cabecinha e… fogo” e fazer da polícia no RJ a mais assassina dos últimos 20 anos. É o mesmo Brasil de Dória em SP com sua política repressiva que prende lutadores dos movimentos de moradia como Preta Ferreira.

Todos eles fazem porque diante da crise capitalista que completa mais de uma década, precisam responder com enormes ataques aos trabalhadores, como é a MP da Liberdade econômica, o ataque à previdência, e para isso é necessário criar um caldo social que vai também à direita, e no Brasil atacar os setores oprimidos é central para isso. Na divisão internacional do trabalho, o Brasil ainda mais submisso, colonial e primário, as massas negras precisam ser “domesticadas” a abandonar suas lutas pela identidade, contidas no que se sabe que pode ser o estalo de uma grande revolta marcada pelo esgotamento com os ataques trabalhistas, à juventude e também raciais.

Dar a volta no cipó de arueira no lombo de quem mandou dar

Diante de tamanha radicalidade das relações raciais brasileiras, e de ataques que sabemos que recaem ainda mais sobre as populações negras, é preciso se apoiar nos que querem hoje conformar um verdadeiro pólo de oposição, que infelizmente ainda está aquém das nossas necessidades, justamente pela política conciliadora e de uma oposição passiva e meramente parlamentar que vem levando a frente o PT.

É preciso se apoiar na força da juventude, que mostrou no mês de maio que não vai se calar diante do projeto que tem a extrema direita para a educação e agora dá passos para se organizar contra os ataques à pesquisa que Bolsonaro e Weintraub querem fazer, justamente para submeter a produção de conhecimento às necessidades do agronegócio e do Imperialismo, como vimos com a entrega da base de Alcântara aos EUA, fazendo do Brasil ainda mais subordinado ao imperialismo e mais fazenda do mundo.

É com inspiração dessa força, querendo unir jovens e trabalhadores que nós do Quilombo Vermelho apostamos, porque sabemos que a juventude carrega consigo a potencialidade para fazer insurgir uma força que pode abrir caminhos à gigante classe trabalhadora brasileira, de maioria negra.

Há 228 anos da luta dos negros por libertação no Haiti, sabemos que não partimos do zero. Nesse momento em que se fala em independência do Brasil, lembramos que a nossa se deu pelas mãos de escravocratas e racistas que mantiveram a escravidão no país supostamente “livre”. Nos inspiramos nos negros insurretos de todo o mundo para hoje batalhar contra o futuro que Bolsonaro, a extrema direita e a crise capitalista nos reserva, propondo o nosso futuro baseado na verdadeira e profunda liberdade que negra e negro merecem, que parte de lutar contra a submissão imperialista que vive no pagamento da dívida pública, exigindo o fim desse roubo, lado a lado da luta por justiça contra cada assassinato e humilhação que o Estado promove contra nós.

Enquanto eles reservam para a juventude negra nada mais do que repressão, morte e trabalhos precários como Rappi e Ifood, devemos dar podemos dar a “volta do cipó de arueira no lombo de quem mandou dar”. Nossa total solidariedade ao jovem chicoteado no Ricoy, e sua família!

Basta de violência racista e da exploração de Bolsonaro e dos patrões!

Veja também o vídeo do Quilombo Vermelho publicado em 7 de Setembro de 2017:

 
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