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ECONOMIA
Economia cresce nas estatísticas. Para os trabalhadores a realidade é completamente outra
Ricardo Sanchez

A estatística mostra um ligeiro crescimento do PIB, mas não estamos diante de uma recuperação sustentada. Isso é ainda mais verdade se olharmos a economia do ponto de vista da população. Estamos na verdade muito longe de recuperar o terreno da recessão. Para os trabalhadores o país está estagnado ou caindo.

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Foto: Multidão em fila de emprego em SP. Autor da foto: Danilo Verpa

Bolsonaro comemorou o crescimento de 0,4% do PIB do segundo trimestre divulgado pelo IBGE. Esse número livrou seu primeiro ano de mandato de uma “recessão técnica” que é quando o PIB cai dois trimestres consecutivos. A comemoração presidencial não condiz com a realidade nem sequer aos olhos de vários renomados economistas. Menos ainda a comemoração é merecida se olharmos para a situação do conjunto da população e, especialmente da classe trabalhadora. Desse ponto de vista a economia do país está claramente estagnada ou continua caindo.

Economistas que não se preocupam com a classe trabalhadora, mas não estão fazendo propaganda, neoliberais renomados como Monica de Bolle, a “mãe do Plano Real”, se questionam se o país não estaria em uma prolongada estagnação da qual não parece ter saída nas próximas décadas. A economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latiff, não projeta tão longe os rumos da estagnação, mas não vê nenhum arco-íris no horizonte:

A gente vai ficar um tempo ainda com crescimento baixo. Não consigo enxergar ainda uma arrancada para valer de crescimento econômico. A gente está falando de uma economia que está muito fragilizada. O potencial de crescimento, no nosso cálculo na XP, não é mais de 1%. É até ligeiramente abaixo. Não vai ter milagre. O instrumento fiscal, acho que a gente perdeu.

A propaganda oficial é outra.

O secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida se arriscou a prognosticar que o país teria tocado o fundo do poço em agosto e a partir de então cresceria.

A realidade, com sua indomável teimosia reluta em encaixar-se no desejo Bolsonarista e daqueles economistas e burgueses que previam que economia do país iria crescer mais de 2,5% nesse ano. Em outro artigo esmiuçaremos mais detalhes de como o próprio resultado encobre debilidades e mesmo um certo nível de manobra implícita na construção estatística e sua base de comparação. Aqui focaremos em confrontar os dados com a situação da população e como uma medição positiva do PIB não significa necessariamente crescimento da renda dos trabalhadores e da população em geral.

Na estatística a economia cresce, mas para os trabalhadores....

O PIB é um somatório de tudo que o país produz e consome em um ano. Nas TVs e nos jornais repetem dia atrás dia um mantra parecido com o que dizia o ministro da economia da ditadura, Delfim Netto, o “bolo tem que crescer para depois repartimos”. Teríamos que torcer para a economia do país crescer, torcer para os lucros dos empresários crescerem, para aí, quem sabe, termos alguma repartição. Esse mantra não é exclusividade da direita, Lula também não cansava de repeti-lo.

Sabemos que quando a economia cresce não é na mesma proporção do aumento dos lucros que aumenta a renda dos trabalhadores. Essa relação é ainda mais desfavorável aos trabalhadores quando o país cai ou estagna.

Lentamente, no ritmo mais lento da história do país, o “bolo tem crescido” desde 2017. Mas a proporção de seu crescimento não significa que uma parcela maior vai para cada pessoa. Mesmo se a divisão do bolo fosse matematicamente perfeita, uma média geral, poderia acontecer de o PIB aumentar e a divisão não dependendo do ritmo de crescimento da população. Essa média matemática de divisão do bolo por todos habitantes é o chamado PIB per capita.

O crescimento econômico projetado pelo Banco Central para o PIB nesse ano é de 0,87%, se ele se realizar significa que desde o começo da recessão a economia do país ainda terminará esse ano 7,9% menor do que ela era em 2014. E, se todas as sempre falaciosas e otimistas previsões se realizarem, em algum momento entre 2022 e 2023 a economia seria do mesmo tamanho que ela era antes de começar a cair em 2014.

Tomamos como base para essa comparação a projeção do Boletim Focus e os dados nacionais compilados pelo Banco Mundial

Do ponto de vista da população, tomando como base o PIB per capita, essa situação é mais forte ainda. Há clara estagnação no fundo do poço.

A população segue crescendo, se o resultado do Banco Central acontecer e a economia do país crescer 0,87% no ano de 2019, isso significará somente 0,1% de crescimento no PIB per capita, pois o IBGE estima que a população crescerá 0,77% no mesmo período.

Apresentamos abaixo os dados em Real constante do PIB per capita:

Ou seja, se pegássemos toda a economia do país e dividíssemos por toda a população, em 1995 teríamos R$15.023,70 por pessoa. Em 2007 esse valor seria de R$18.108,38 e em 2013 teria alcançado seu pico com R$21.098,40. Se a projeção de crescimento da economia do Banco Central se realizar, em 2019 o valor seria R$19.416,76.

Nessa divisão “do bolo”, mesmo com os crescimentos estatísticos da economia em 2017, 2018 e 2019, o PIB per capita ainda seria R$1.682 menor do que em 2013.

Seguindo as projeções otimistas dos economistas que informam o Banco Central, o PIB per capita só alcançaria o valor de 2013 no longínquo ano de 2024. E é importante ressaltar que dificilmente essas projeções se realizarão, visto que há estudos que mostram que a Reforma da Previdência, ao contrário da propaganda, tem um impacto negativo na economia, e de fora do país há sérios sinais negativos, com a tendência a recessão mundial e a crise argentina afetando as exportações industriais.

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Como esses dados se traduzem na vida da população?

Aumento do desemprego e estagnação completa da renda real são resultados palpáveis. A renda real, e não o cálculo do PIB per capita, mas o valor que as pessoas declaram ao IBGE, escancara a longuíssima estagnação da renda daqueles que conseguem um emprego (formal ou informal.

O IBGE apurou que o rendimento mensal médio do brasileiro que exerceu algum trabalho (e há mais de 11,8% de desempregados e 4,4% de desalentados, que não encontram nem condições de procurar emprego) foi de R$2.214 ao final de junho de 2019. Um ano antes era 7 reais maior, e estes valores são praticamente os mesmos do que eram em 2014 quando ele era de R$2.228.

Levando-se em conta a inflação acumulada de junho de 2014 a junho de 2019, 32,25% segundo o IPCA, a queda foi muito mais do que 14 reais do IBGE. A renda de 2014 corrigida pela inflação seria hoje de R$2946,53. Ou seja, em poucos anos cada trabalhador recebe centenas de reais a menos.

Quem paga o pato?

O que esses dados mostram é que a economia brasileira, tanto do ponto de vista global que será mais desenvolvido em outros artigos, mas especialmente do ponto de vista da população, está muito longe do fundo do poço. A depender dos planos de Bolsonaro, de Paulo Guedes, dos donos da dívida pública as estatísticas podem melhorar um pouco, mas a situação da classe trabalhadora não. Ela piora. Enquanto isso aumenta o número de bilionários no país.

O golpe institucional e sua continuidade com Bolsonaro visa impor ataques aos trabalhadores muito maiores do que aqueles que o PT já fazia (mais intensamente no governo Dilma2). Medidas como a Reforma da Previdência, Reforma Trabalhista, privatizações, generalização da terceirização buscam retirar mais recursos da parcela da renda nacional que cada trabalhador recebe, e para aumentar a parcela da renda que é furtada do país. Um furto que ocorre não somente por corrupção e ilegalidades, mas por “crimes” legalmente aceitos, como a ilegal e imoral dívida pública, com as privatizações e a pilhagem das riquezas naturais do país. Como consequência aumenta a concentração de renda, de terras, de capitais.

As estatísticas mostram que a economia ainda está muito longe de recuperar tudo que encolheu desde que começou a recessão, isso é ainda mais verdade para a classe trabalhadora. Todas políticas do governo Bolsonaro visam melhorar a vida dos capitalistas, dos milionários e bilionários, às custas do país e de sua classe trabalhadora. Um projeto que envolve também fazer o país cada vez mais dependente do mercado financeiro, da exportação de matérias primas, e mais subordinado ao imperialismo. Um “projeto de país” que deixa suas claras cicatrizes: na entrega da base de Alcantara aos EUA, nas queimadas da Amazônia, em Brumadinho e Mariana, nas infinitas filas por emprego e um sem-fim de jovens pedalando às ordens de patrões nos aplicativos para entregar comida e sobreviver – e não viver – de um dia ao próximo.

 
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