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CRÔNICA
No dia do biólogo nada de parabéns, lutemos por uma educação a serviço dos trabalhadores e do povo pobre
Rafaella Lafraia
São Paulo

No dia do biólogo, 3 de setembro, publicamos a crônica de uma bióloga. Do primeiro encantamento com as classificações de Lineu, ao deslumbramento com as teorias de Darwin. Mas, frente aos cortes de Bolsonaro à educação, na pesquisa e na ciência, é difícil celebrar, sem ser na luta pela educação pública, gratuita e de qualidade.

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Dia 03 de setembro é tido como o dia do biólogo. Eu sou bióloga.... Há algum tempo (não entrarei em pormenores né?!) e foi por escolha e não por falta de opção. Eu queria entender as diferentes formas de vida e suas relações. Então, nada melhor do que ir estudar a vida – o significado da palavra que denomina o que seria minha profissão é fruto de uma combinação de vocábulos alemães, franceses, grego antigo e outros idiomas europeus (confirmado por uma beletriz em formação).

Fiquei encantada – e ainda fico – com esse ramo da ciência natural! Ela é dividida em vários campos especializados que permitem ver a vida de tantos ângulos que nem me cabe colocar aqui, instigo vocês a irem buscar. Mas, para chegar ao ponto deste texto, usarei a minha trajetória de formação: como todo iniciante me encantava pelas classificações de Lineu, ao mesmo tempo que ficava instigada com a capacidade de microrganismos levarem a morte de outros seres vivos e sempre ia, por assim dizer, voltando para entender como as coisas funcionavam e agora me dou que seguia a lógica aristotélica de pensamento (a qual se baseia no empirismo, ou seja, todo conhecimento provém unicamente da experiência; que a origem das ideias se dá pela observação de objetos para então se formular a ideia sobre os mesmos). Com o passar dos anos necessários para minha formação, fui me enveredando – e me encantando – pelo estudo da origem das espécies de Darwin (e como não se encantar não é mesmo), que, como colocamos aqui foi o homem que revolucionou a biologia, e, juntamente com isso, me veio a curiosidade para entender as interações entre os organismos e o meio ambiente – o que denominamos como ecologia. Nada mais óbvio devido a forma de pensamento que começava a “fazer sentido” na minha mente, que era a lógica materialista, histórica e dialética, mas, por enquanto ainda inconsciente.

Foi nos anos de mestrado – uma etapa da formação acadêmica conhecida como pós-graduação “stricto sensu” que, na realidade, para mim, não teve nada de restrito – que tive a possibilidade fazer reflexões e experiências, já que tive a oportunidade de desenvolver um projeto que ligava com a lógica inconsciente que vinha construindo, de diversas formas. Primeiro por que realmente começava a “engatinhar” na relação saúde e meio ambiente, vendo as inúmeras relações que estas tinham (e tem); em segundo lugar foi a verificação de que as áreas de biológicas com a de humanas permitem compreender o mundo de forma mais ampla, portanto, que as interações existiam e não poderiam ser descoladas; em terceiro lugar e por último (que me lembro aqui, mas tenho certeza que tem muito mais) é que os deslocamentos/separações das áreas só poderiam causar reducionismos que concomitantemente levavam ao preconceito e opressão. Foi daí que o marxismo “bateu, realmente, a minha porta”, mas este não é o foco do texto.

Atualmente acompanho as descobertas, os estudos e os avanços na área de biológicas com outro olhar – até por isso voltei a academia, sentando novamente no banco dos alunos para aprender sobre saúde pública – mas continuo me deslumbrando com os avanços da área. Por exemplo: a descoberta de uma espécie, seu acompanhamento para estudo comportamental, o estudo de alguns elementos de seu veneno, aos estudos sobre a possibilidade de utilizar este como tratamento de alguma doença até a criação e posterior distribuição deste..... Forma simplificada de contar a história do remédio que controla a hipertensão de pessoas pelo mundo – Sim, este remédio veio do veneno de uma cobra brasileira (Bothrops insularis).

Pensar que inúmeros estudos como este são feitos em universidades e institutos de pesquisa, era algo que me encantava e que deveria ser..... Mas, a história desse mesmo remédio pode servir de base para mostrar meu ódio.... De classe! Tudo que é necessário para a realização destes estudos (desde a infraestrutura até o pagamento de bolsas aos estudantes, que na realidade é uma ajuda de custo que auxilia – em pouco – na permanência estudantil) é fornecido pelo Estado, de forma direta ou indireta, como as verbas destinadas por agencias financiadoras ou fundações de amparo a pesquisa (CNPq, CAPES e as FAPE...). Obviamente, como o estado funciona como balcão de negócios, já daí que se faz uma seleção prévia dos estudos, ou seja, aquele estudo que vai receber mais verba e que, portanto, terá mais condições de chegar aos resultados desejados. Esses conhecimentos “agraciados” financeiramente, em sua enorme maioria, são os que darão resultados não há produção de benefícios a população, mas de grandes empresas, tendo estas influencia na pesquisa ou de forma indireta (pressão aos seus fantoches, ou como denominamos governo) ou de forma direta mesmo, com o “investimento” científico e/ou financeiro, para que no fim tudo o que foi desenvolvido com dinheiro público – isso inclui até a ideia/conhecimento – acaba sendo privatizado para essa empresa. Em resumo: o dinheiro público propicia o mínimo de base e todo o resultado disso é voltado para o privado! O conhecimento em pró da população, com descobertas fenomenais, que me fazem abrir a boca até hoje – mesmo com tudo isso – também me fazem ter ódio por que nada está a serviço da população, está a serviço do lucro!

Esse panorama que dei, meio que por cima, é histórico (lembrem-se que eu não ia colocar quantos anos estou formada não é mesmo) mas, em momentos de crise, no qual os capitalistas fazem de tudo, ou melhor, fazem com que nós façamos de tudo para mantermos os lucros deles, se tem uma piora qualitativa nesse esquema. A educação é uma das miras destas aves de rapina (correlação real com estas aves de costume alimentar carnívoro e visão de longo alcance). A Kroton-Anhanguera, o maior monopólio da educação, é um dos grandes exemplos do que coloco. Aqui já mostrávamos que esse monopólio vem avançando no controle do nosso conhecimento e no direito de estudar, e que está vem sendo beneficiada com as políticas de precarização tanto do ensino público, com o projeto Future-se, quanto da pesquisa, com o fim do financiamento do CNPq e da Capes. Esses ataques mais profundos – porque não devemos esquecer que a abertura das portas da privatização da educação foi feita nos governos do PT – faz parte do conjunto de ataques destinado a população, para que nós tenhamos que escolher estudar ou trabalhar (para aqueles que assim conseguirem, porque a sua maioria vai morrer trabalhando após a aprovação da reforma da previdência, na qual a dita oposição só freiou a luta, tanto no movimento operário quanto no levante estudantil que se teve este ano frente aos ataques).

Assim, neste dia não quero nada de parabéns.... Continuo vendo a beleza da biologia e toda a possibilidade que o estudo deste ramo, vinculado com os outros ramos de conhecimento, tem para a o benefício da classe trabalhadora e do povo pobre, não para a manutenção do lucro destas empresas imperialistas que veem a educação pública brasileira como novo mercado a ser explorado! Como forma de comemoração e me baseando na luta por um mundo realmente justo, convido a todos a lutarem contra a precarização e privatização da educação, lutemos pela estatização das universidades privadas, defendendo a expropriação sem indenização de todos os tubarões do ensino e que as universidades e instituições de ensino sejam controladas pelos estudantes e trabalhadores dessas universidades. Que as nossas riquezas não sejam exportadas em forma de pagamento de dívida pública, mas sim sejam usadas para ampliar o orçamento para a educação pública, garantindo assim o direito elementar da educação para toda população. Ou seja, termino esse texto, no dia do biólogo, convidando a todos os estudantes e trabalhadores a defenderem a bandeira em defesa de uma educação livre dos interesses capitalistas.

 
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