Foto de LEO CORREA (AP).
O Palácio do Planalto publicou em Diário Oficial nesta quinta, 29, a edição do Decreto 9.992 do Código Florestal, para suspender temporariamente a permissão legal de queimadas em práticas agropastoris e florestais no território nacional. A suspensão deve durar 60 dias e em tese busca oferecer uma resposta ao descontrole das queimadas na Amazônia que já alcançam mais de 15 dias e estão consumindo a olhos nus um dos maiores biomas do mundo. São dezenas de milhares de hectares devastados no curso de alguns dias, com a fauna e a flora atingidas de maneira irreversível e um enorme ataque às condições de vida das comunidades locais, às diferentes etnias indígenas, aos quilombolas e aos trabalhadores rurais.
Com essa medida, Bolsonaro discursa sobre “seus passos importantes” dados diante dessa imensa crise ambiental e seu suposto compromisso para “proteger o meio ambiente”. Uma suposta preocupação com os rumos dessa crise ambiental também se expressou calorosamente fora de nossas fronteiras, com os líderes dos países mais industrializados e maiores economias mundiais pautando o tema no G7 ocorrido no final de semana passado. Mas o que está por trás dessas máscaras, seja de Bolsonaro e seu ministro do meio ambiente, Ricardo Salles, seja as de Macron, Merkel e Trump, é que a única preocupação em relação à Amazônia é com os lucros reais ou potenciais que podem ser extraídos das riquezas que esta reserva em meio ao avançar da crise capitalista e da guerra comercial entre EUA e China, como apontamos em artigo do Esquerda Diário.
Relatos de pequenos proprietários locais, coletados pela equipe de reportagem do Estado de São Paulo nesta semana, mostram a hipocrisia do discurso de Bolsonaro: revelaram que novos focos de incêndio foram provocados nos últimos dias por grandes fazendeiros que buscam explorar a área em seus negócios. Essas são ações criminosas dos ruralistas, embasadas na impunidade e no abrandamento da fiscalização propagandeado em campanha e levado a cabo como política de governo por Bolsonaro, que se somam a uma ofensiva ideológica e material cruel contra as populações locais, que estão vendo suas terras encolher ainda mais enquanto são perseguidas, acuadas e assassinadas num nível ainda mais brutal com o aval deste governo. Trata-se de um legado histórico no Brasil, respeitado e incentivado nos próprios governos petistas em seus acordos espúrios com os ruralistas, que com o golpe institucional teve sua barbárie elevada a níveis surreais.
E, ainda que com um modelo distinto, com uma cara supostamente sustentável, não podemos nos enganar também em relação à insistente preocupação dos países imperialistas europeus e norte americano em relação à Amazônia. Eles se aproveitam da crise aberta para lançar suas garras sobre nossas riquezas nacionais. Se de fato estivessem comprometidos com o meio ambiente não teriam levantes de milhares de jovens em seus países para lembrá-los de que o clima é algo que deve ser levado a sério quando pensamos no futuro. E mais que isso, toda a falácia do capitalismo verde, fingidamente respeitada por grupos que somente buscam mais um nicho de mercado e por esses próprios líderes europeus, não convence ninguém que olha para a sanha predatória das gigantes europeias que atuam na própria produção da soja brasileira ou mesmo no tratamento desumano e assassino contra imigrantes que fogem das guerras esses mesmos líderes incentivam nos países periféricos.
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O Brasil e a Amazônia são alvo da disputa de múltiplos interesses imperialistas, para os quais Bolsonaro e a burguesia nacional nacional nunca foram um obstáculo, mas bem o contrário, apenas avaliando em qual ponta da corda irão se somar nesse cabo de guerra internacional. Para uma saída de fundo é necessário construir uma mobilização independente, somando os povos oprimidos pelo latifúndio e os trabalhadores e jovens que são assolados pelas políticas de conjunto deste governo.
Só esta força da classe trabalhadora e oprimidos organizada é que poderá impor um programa que de fato responda à crise ambiental e social escancarada com as queimadas na Amazônia.
Saiba mais aqui: Por uma saída revolucionária e anticapitalista diante da crise ambiental na Amazônia.
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