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LATIFÚNDIO
Devastação da natureza e trabalho escravo: o programa do latifúndio por trás de Bolsonaro
Jean Barroso
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FOTO: Bruno Kelly/Reuters

A atual devastação da Amazônia ganhou novamente os holofotes do mundo à partir da organização do "dia do fogo" - crime ambiental organizado por grandes proprietários e convocado pela imprensa do sudoeste do Pará, que além da destruição da floresta Amazônica, resultou na invasão do céu de São Paulo por uma massa de detritos advindos destas queimadas na região norte e centro-oeste do país. O grande responsável por tudo isso é o latifúndio, ou seja, a grande concentração de terras.

Apesar da esquerda ter parado de falar em seu nome, o latifúndio de fato seguiu historicamente com a sua agenda intocada no Brasil. Desde antes mesmo do golpe militar, o latifúndio já mobilizava as forças repressivas do estado brasileiro para aniquilar as Ligas Camponesas e perseguir os movimentos que reivindicavam a repartição da terra, concentrada nas mãos de um punhado de herdeiros daqueles senhores de escravos.

Leia aqui: Amazônia: É preciso dar um basta à sanha predatória de Bolsonaro e dos capitalistas

Tanto é que junto à defesa da devastação do patrimônio natural, a principal atenção de Bolsonaro está voltada à outra devastação, aquela que diz respeito às condições de vida e de trabalho, com ataques aos trabalhadores como a reforma da previdência e a MP 881. Nesse sentido, a superexploração do trabalho no campo é ainda maior. As alterações da reforma da previdência incidem de forma ainda mais dura nos trabalhadores rurais, colocando regras mais duras para a comprovação da atividade rural, na prática lhes retirando a possibilidade de aposentar-se. Enquanto pune o trabalhador rural, os deputados presentearam o agronegócio com R$ 83 bilhões, através da desoneração de impostos previdenciários sobre a exportação agrícola.

Estes mesmos herdeiros da escravidão têm, hoje, Jair Bolsonaro como porta-voz oficial de seus interesses: Bolsonaro defende ao mesmo tempo o fim da fiscalização das condições de trabalho no campo, e total liberdade para o latifúndio agir, armando seus capangas e assassinando lideranças indígenas, quilombolas e do MST. Portanto, o "dia do fogo" nada mais foi que a demonstração de força dos setores mais reacionários de nossa sociedade.

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No sentido original da palavra: são reacionários porque invocam o passado. O passado se faz presente no tipo de propriedade que esta classe representa: o latifúndio, grande propriedade da terra criada ainda no período colonial, em base à expropriação e a dizimação da população original indígena. A destruição do latifúndio, portanto, é a primeira tarefa de qualquer esquerda que queira a transformação desta realidade social, por isso toda a luta pela expropriação do latifúndio e pela divisão das terras deve ser apoiada incondicionalmente.

Os latifundiários tem a correlação de forças que tem hoje, para queimarem tudo e sair ilesos, porque não só durante o governo FHC, mas durante os governos do Partido dos Trabalhadores, tiveram seus privilégios intocados. Em nome da governabilidade gerindo um estado capitalista, justamente, o PT não só varreu para baixo do tapete a questão da terra, como ainda aderiu e incorporou as demandas dos latifundiários em seu governo. Tal é que Katia Abreu, líder histórica da bancada ruralista, tinha interlocução privilegiada com os governos Lula e Dilma.

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Neste momento, PT e PCdoB, que abandonaram a luta contra os ataques de Bolsonaro, que nada fizeram para unificar as lutas da educação com as lutas contra a reforma da previdência, permanecem sem lutar contra os nefastos resultados de uma eleição manipulada pela Lava Jato. O fazem por sentir medo da luta de classes, e por terem aderido, em seu DNA, à uma estratégia puramente eleitoral.. Enquanto a Amazônia queima, esperam "virar votos" daqui há 3 anos! Esta estratégia torna refém a juventude, os trabalhadores, a população do campo, as mulheres, os indígenas, quilombolas. Até lá, quanto terá sido destruído, de direitos dos trabalhadores à própria natureza? É visível a responsabilidade da CUT e da CTB, centrais sindicais controladas pelos dois partidos, que nesta situação se dão ao papel de tentar negociar nossos direitos com os Senadores, ao invés de organizar assembleias nos locais de trabalho com um chamado para um plano de luta contra todos estes ataques.

Ao invés disso, grande parte dos líderes e da imprensa do PT e do PCdoB apostam suas fichas no "imperialismo verde": em ameaças de sanção advindas de Angela Merkel (Alemanha) e de Macron (França), que se reunirão neste final de semana no G7 - grupo dos 7 países mais ricos do mundo, países estes que nas décadas passadas transferiram a poluição e a destruição da natureza para outros países.

Enquanto na União Européia, a Alemanha é o país que mais polui o ar, a França, por sua vez, tem 75% de sua energia elétrica advinda de usinas nucleares.

Isso para não falar no que suas empresas fazem nos outros países:

O agronegócio de grãos no Brasil é completamente cartelizado por traders imperialistas que dominam a distribuição de sementes transgênicas, agrotóxicos, fertilizantes, os silos, a logística e depois sua comercialização. As quatro traders que dominam o país são as americanas Cargill e ADM, a francesa Dreyfuss e a holandesa Bungee. Essas 4 empresas sozinhas detém 80% do comércio de soja do Mato Grosso, mas encontram crescente concorrência da chinesa COFCA, da russa Sodrujestevo, da japonesa Mitsui e do grupo Amaggi, de Blairo Maggi, ex-governador de Mato Grosso. Essas empresas imperialistas comercializam sementes produzidas por empresas de capital europeu, como a alemãs BayerCropScience que adquiriu a francesa Monsanto. Até mesmo o supostamente ecológico capitalismo norueguês lucra com a devastação brasileira, a maior empresa de fertilizantes do mundo, a estatal norueguesa Yara, tem mais de 25% de seu faturamento mundial no mercado brasileiro. Leia mais aqui.

O imperialismo Alemão, Francês ou Norte-americano dependem da forma do Latifúndio, e nada tem de "modernizadores", pelo contrário. Países como a França, que realizaram sua reforma agrária, sustentam a sua produção rural através de subsídios aos agricultores. Estes começam na frente, na competição com os países semi-colonizados, pois parte do custo de sua produção é financiada pelo estado. Os países imperialistas utilizam sua "classe nacional" de produtores para achatar a produção dos outros países, e portanto, o latifúndio aqui no Brasil, destrói as condições de trabalho e destrói a própria natureza em nome de competir no exterior com seus produtos. Este é o caráter "combinado" do desenvolvimento capitalista: o mais avançado da técnica reforçando o que há de mais atrasado nas relações sociais, como por exemplo o trabalho escravo que se encontra nos campos brasileiros, resultado da concentração de terras e do latifúndio. Por isso, o latifundiário, subordinado às normas comerciais impostas pelo imperialismo, é o que menos tem interesses nacionais, pelo contrário, sob a ótica econômica, Merkel e Kátia Abreu tem muito mais coisas em comum do que o contrário.

Estas empresas, que estão aqui no país aliadas ao latifúndio, merecem a expropriação e a estatização sob controle dos trabalhadores, para que a sua tecnologia seja utilizada para servir à população, para gerar bem estar e emprego, e não a destruição da natureza e das condições de vida. As queimadas são resultado direto da gestão capitalista dos recursos naturais, assim como "catástrofes" naturais como Brumadinho e Mariana nada são além do resultado lógico da exploração desenfreada da natureza, destruindo também a vida de muitos, em nome do lucro de poucos empresários, nacionais e, especialmente, estrangeiros ligados aos grandes monopólios. Só um programa que alie os trabalhadores da cidade e do campo pode fazer frente à esta opressão, com a expropriação do latifúndio e a divisão das terras para todos os que reivindicam trabalhar no campo e a estatização da indústria baseada no latifúndio.

 
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