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Para disputar as eleições dividindo os norte-americanos, Trump potencializa seus ataques racistas
Redação

Nesse final de semana, o presidente Donald Trump atacou no Twitter o congressista pelo Partido Democrata, Elijah Cummings, com ataques abertamente racistas.

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Nesse final de semana, o presidente Donald Trump atacou no Twitter o congressista pelo Partido Democrata Elijah Cummings, político e reconhecida figura antirracista, que criticou o governo federal pela sua política anti-imigrante com violências nas fronteiras com o México. Reagindo às suas críticas, Trump disse que o democrata é um “valentão brutal” e se referindo à cidade de Baltimore, em Maryland, distrito majoritariamente negro e onde o referido deputado foi eleito, como um “bagunça nojenta e infestada de ratos” e “o mais mal administrado e o mais perigoso distrito nos Estados Unidos”. Para agravar, o presidente republicano ainda aproveitou o ataque para criminalizar o deputado, o acusando de corrupção por desviar verba enviada ao distrito de Maryland que seria usada para aperfeiçoar o aparato policial.

O distrito representado por Elijah Cummings, que cobre partes de Baltimore e dos municípios vizinhos, é administrado pelo Partido Democrata desde 1953, com população de maioria negra, e com problemas estruturais como alto nível de desemprego, pobreza e violência. Se não bastassem os primeiros ataques, Trump os agravou com puro racismo ao deputado democrata, dizendo que ele deveria “limpar aquele lugar perigosíssimo e imundo”.

Nessa segunda (25), a repercussão crítica aos ataques racistas de Trump foi amplíssima, tendo inclusive a visita de Al Sharpton, pastor e militante antirracista histórico, a cidade de Baltimore e criticando os comentários do presidente. Trump rebateu o pastor dizendo que ele é um aliado dos candidatos da esquerda do Partido Democrata para as eleições de 2020 e que é alguém que “odeia brancos e policiais”.

O deputado Elijah Cummings respondeu que ao invés de atacá-lo, o presidente deveria trabalhar com ele para enfrentar “os preços altíssimos dos remédios e as dificuldades financeiras que as famílias de toda a nação, sobretudo em Baltimore, estão vivendo”. Outras figuras importantes do Partido Democrata também reagiram aos ataques racistas de Trump, como a líder no Congresso Nancy Pelosi e a senadora Elizabeth Warren.

Tais ataques ao deputado Elijah Cummings vieram apenas duas semanas depois do presidente Trump atacar quatro deputadas democratas negras e filhas de imigrantes, mais conhecidas como “O Esquadrão”, afirmando que todas elas deveriam “retornar” aos países de onde vieram. No entanto, três das deputadas (Alexandria Ocasio-Cortez de Nova York, Rashida Tlaib de Michigan e Ayanna Pressley de Massachusetts) nasceram nos EUA, sendo apenas uma nascida fora (Somália), a deputada Ilhan Omar, porém foi naturalizada com nacionalidade norte-americana quando era bem criança, quando se refugiou com sua família no país fugindo de guerra civil. Num comício de caráter pré-eleitoral na Carolina do Norte, ao criticar Omar especificamente por ela ter sido aceita como refugiada da Somália, a sua base, ao ser radicalizada, e num tom obscurantista e relembrando cenas do fascismo, começou a entoar em voz alta, e estimulada por Trump, a frase “mande-a de volta”.

Estratégia Eleitoral...

Esse tipo de discurso é calculado por Trump justamente para dividir os trabalhadores norte-americanos segundo a cor da pele, religião e país de origem. Seus ataques racistas têm o propósito de polarizar, pela extrema-direita, com o programa reformista e democrático de grande parte dos candidatos e parlamentares democratas – como direito a educação e a saúde públicas, valorização dos salários, maiores taxações sobre as grandes fortunas, etc. – tendo a sua maior expressão na candidatura de Bernie Sanders e inclusive nos próprios mandatos das deputadas que conformam “O Esquadrão”.

Contudo, o caráter meramente reformista do programa político dos democratas, com seus ares de esquerda, é enfrentado pelo Partido Republicano, já dominado pela sua ala trumpista, como uma tentativa de aplicar o socialismo nos EUA. No entanto, isso não passa de bravata do trumpismo para ganhar as eleições, pois o Partido Democrata, apesar de suas novas figuras como as deputadas do O Esquadrão e a renovação reformista do velho Bernie Sanders, foi o responsável, ainda sobre o presidente negro Barack Obama e com sua secretária de Estado, a derrotada nas últimas eleições Hillary Clinton, por sucessivas intervenções militares que terminaram em crises humanitárias no Oriente Médio e na Ásia. Um tema tão caro aos trabalhadores de origem imigrante e pertencente às minorias, como a política anti-imigrante de Trump, foi permanentemente estimulada por Obama, sendo o seu governo responsável por recordes na expulsão de trabalhadores de origem estrangeira no país e pela escalada genocida do aparato policial contra a população negra. Sempre bom lembrar que foi no governo Obama que eclodiu o movimento Black Lives Matter (As vidas negras importam).

Além do histórico imperialista e racista do estlabishment do Partido Democrata, o próprio Bernie Sanders, que vende uma imagem de si como “socialista”, também foi responsável pela intervenção norte-americana na Guerra dos Bálcãs na década de 1990, quando ele era senador pelo mesmo partido, e nesse ano defendeu a operação golpista levada a cabo pela extrema-direita do governo Trump para invadir a Venezuela. No tema caro aos trabalhadores latinos que ele diz defender, em relação à política anti-imigrante, votou junto com republicanos em fevereiro desse ano, quando o Congresso se encontrava “fechado” devido à falta de consenso para aprovação do orçamento governamental, um pacote bilionário para financiar a contratação de agentes policiais e aquisição de tecnologia para aprimorar o aparato repressivo na fronteira com o México. Ocasio-Cortez, deputada e integrante do DAS (Socialistas Democratas da América, na tradução do inglês), também apoiou a ação golpista e intervencionista da direita, chegando a afirmar que na Venezuela não havia ingerência imperialista.

Depois da crise capitalista de 2007-2008, quando milhares de trabalhadores perderam suas casas e empregos e a juventude se viu sem perspectiva de futuro, ao compasso em que a força do proletariado negro, imigrante e da juventude cresceu e registrou lutas importantes como o enfrentamento ao 1% (Occupy Wall Street), pelo direito dos negros viverem (Black Lives Matter) e nas greves massivas pelo salário de US$ 15,00 a hora, por outro lado, grupos da extrema-direita xenofóbica e protofascista, como a Ku Klux Klan, a alt-right, nostálgicos dos confederados escravistas e similares, base eleitoral de Trump, se sentiram estimulados e mobilizados para enfrentar esse ambiente mais propício à esquerda pela qual experimentam trabalhadores e a juventude.

É bom lembrar que Donald Trump potencializou a sua figura pública ao encampar uma campanha racista de difamação do então presidente Barack Obama, o acusando de ter nascido no Quênia e ser muçulmano. O democrata nasceu no Havaí e é cristão, mas essa fake news fez a imagem de Trump entre a base de direita e segregacionista dos EUA. Na campanha eleitoral, sua tática de divisão em base a uma polarização radicalizada marcada pela cor da pele ou da religião foi potencializada, ao falar abertamente na construção do muro nas fronteiras para barrar a entrada de refugiados e imigrantes vindos de países considerados por ele como “catastróficos”. Interessante que tais países “catastróficos” são todos de maioria negra, árabe e muçulmana.

Portanto, e apesar do nível nojento de racismo vomitado por Trump, isso não se configura em novidade. É uma tática antiga dele para dividir e polarizar o eleitorado, sobretudo o voto do trabalhador branco e ressentido por ter perdido seu emprego no processo de globalização, colocando como inimigo o trabalhador estrangeiro não-branco e não-cristão. Ao falar de EUA grande novamente, Trump rememora os EUA do Destino Manifesto, racializado em uma suposta nação branca, fundada no extermínio de indígenas e na escravidão e posterior segregação impostas à população negra. É o que se chama de nativismo branco. É por causa de tal visão que Trump chegou ao cúmulo de afirmar que entre os membros da extrema-direita nativista tinha “gente muito boa”, quando eram enfrentados por manifestantes antifascistas em Charllottesville em 2017.

Uma saída dos trabalhadores, dos negros, das mulheres e migrantes

O esforço racista de Trump em dividir a sociedade é um desafio a ser enfrentado pelos próprios trabalhadores e jovens norte-americanos. Mesmo que o republicano consiga mobilizar e radicalizar um setor significante de sua base, por outro lado há nos EUA um interessante fenômeno à esquerda e crítico ao próprio sistema capitalista. Mulheres, a população negra e os trabalhadores latinos são a cabeça desse movimento. Não à toa a política anti-imigrante de Trump impacta fortemente esses setores, forçando candidatos conciliadores do Partido Democrata, como o próprio atacado Elijah Cummings, a criticar fortemente Trump. No entanto, a vitória sobre o divisionismo racializado estimulado por Trump começará quando o trabalhador branco ressentido passar a ver o seu companheiro de classe, seja negro, mulher ou estrangeiro, como o seu aliado contra o governo dos banqueiros e dos monopólios imperialistas norte-americanos.

 
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