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Juventude Faísca
A que serve retomar a obra de Domenico Losurdo?
Redação

Neste vídeo, Seiji Seron, militante da Juventude Faísca e do Movimento Revolucionário de Trabalhadores (MRT), busca responder essa questão. Como aponta ele, é preciso que nos perguntemos: a serviço de que se encontra a atual reivindicação do intelectual italiano por parte de um setor da esquerda brasileira?
Editado em 07/09/2020

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“Cavalaria vermelha”, Kazimir Maliévitch

Em seu último livro publicado em vida, O marxismo ocidental, Losurdo apresenta Leon Trotski como o principal representante do marxismo ocidental dentre os bolcheviques, reciclando caricaturas como um suposto “messianismo eurocêntrico” em relação à revolução mundial vis-à-vis um suposto complexo de inferioridade da Rússia em relação ao Ocidente, e uma negação teimosa do grande “processo de aprendizado” de toda revolução que conquista o poder. Como afirma, nada poderia estar mais distante da verdade. Basta ver as propostas econômicas de Trótski e da Oposição de Esquerda nos anos 1920, que debatia a necessidade de avançar com a industrialização e a coletivização ainda antes da grande virada dos Planos Quinquenais e da coletivização forçada, numa época em que o Stalin ainda dizia que a Oposição propunha dar ao camponês um gramofone e que a chave era que os camponeses “enriquecessem”, estimulando a diferenciação social no campo

Em debate com vídeo de Jones Manoel à TV Boitempo sobre como e por quê ler Domenico Losurdo – em que o jovem militante do PCB afirma que a obra losurdiana propõe uma refundação dita “não-eurocêntrica” do marxismo pelos olhos dos povos coloniais e das nações oprimidas pelo imperialismo – Seiji aponta as armadilhas desse tipo de leitura.

Segundo ele, as revoluções “anticoloniais” que Domenico Losurdo reivindica como modelo são ou processos que – apesar de terem tido conquistado uma independência política formal em relação às antigas metrópoles – não só não expropriaram a burguesia e avançaram numa transformação socialista da sociedade, como também não modificaram substancialmente a condição de nação atrasada e oprimida pelo imperialismo. Retoma, ainda, a título de exemplo, revoluções como a chinesa e a vietnamita, que expropriaram a propriedade burguesa, mas constituíram um Estado burocrático, sem auto-organização das massas trabalhadoras, e que, hoje, o capitalismo foi restaurado nesses países pela própria burocracia do partido dirigente.

Outro debate proposto com Jones Manoel refere-se à defesa da posição minoritária que o militante do PCB fez de Domenico Losurdo sobre a China. Quando veio ao Brasil para participar do seminário do Sesc e da Boitempo sobre os 100 anos da Revolução Russa, Losurdo disse que a China irá se tornar um país socialista até 2050. Além disso, no Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), numa mesa do Congresso da UNE sobre a Guerra Híbrida, Jones Manoel se referiu à China como um país “sério” por esta ter proibido instrumentos “imperialistas” como o WhatsApp, o Facebook e o Instagram.

Como explica Seiji, a China não só já é um país capitalista, como ela própria já demonstra seus próprios traços imperialistas em desenvolvimento nas exportações de capital que faz em países africanos e latino-americanos. Daí as perguntas: que país sério é esse que ameaça arrastar o mundo pra barbárie não em prol do socialismo ou da emancipação dos povos, mas sim numa disputa pela hegemonia do mundo capitalista contra os EUA, que ela atualmente enfrenta na guerra comercial? Que país sério é esse que tem uma das taxas de exploração mais altas, se não a mais alta do mundo, onde os trabalhadores são impedidos de se organizar livremente e os estudantes que se aproximam das ideias do marxismo revolucionário, mesmo que com muitas ilusões na ideologia e no período de governo de Mao Tsé Tung, são tratados como os principais inimigos do partido da burocracia?

No vídeo, o militante da Juventude Faísca defende que um marxismo não-eurocêntrico e que coloque em primeiro plano a luta contra o imperialismo não pode prescindir da Teoria da Revolução Permanente de León Trótski. Isso porque trata-se de uma teoria que não dissolve a classe trabalhadora dentro da nação; antes, explica que só o proletariado, conquistando o poder político e a hegemonia sobre as amplas massas pobres e oprimidas da sociedade, pode resolver as tarefas anticoloniais e de libertação nacional, que necessariamente se confundem com a própria revolução socialista internacional, sob pena de retroceder caso contrário, como os processos reivindicados por Domenico Losurdo. É um marxismo que, para levar à vitória a Revolução Brasileira, para levar à vitória a luta de libertação nacional do povo palestino, para defender as conquistas da Revolução Cubana, país no qual avança a restauração capitalista pelas mãos da própria burocracia castrista, não pode considerar “autofóbico” e “anticomunista” uma crítica fria, mas inflexível, do stalinismo, que não foi um “mal menor” ou um mal necessário.

É preciso dizer que stalinismo não só foi uma ditadura burocrática contra os trabalhadores, como também dirigiu o proletariado mundial à uma série de derrotas, como a própria Revolução Chinesa de 1925-27, a Greve Geral britânica de 1926, a Revolução Espanhola nos anos 1930, a condução do Hitler ao poder pela orientação ultra-esquerdista do “terceiro período”, da identificação da social-democracia com o “social-fascismo”, que impediu a frente única antifascista na Alemanha, para ficarmos apenas em exemplos da primeira metade do século XX. E mesmo em nosso país, quando deixou que o Golpe de 64 passasse sem luta, sempre se subordinando à alguma ala supostamente “democrática” ou “progressista" da burguesia nacional, que não passa de sócia menor do capital estrangeiro.

Disso se pode dizer que é na contramão desse balanço que se reivindica muitas vezes a obra de Domenico Losurdo.

Referências:
“Como e por que ler Domenico Losurdo?”. In: TV Boitempo, YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=ReVUgX5Mw34
Domenico Losurdo, “O marxismo ocidental”, Boitempo Editorial, 2018.
“Fortaleza e contradições da economia chinesa” – Entrevista com Au Loong Yu, Ideias de Esquerda, 28 out. 2018, in: https://esquerdadiario.com.br/ideiasdeesquerda/?p=567
André Acier, “Um espectro ronda a China: a avidez herética da juventude pelo marxismo”, Ideias de Esquerda, 9 jun. 2019, in: http://esquerdadiario.com.br/Um-espectro-ronda-a-China-a-avidez-heretica-da-juventude-pelo-marxismo
Leon Trotsky, “A revolução traída”, Global Editora, 1980.

 
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