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IDEIAS DE ESQUERDA
Classe, diversidade e estratégia socialista
Josefina L. Martínez
Madrid | @josefinamar14

A questão da relação entre classe e identidades está presente nos debates da esquerda em vários países, tomando diferentes formas e matizes. Neste artigo, nos concentramos na leitura do livro Mistaken Identity: Race and Class in the Age of Trump (Verso, 2018) de Asad Haider e em algumas polêmicas que vem se desdobrando entre a esquerda norte-americana, no contexto da campanha de Bernie Sanders como pré-candidato a presidente pelo Partido Democrata.

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Tradução de Iaci Maria e Thais Oyola

Asad Haider é fundador da revista Viewpoint Magazine, pesquisador de política contemporânea na Universidade de Santa Cruz, na Califórnia. Em seu livro Mistaken Identity, o autor, partindo de sua própria experiência como ativista nos EUA, aponta sua crítica para as “políticas identitárias” e a influência que estas têm tido na fragmentação dos movimentos sociais.

Mistaken Identity desenvolve a tese central de que as “políticas identitárias” tem atuado nas últimas décadas como neutralizadoras dos movimentos de luta contra o racismo. Nas palavras de Haider:

“Defino as políticas identitárias como a neutralização dos movimentos contra a opressão racial. É a ideologia que surgiu para apropriar-se deste legado emancipatório para servir ao avanço das elites econômicas e políticas”[1]

Em artigo posterior [2], Haider explica que a “tese de neutralização” permite estabelecer uma linha de demarcação entre os movimentos sociais prévios e o discurso multicultural neoliberal.

Haider argumenta que, para abordar o racismo na sociedade atual, é necessário evitar o ponto de partida metodológico estabelecido pelas “políticas identitárias”. Em primeiro lugar, porque estas consideram as opressões como se fossem algo que acontece a nível individual. De acordo com este parâmetro, a chegada de uma pessoa negra a posições de poder é vista como algo que significa necessariamente um avanço, independente das políticas que defenda. Não por acaso se torna comum entre ativistas a ideia de que, o mais importante, é que cada um “revise seus privilégios”, como se as opressões pudessem se reverter por um exercício de autoconsciência individual.

Como definição mais geral, Haider afirma que “a raça não é uma ideia ou uma identidade, ela é produzida por relações materiais de dominação e subordinação”, e afirma que se trata de “uma relação material que é inseparável do econômico, mas não restrito a ele”.

Mistaken Identity faz um percurso pelas lutas do movimento negro contra o racismo desde o século XIX, passando pela década de 1930, após a grande depressão, até a emergência da luta pelos direitos civis nos anos 1960. Sua intenção é destacar os momentos de maior conflito social, com elementos anticapitalistas e de classe, que o relato oficial posterior tratou de apagar, transformando a longa história de luta do povo negro nos EUA em um movimento “cívico” pela igualdade jurídica.

Por outro lado, Haider ressalta que a novidade, desde os anos 1960 e 70, é a formação de uma elite de pessoas negras em posições de poder, que utiliza a lógica nacionalista de unidade interclassista para esconder seus próprios privilégios de classe. Neste contexto, o autor reivindica a opção dos Panteras Negras e outros coletivos por relacionar a luta antirracista com a luta anticapitalista, no marco da radicalização política geral do período. Uma das questões talvez mais interessantes do livro é esta definição sobre a consolidação de uma elite dentro do movimento antirracista. O abandono dos elementos mais radicais do movimento havia permitido sua cooptação pelo Partido Democrata. Como resultado: “As linguagens progressistas dos novos movimentos sociais, descoladas de suas raízes de base, seriam apropriadas como uma nova estratégia da classe dominante”. O auge do processo foi o conformismo da elite negra com as políticas neoliberais de Obama.

Em outro plano, Haider retoma um argumento da filósofa norteamericana Wendy Brown, sobre o papel do Estado em relação às políticas identitárias desde os anos 1980. O reconhecimento de “queixas” de determinados grupos por parte do direito estatal acaba definindo estes segundo sua condição de vítimas. Sob a lógica de exigir que o Estado neoliberal regule ou controle os danos, os indivíduos assumem sua identidade como vítimas e não como sujeitos de emancipação. Seguindo Brown, Haider ressalta que as “políticas identitárias” se basearam em uma “renaturalização” do capitalismo. As relações sociais capitalistas já não estavam em questão.

Por fim, Haider introduz um debate sobre a relação entre o universal e o particular, ressaltando que a única forma de lutar por uma perspectiva de emancipação “universal” é defendendo que nenhum grupo se mantenha oprimido. Neste ponto, retoma a reflexão de Marx em A questão judaica, que questionava o falso universalismo do Estado burguês e da Declaração dos Direitos do Homem, revelando que não era outra coisa senão os direitos do “homem egoísta, do homem separado dos demais homens e da comunidade”.

No mesmo sentido, Haider faz referência à frase com que o líder revolucionário haitiano Toussaint L’Ouverture respondeu a Napoleão Bonaparte em 1799 em uma famosa carta: “O que queremos não é uma liberdade circunstancial, concedida somente a nós; é a adoção absoluta do princípio de que nenhum homem, nascido vermelho, negro ou branco, possa ser propriedade de seu próximo”. Haider defende, como conclusão, que é necessário retomar o legado de uma “universalidade insurgente”.

Um retorno à política de “classe” em chave nacional e corporativa?

Em um artigo publicado na revista Jacobin[3], Melissa Naschek argumenta que “Mistaken Identity pretende superar os limites das políticas identitárias, mas leva aos mesmos becos sem saída”. Naschek considera que o livro de Haider não dá uma resposta adequada, já que do que se trata é de elucidar se “a política identitária é amiga ou inimiga da política socialista”. E a resposta de Naschek não deixa margem para ambigüidades: “Ainda que Mistaken Identity seja capaz de demonstrar como a ideologia e a retórica da ‘identidade’ tem sido usadas como uma arma contra a classe trabalhadora, não chega a demonstrar de maneira plausível que alguma vez pudesse ser uma vantagem para a política socialista”.

Naschek questiona a ideia de “universalidade da insurgência” como um anticapitalismo abstrato que, na realidade, não consegue superar a somatória, como um mosaico [patchwork] de interesses particulares:

“Em lugar de uma ação baseada na classe, Haider sugere que os ativistas possam cultivar suas “próprias” questões e converter-se em um movimento de massas através de osmose. Em contraste, as coalizões da classe trabalhadora se constroem unindo os trabalhadores sobre a base de sua exploração comum, não forjadas por interesses particulares que compõe de forma abstrata com um “anticapitalismo”.

Segundo Naschek, Haider se mantém na “lógica culturalista liberal com sua afirmação de que a autodeterminação negra e o socialismo são mutuamente dependentes”. Diante do que considera um fracasso das políticas particularistas da identidade, que fragmentam a classe trabalhadora, Naschek opõe a necessidade de um “universalismo de classe” e “uma estratégia capaz de acumular uma força suficiente na sociedade não somente para articular demandas mas também para colocá-las em prática”.

E qual seria essa estratégia? Para a autora, se trata de um programa baseado em reivindicações econômicas e módicas medidas reformistas para garantir atendimento médico para todos, “um planeta habitável” (sic), educação de qualidade e “respeito e segurança no local de trabalho”. Um programa que, desde seu ponto de vista, é encarnado pelo pré-candidato democrata Bernie Sanders.

“Hoje, com a popularidade de Bernie Sanders e o ressurgimento da atividade sindical, as circunstâncias finalmente estão ressurgindo para um programa político capaz de fomentar a solidariedade da classe trabalhadora de massas. Em seu lugar, Haider quer que recorramos ao modelo que fracassou na classe trabalhadora durante anos: aceitar retoricamente o particularismo baseado na identidade às custas implícitas do universalismo baseado na classe.”

Em artigo escrito para o La Izquierda Diario do Estado Espanhol[4], Warren Montag e Joseph Serrano polemizam acertadamente com o que chamam de “anti-antirracismo na esquerda” norte americana, posições como a de Naschek, que consideram que, mediante algumas reformas econômicas – nos marcos do próprio sistema – é possível terminar com o racismo (ou o resto das opressões). Afirmam que estas posições “vêem a auto-organização dos setores particularmente oprimidos como algo desagregador e um obstáculo para alcançar estas reformas”.

Montag e Serrano polemizam com a ideia de que o racismo seja apenas um “epifenômeno”[5] da base econômica, que desapareceria de forma automática ao se erradicar a desigualdade mediante algumas reformas sociais. Para eles:

“[o racismo] não é um epifenômeno, um conjunto de ilusões ou ideias que simplesmente se evaporarão quando as condições econômicas mudarem. Pelo contrário, existe como um complexo de formas práticas e institucionais, estatais e não estatais, de submissão, coerção e violência. Nem as balas da polícia, nem os centros de detenção da ICE (Serviço de Imigração e controle de fronteiras, na sigla em inglês), nem as formas extra-legais e consuetudinárias da supremacia branca violenta, podem desaparecer simplesmente ganhando aumentos salariais e maiores níveis de sindicalização. Nem sequer a transformação socialista pode, por si só, acabar com o racismo, que persiste em hábitos e costumes que somente mudarão através de uma luta prolongada”[6]

Os autores questionam o reducionismo economicista de posições como as de Naschek. Eles apontam que sua defesa de uma "universalidade" de classe é, na verdade, nada mais que economicismo, uma adaptação oportunista à classe trabalhadora branca e seus preconceitos. Eles concluem que a luta não é entre "universalismo" e "particularismo", mas entre dois "universalismos antagônicos". Entre um falso universalismo que exige que as demandas particulares sejam subordinadas a algumas medidas econômicas parciais, ou um universalismo que "inclui os laços profundos, tanto estratégicos como estruturais, entre a exploração capitalista e a opressão racial".

Nesse sentido, retomam o exemplo do Movimento Sindical Revolucionário de Detroit no final da década de 1960. Após a grande repressão dos distúrbios de Detroit em 1967, os trabalhadores negros começaram a se organizar sindicalmente nas fábricas automotivas da cidade, enfrentando o racismo das patronais e a hostilidade das direções dos sindicatos. Nesse contexto, levaram adiante greves combativas em várias fábricas, como a Chrysler e a Ford: "Sua organização de base e suas greves selvagens, que começaram em maio de 1968, não só não alienaram os trabalhadores brancos, mas sim atraíram um número significativo deles para a luta e desempenharam um papel importante no início de um movimento militante plurirracial em várias indústrias chaves" [7].

Classe, diversidade e hegemonia

Algo chama a atenção, e é que há de fato na esquerda um retorno ao debate sobre a questão de classe. Isso não é exclusivo da esquerda norte-americana, mas está sendo desenvolvido internacionalmente. Depois de várias décadas em que a ideia do desaparecimento da classe trabalhadora foi adotada sem críticas por uma grande parte da intelectualidade de esquerda, onde apenas falar sobre a existência da classe trabalhadora era considerado algo "velho" ou "pré-histórico", o debate sobre a classe irremediavelmente retorna, e isso é um sintoma muito interessante dos novos tempos.

O paradoxo, no entanto, é que o debate começa mais como uma reação a dois fenômenos conservadores: a votação do Brexit na Inglaterra e a chegada de Donald Trump à Casa Branca. Desde então, diferentes setores da esquerda reformista tentaram explicar por que certos setores da classe trabalhadora e as classes médias arruinadas votaram em Trump (ou na extrema direita de Le Pen na França). E sua conclusão é que, para disputar a base eleitoral à direita, um programa de certo "chauvinismo do bem-estar" deve ser adotado. Ou seja, medidas econômicas de distribuição social, nos contextos nacionais, e para "nossos trabalhadores, primeiro", compreendendo que questões como a luta contra o racismo, contra a opressão imperialista ou a opressão às mulheres podem "dividir". O que está por trás é o cálculo puramente eleitoralista de que a introdução da questão racial ou da questão de gênero impedirá a expansão da base eleitoral da esquerda reformista.

Mas essa aproximação da questão de classe, corporativa e nacionalista, na realidade não é tão nova assim. Pelo contrário, tem sido uma marca da política das burocracias operárias em vários momentos históricos, o oposto do método e estratégia do marxismo revolucionário.

Porque, contra qualquer definição corporativa de "interesses de classe", deve ser lembrado que foi Marx quem primeiro assinalou que o racismo dos trabalhadores ingleses em relação aos trabalhadores irlandeses gerava uma divisão na classe trabalhadora; uma divisão fomentada pela burguesia na qual residia "o autêntico segredo da manutenção de seu poder":

“... a burguesia britânica, além de explorar a miséria irlandesa para piorar a situação da classe operária da Inglaterra através da imigração forçada de irlandeses pobres, dividiu o proletariado em dois campos inimigos. O impulso revolucionário do operário celta não se une harmoniosamente com a natureza positiva, mas lenta, do operário anglo-saxão. Pelo contrário, em todos os grandes centros industriais da Inglaterra há um profundo antagonismo entre o proletário inglês e o irlandês. O operário médio inglês odeia o irlandês, a quem ele considera como um rival que reduz os salários e o padrão de vida. Ele sente uma antipatia nacional e religiosa em relação a ele. Ele o olha quase como os pobres brancos dos estados do sul da América do Norte olhavam para os escravos negros. A burguesia artificialmente promove e mantém esse antagonismo entre os proletários dentro da própria Inglaterra. Ele sabe que nesta divisão do proletariado reside o autêntico segredo da manutenção de seu poder”. [8]

Essa tendência vai se aprofundar significativamente na época imperialista, quando a espoliação generalizada das colônias permite a formação de uma aristocracia operária nos países centrais. Esta será a base material para o surgimento de fortes burocracias nos sindicatos, assim como das tendências economicistas, revisionistas e reformistas dos partidos operários, contra as quais combateram Rosa Luxemburgo, Lênin, Trotsky e os marxistas revolucionários em distintos momentos. O ponto culminante dessa concepção nacionalista da classe trabalhadora se manifestou na catástrofe de 1914, quando a Segunda Internacional votou a favor dos créditos de guerra, abandonando os interesses da classe trabalhadora internacional para abraçar o nacionalismo das nações imperialistas.

A Terceira Internacional, por outro lado, é fundada após a Revolução Russa, fazendo um chamado a lutar pelo poder da classe trabalhadora, pela emancipação das mulheres e pela autodeterminação de todos os povos oprimidos, incluindo os negros nos Estados Unidos. Em um informe sobre a situação nos Estados Unidos para o Segundo Congresso da Internacional Comunista (1920), o jornalista revolucionário John Reed declarou:

Os comunistas não devem permanecer à margem do movimento negro que exige sua igualdade social e política e que, nestes momentos, em um momento de rápido crescimento da consciência racial, está se espalhando rapidamente entre os negros. Os comunistas devem usar esse movimento para desmascarar a mentira da igualdade burguesa e enfatizar a necessidade de uma revolução social que não apenas liberte todos os trabalhadores da servidão, mas também seja a única maneira de libertar o povo negro escravizado [9].

Vão no mesmo sentido os debates de Leon Trotsky com os trotskistas norte-americanos sobre a importância de incorporar as demandas específicas do movimento negro ao programa revolucionário e dar todo apoio à luta pela sua autodeterminação 10. Poderíamos citar muitos outros exemplos, mas este rápido apontamento tem a intenção apenas de mostrar quão longe se encontra a tradição marxista revolucionária das posições reducionistas ou corporativas, que desprezam a importância de lutar contra as opressões de raça ou gênero como parte de uma política de classe.

Diante da deriva pós-moderna e neoliberal das "políticas da identidade" e sua instrumentalização pelas classes dominantes, não representa nenhuma alternativa uma política reformista que procura justificar-se em uma suposta defesa de interesses "universais" de uma classe trabalhadora nacional, quando esta posição é a desculpa para apoiar um pré-candidato do Partido Democrata, um partido que historicamente apenas defendeu um tipo de "universalismo", o das grandes corporações capitalistas e os interesses imperialistas dos Estados Unidos.

Enquanto Donald Trump avança em maiores ataques aos direitos da classe trabalhadora de origem imigrante e chega a acordos com o presidente do México para fortalecer militarmente a fronteira, é reacionário qualquer discurso sobre uma "política de classe" que não leve em conta que a classe trabalhadora norte-americana está profundamente racializada e feminizada.

Mas a essa caricatura da "política de classe" não opomos uma recaída na política de identidade, nem à indeterminação estratégica de um anticapitalismo abstrato, como um movimento de movimentos. É importante destacar que a articulação de movimentos é insuficiente como uma estratégia para derrotar o capitalismo e não leva em conta, além disso, seu caráter interclassista. Acreditamos que, em vez disso, é necessária uma estratégia política que recupere a noção de hegemonia. Isso implica reconhecer a importância da centralidade de classe para lutar contra todas as opressões de gênero, raça ou sexualidade, no contexto de uma luta anticapitalista e revolucionária por outra sociedade.

[1] Asad Haider, Mistaken Identity: Race and Class in the Age of Trump, Verso, 2018.
[2] Asad Haider, “Zombie Manifesto”, 1 septiembre de 2018, https://www.versobooks.com/blogs/4002-zombie-manifesto
[3] Melissa Naschek, “The Identity Mistake”, Jacobin, 28/08/2018.
[4] Publicado no Semanário Contrapunto, suplemento ideológico da rede internacional La Izquierda Diário para o Estado Espanhol: “Socialismo, universalismo y antirracismo”, por Warren Montag e Joseph Serrano. https://laizquierdadiario.es/TRIBUNA-ABIERTA-Socialismo-universalismo-y-anti-antirracismo
[5] Seria como tratar o racismo como um fenômeno acidental que acompanha a base econômica, sobre a qual não tem influência (N.T).
[6] Warren Montag y Joseph Serrano; “Socialismo, universalismo y anti-antirracismo”
[7] Idem
[8] Karl Marx, trecho de uma comunicação confidencial, março de 1870, publicada em https://www.marxists.org/espanol/m-e/1870s/educ70s.htm#fn0.
[9] “Minutes of the Second Congress of the Communist International, Fourth Session, July 25”, em https://www.marxists.org/history/international/comintern/2nd-congress/ch04.htm#v1-p121.
[10] León Trotsky, “On Black Nationalism, Documents on the Negro Struggle”, publicado em https://www.marxists.org/archive/trotsky/works/1940/negro1.htm.

 
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