www.esquerdadiario.com.br / Veja online / Newsletter
Esquerda Diário
Esquerda Diário
http://issuu.com/vanessa.vlmre/docs/edimpresso_4a500e2d212a56
Twitter Faceboock
INTERNACIONAL
Crise em Israel: divisão entre a direita e a extrema-direita enfraquece Netanyahu. Benny Gantz se fortalecerá?
Artur Lins
Estudante de História/UFRJ

O primeiro-ministro Benjamin Nentanyahu, eleito nas últimas eleições em Israel, não conseguiu formar maioria no Knesset (Parlamento israelense) para governar. Por causa disso os parlamentares votaram pela dissolução do Knesset para que novas eleições ocorram no país em setembro.

Ver online

Em abril, o partido de Netanyahu, o direitista Likud, conquistou 35 das 120 cadeiras no Knesset, mesmo com sua principal figura pública sendo acusada diretamente em três casos de corrupção que escandalizou uma parte expressiva da população em Israel. No entanto, em semanas de negociação difícil entre os membros de sua própria coalizão aliada, divididos entre seculares e fundamentalistas ultra-ortodoxos, não foi possível para Netanyahu formar uma coalizão governamental que lhe desse maioria. Depois disso, por 74 a 45 votos, os parlamentares votaram em dissolver o Knesset e abrir novas eleições.

O que proporcionou o racha entre a direita e a extrema-direita israelenses foi a obrigatoriedade do alistamento militar (já válido para todos os que nascem em Israel e são judeus) virar lei também para os judeus ultra-ortodoxos, que na atual legislação estão isentos de serem obrigados a se juntarem nas fileiras das forças sionistas de ocupação colonial sob os territórios palestinos. Os partidos religiosos e fundamentalistas não querem que os homens judeus ultra-ortodoxos sejam forçados a servir no exército e se opõem veementemente ao projeto de lei dos setores seculares da direita. Por outro lado, Avigdor Lieberman, importante aliado de Netanyahu, condicionou a entrada de sua força política na coalizão governamental se o projeto de lei obrigando os religiosos a servir no exército fosse parte das metas do governo.

Netanyahu tentou até o último momento impedir que tal crise se instalasse, chegando a conversar com a centro-esquerda do Partido Trabalhista para formar governo e evitar o impasse, o que não adiantou, pois os trabalhistas rejeitaram a proposta. Lieberman é um político aliado do primeiro-ministro de longa trajetória, e era ele que o Likud queria colocar dentro do governo.

Depois que a crise já embarrava a possibilidade de um governo formado com maioria, Netanyahu se apressou em declarar publicamente que na próxima campanha eleitoral ele terá a vitória. Por sua vez, uma das principais figuras de oposição ao primeiro-ministro no âmbito eleitoral, o general Benny Gantz, criticou Netanyahu por ter gasto muito tempo em “três meses loucos” (contando pré-campanha, a campanha e as negociações para formação de governo), para que uma nova campanha eleitoral fosse levada a cabo, gastando milhões do erário público para não aceitar sua “incapacidade legal” em assumir um quinto mandato depois dos vários casos de corrupção que envolvem seu nome, de sua família e de aliados políticos e empresariais.

Novo cenário político depois das eleições em setembro? Gantz pode vencer Netanyahu?

Especialistas dizem que seja difícil um resultado eleitoral diferente do primeiro, apesar de sempre estar aberta a possibilidade de reviravoltas, adicionando que o clã Netanyahu, família que domina a política e a hegemonia direitista há anos em Israel, está determinada em permanecer no poder, buscando proteção legal contra as alegações de corrupção que pairam sobre o clã.

Por outro lado, também é comum encontrar nas análises que a formação do governo e a vitória eleitoral representam muito mais do que a possibilidade ou não de Netanyahu governar, mas sim o seu próprio futuro político, pois, com os casos de corrupção e a vontade popular em renovar o cenário político tradicional, se Netanyahu fracassa significa que toda uma força política poderá enfrentar uma crise existencial de grandes proporções.

Os membros da oposição já começam a campanha política contra Netanyahu, especialmente depois que um ato em frente ao Museu de Arte em Tel-Aviv tomou corpo. No entanto, o setor que mais parece capitalizar o sentimento anti-establishment é a direita em torno da formação Azul e Branco, do general Benny Gantz, que nas últimas eleições perdeu para Netanyahu por uma margem muito estreita de votos.

Yair Lapid, uma das figuras principais dessa formação do general, disse abertamente na manifestação que Netanyahu “não pode ficar acima da lei, nós não deixaremos que se torne um ditador”. Por sua vez, o próprio Benny Gantz voltou a atirar no primeiro-ministro também, afirmando que “nós não deixaremos que Netanyahu torne a democracia de Israel em uma corte privada de uma família real ou como um sultanato”.

A esquerda, especialmente em torno do partido Meretz, apesar de ter composto as manifestações contra o primeiro-ministro eleito durante a crise da formação de governo, não consegue se projetar no momento como uma oposição à altura do Likud e da formação Azul e Branco.

Portanto, entre as direitas de Israel a disputa acirrada entre elas parece se repetir nas eleições de setembro. Entretanto, não custa lembrar, como já fazemos em colunas anteriores do Esquerda Diário, Benny Gantz e sua organização política, o Azul e Branco, não se constituem como a representação do fim da política colonial sob os territórios palestinos. Muito pelo contrário.

Esse general foi responsável por inúmeras operações genocidas contra os palestinos da Faixa de Gaza, tendo na sua conta milhares de mortes de crianças, famílias inteiras, e de trabalhadoras e trabalhadores palestinos. Inclusive, na sua campanha eleitoral, eram veiculadas imagens dos ataques israelenses sob os territórios ocupados, enquanto Netanyahu fazia campanhas alucinantes comparando Benny Gantz e seu suposto discurso “moderado” com o espectro da esquerda. Isso é importante ressaltar para que nossos leitores não sejam enganados da postura “centrista” que as grandes mídias brasileiras e internacionais vendem sobre sua imagem.

Uma saída para o fim do sofrimento palestino e que também seja uma solução à crise orgânica vivida pelos trabalhadores israelenses passa por sua unidade política contra a política racista, divisora e colonial do sionismo em Israel. Nesse sentido, Benny Gantz, a centro-esquerda trabalhista e o Likud de Netanyahu não se constituem como a solução, pois nenhum deles resolverá os problemas mais profundos no Estado sionista, que só virá com um Estado formado de todas as etnias e sem a influência racista e colonial nefasta que a burguesia israelense, com o apoio dos imperialismos ocidentais e dos monarcas absolutistas da Península Arábica, quer impor a toda a população trabalhadora de Israel, sendo ela judia, palestina ou africana. É preciso batalhar pela restituição do território histórico à Palestina, com base na destruição do Estado sionista de Israel. Lutando por uma Palestina operária e socialista, rechaçando a influência do imperialismo, será possível a harmônica convivência de judeus e árabes.

 
Izquierda Diario
Redes sociais
/ esquerdadiario
@EsquerdaDiario
[email protected]
www.esquerdadiario.com.br / Avisos e notícias em seu e-mail clique aqui