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INDEPENDÊNCIA DE CLASSE
O que o Boulos (PSOL) fazia numa reunião com a direita inimiga dos trabalhadores?
Letícia Parks

Foi no dia 21 de maio que, no apartamento de luxo do jurista Pedro Serrano, representantes de uma série de forças políticas do país se reuniram para construir uma unidade cujo conteúdo mais concreto é "Direitos Já". Na unidade de setores burgueses que atua contra a unidade dos mais oprimidos - já que quem dita o programa são nossos inimigos do PSDB, PSD, PSB, etc - a questão que nos cerca é o que fazia Boulos (PSOL/SP) nessa reunião.

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Fernando Guimarães, do PSDB, fala aos participantes da reunião. Foto: Alex Silva/Estadão

Foi no dia 21 de maio que, no apartamento de luxo do jurista Ptista Pedro Serrano, representantes de uma série de forças políticas do país se reuniram para construir uma unidade cujo conteúdo mais concreto é Direitos Já, como explica a matéria do Estadão publicado no mesmo dia.

A unidade em construção engloba em torno dessa pauta - diga-se de passagem, abstrata -uma comunhão de partidos, vários deles da burguesia, alguns da direita tradicional como o PSDB, um inimigo declarado da classe trabalhadora, e partidos burgueses da centro esquerda, como o PSD da motosserra de ouro Kátia Abreu, o PSB que apoiou o golpe institucional, o PT e Boulos (PSOL).

Pode parecer que num momento de tantos ataques, a melhor saída seja “unir as forças”, mas esse não à toa velho debate na esquerda deve ser recuperado para refletir o que se perde em unidade da nossa classe quando se ganha uma unidade dessas burocracias e aparatos burgueses, burgueses de centro esquerda, etc.

O primeiro dado óbvio é que não pode fazer muito sentido pra nenhum lutador sério da classe operária unir bandeiras com esses que são representantes dos mais profundos interesses burgueses do país - e fora dele. O PSDB está longe de ser um aliado da luta da classe trabalhadora, e certamente impõe, em um acordo como esse, um limite de pautas que possam defender. Nessa reunião, por exemplo, o PSDB impediu que se falasse dos EUA. Não são eles, o PSDB, um partido golpista e representantes de interesses imperialistas, os mais interessados na reforma da previdência, por exemplo, o carro forte do governo federal? Interessa ao PSDB o oposto do que interessa aos trabalhadores e jovens. Esse partido está até a medula penetrado pelos interesses dos banqueiros e acionistas que lucram com a dívida pública e sonham com a promessa da capitalização da previdência.

Não à toa, o tesoureiro nacional do PT fez questão de explicitar que não importa o programa da unidade: “A Educação pode ser um ponto que nos una mais. Se não nos unificar a Previdência e a campanha Lula Livre, vamos procurar o que nos une”. Essa afirmação não deveria ser surpresa pra ninguém, já que as duas caras do PT estão aí para todo mundo ver: enquanto “organiza” a luta contra a reforma da previdência e os cortes na educação, todos os seus governadores que negociam uma reforma mais branda e um “Alckmin” a la PT - Rui Costa/BA, que defende cobrança de mensalidade nas universidades.

Bom, nessa conjuntura, o PT não ter apreço programático ou apego às demandas mais sentidas pelas massas não é de assustar tanto. A questão que nos cerca, entretanto, é o que fazia Boulos nessa reunião? Não é possível que o PSOL vá usar a confiança que trabalhadores e jovens votantes depositaram nesse partido durante as eleições para canalizar essa força em uma aliança com partidos burgueses, ao invés de colocá-la nas ruas, por objetivos práticos, com luta de classes, contra cada um dos ataques.

De qual unidade precisamos?

Participar de uma reunião como essa em nada contribui para girar os ponteiros daqueles que se referenciam no PSOL no sentido de uma batalha pela independência de classe e pela confiança, da juventude e dos trabalhadores, nas próprias forças. Submeter-se ao programa que o PSDB e o PDT toparem significa abrir mão da angústia e do ódio que vive nas massas em nome de uma unidade com os representantes de nossos inimigos. Como é possível acreditar que da aliança com partidos burgueses possa vir qualquer luta seria contra os ataques a organização sindical, a educação, aos lutadores rurais, sem-teto, indígenas, negros e mulheres, vítimas da politica histórica desses mesmos partidos? Essa que parece ser a maior “unidade da oposição” é na verdade um acordo de aparatos cujo conteúdo de classe é burguês, cheio de inimigos de classe, a negação da unidade da própria classe trabalhadora em torno do objetivo comum de unir suas forças e diferentes identidades para derrotar a reforma da previdência.

A critério de exemplo, pela unidade com o PSDB e o PDT, é preciso abrir mão da pauta dos que não querem trabalhar até morrer, ou dos que trabalham no campo e querem ter direito a aposentadoria, ao das milhões de domésticas negras que não terão como apresentar comprovantes de tempo de serviço. Dessa “unidade”, ficam de fora também os milhões de jovens que não vão se aposentar porque não terão como pagar sua capitalização, ficam também ausentes aqueles que, além de defender o ensino público, sonham e lutam por uma universidade de acesso irrestrito, sem vestibular, cheia de negras e negros, filhos da classe trabalhadora, pela livre construção do seu conteúdo curricular e da sua pesquisa científica.

Nesse caso, o PSOL parece escolher conduzir a confiança que uma importante camada de jovens e trabalhadores depositou em sua política em direção a um conglomerado de partidos burgueses e de conciliação de classes, que sequer admite críticas ao papel do imperialismo norte-americano na política nacional! O fato de serem "reuniões exploratórias" não melhora em nada a questão, quando a conclusão da reunião é, como divulgados por distintos participantes, que "aquilo que nos une é maior que o que nos divide". Como se pode ter qualquer coisa em comum com o PSDB?

A verdadeira unidade necessária - é a dos oprimidos e explorados -, única unidade capaz de derrotar os ataques à educação e se opor contundentemente à reforma da previdência. Até agora o PSOL renunciou ao papel que poderia cumprir com seus parlamentares para dar uma batalha para construção de alas antiburocráticas, classistas, com independência de classe nos locais em que esta. Renunciou à crítica as burocracias sindicais e estudantis e, diante disso, se o PSOL quiser cumprir qualquer papel na realidade deveria partir de usar a posição desses parlamentares para dar um combate contra a burocracia sindical, exigindo a construção de um plano de lutas sério para lutar contra os cortes e a reforma da previdência, unificando estudantes e trabalhadores, mulheres e homens, negras, negros e brancos.

 
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