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ELEIÇÕES ESPANHA
Sánchez ganha as eleições e Podemos pede para governar com os neoliberais “progressistas” do PSOE
Santiago Lupe
@SantiagoLupeBCN

O PSOE se prepara para governar. Unidas Podemos reitera sua oferta para entrar no Conselho de Ministros. Os partidos independentistas se fortalecem e serão decisivos. A disputa na direita se manterá aberta: Vox entre com força, o PP se afunda e o Cs emerge. Eleições que não resolvem a crise do Regime.

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Com 98,5% dos votos contados, vitória do PSOE nas eleições gerais, com 123 deputados e com 28,7% dos votos, foi confirmada. Definitivamente a moção de censura contra o governo de Rajoy, os apenas 10 meses de governo – com algumas políticas gesto e algumas medidas sociais mínimas – e especialmente o voto de medo perante a emergência do Vox, serviram ao PSOE para superar a disputa de 2016, quando conseguiu apenas 85 deputados.

Estes resultados se dão em uma eleição com uma alta participação – cerca de 75,75% - que são motorizados em grande medida pelo rechaço de centenas de milhares ao que representava o ascenso de Vox e as outras formações da direita que vem para pactuar com a extrema direita do governo de Andaluzia. Houve uma importante mobilização de voto que expressava o rechaço massivo às ideias racistas, machistas e de reação ante o movimento de mulheres e o espanholismo que encarna a formação de Abascal. Muito mais que um apoio entusiasta ao projeto de governo neoliberal “progre” que representa o PSOE de Pedro Sánchez.

Unidas Podemos obteve 42 deputados e 14,31% dos votos, nada menos que uma perda de 29 cadeiras e 7 pontos percentuais. Seu socio valenciano da Compromís perdeu ainda mais, dos 4 deputados sobrou 1. O apoio acrítico do Unidos Podemos a Sánchez nestes meses, atuando como autênticos “ministros não oficiais”, foram também um grande ativo em favor da recuperação da pata esquerda do moribundo bipartidarismo. O neorreformismo que emergiu fazem 5 anos prometendo tomar o céu por assalto, terminou defendendo a Constituição de 78, perdendo cerca da metade dos votos e consolidando-se como a muleta dos social-liberais.

A guerra pela hegemonia da direita alimentará a polarização reacionária

No entanto, os grandes perdedores a noite estavam na rua de Génova. O PP afundou até chegar aos 66 deputados, menos da metade dos 137 de 2016. Como dado relevante, não obtiveram nenhum deputado no País Vasco e apenas uma, a aristocrata Álvarez de Toledo, na Catalunha. A “renovação” de Casado colheu uma grande derrota que voltará a provocar tensões imprevisíveis ao partido histórico da direita espanhola. Aznarism é derrotado e devemos observar se outros barões como Feijoó abrem fogo contra a nova liderança. Mas o que aconteceu hoje aproxima a festa de uma crise que pode se tornar terminal. Porém, o corrido hoje aproxima bastante este partido a uma crise que poderia converter-se em terminal.

No campo da direita, a Cs conseguiu alcançar o ritmo do PP, com 57 deputados, 25 a mais que em 2016. Um bom resultado que, no entanto, não serve para somar com seus sócios andaluzes para que Rivera chegue à vice-presidência com Casado. Provavelmente deverá conforma-se para liderar a oposição, e disputar a partir dela a hegemonia na disputa da direita espanhola.

Porém a grande novidade veio do bom resultado de Vox. Embora tenha ficado longe nas pesquisas que lhes davam os melhores resultados, alcançou nada menos que 24 deputados e mais de 2,6 milhões de votos (um crescimento meteórico desde os poucos mais de 47.000 de 2016). A irrupção dessa força reacionária produz um terremoto no regime de partidos, na esteira de outros fenômenos internacionais.
Isto será expresso imediatamente no fato de que o espaço à direita é destinado a uma espécie de "primárias permanentes" para ver quem herda a hegemonia. Uma disputa que alimentará ainda mais a polarização pela direita nessa disputa para ver quem é mais reacionário. Os apelos à "resistência" e para enfrentar o governo da "frente popular" (sic) dos líderes da Vox, são uma antecipação de que a direita promete uma legislatura e que continuarão na ofensiva.

Se fortalecem os partidos independentistas em Euskadi e na Catalunha

Entre os partidos independentistas, a tendência tem sido de aumento significativo tanto em Euskai como na Catalunha. Prova que a questão territorial seguirá sendo uma das principais brechas da crise do regime.

EH-Bildu dobrou seu resultado com 4 deputados, 3 no País Vasco e outro em Navarra, e o PNV aumentou um, chegando à 6. Na Catalunha, ERC aumentou para 15 deputados, 6 a mais que em 2016. A lista de JxCat caiu para 7, um a menos que CDC em 2016. As internas na direção progressista claramente se resolveram a favor do partido de Junqueras, quem mais abertamente vem erguendo a bandeira do retorno ao autonomismo. Esse resultado pode facilitar a virada hesitante da direção independentista desde 2017, no entanto, outros poderes que não se apresentaram hoje nas eleições – e não o fazem nunca, como a Judicatura ou a Corona – podem manter sua linha de bunker para impedi-lo.

A melhora do ERC foi alcançada principalmente pela captura de votos no espaço dos Comunes, que perdem 5 deputados, restando 7. A equidistância da Catalunha En Comú dizem respeito ao direito de decidir e seu vínculo com um Podemos, que se recusou a convocar uma única mobilização com o povo catalão ou validou como legítimo o julgamento do Supremo Tribunal no primeiro debate, acabou cobrando seu preço.

No bloco espanholista, o PSC melhora seus resultados aos 12 deputados, 4 a mais que em 2016, e o Cs, que havia sido a lista mais votada nas regionais do 155, volta à quinta posição com seus 5 deputados. Dos 6 deputados do PP em 2016, somente lhes sobrou um e o outro foi parar na Vox. Um rechaço às teses mais ultra de novos e mais difíceis 155 contra a Catalunha é identificada.

Que possíveis governos podem sair do mapa de assentos?

O mapa de assentos resultante deste 28A desenha dois possíveis cenários governamentais, ambos com Pedro Sánchez como presidente. O primeiro, e o favorito do establishment político e do IBEX35, seria o de um possível acordo entre o PSOE e o Cs, mas é o que mais tem dificuldades hoje por hoje. Não só porque Rivera fez o rechaço à Sanchez e qualquer sinal de identidade com o PSOE ao longo da campanha, mas porque a decomposição do PP e a ascensão da Vox mantêm o espaço à direita como um campo em disputa. Desistir de fazer oposição ao novo Executivo “socialista” seria abandonar essa briga e abrir mão de capitalizar o bom resultado do Cs diante de seus dois competidores.

O outro é aquele que o Podemos Unidos vem pronunciado durante toda a campanha, um governo do PSOE com eles como parceiros principais. A soma dos deputados entre o PSOE, o Unidos Podemos, o PNV, o Compromís, o Partido Regionalista da Cantábria - com o qual são parceiros do governo regional - e até os dois da Coalición Canária - embora este seja um membro tradicional do PP -, chega em 175, faltando um para a maioria absoluta. Assim, Sanchez ainda precisaria dos votos da EH-Bildu, ERC ou JxCat - ou da difícil abstenção de Cs – para tomar posse e governar.

Ao mesmo tempo, esta segunda opção não estará isenta de contradições. Certamente o calendário eleitoral - a menos de um mês das municipais, regionais e europeias - deixa as negociações em standby. Mas, mesmo retomando mais tarde, haverá fatores - como o julgamento do processo ou a campanha que a direita moverá contra o governo que "divide a Espanha" - que pode inviabilizá-lo. Neste ponto, nem mesmo uma repetição eleitoral como a de 2015-2016 está descartada.

Se este governo vier a ocorrer, há de se ver se será uma coalizão, conforme podem Iglesias e Garzón, ou solitário e com acordos parlamentares, como preferem desde Ferraz. Seja oficialmente ou não, a Unidas Podemos se prepara para reeditar seu papel de sócios privilegiados de um novo governo dos social-liberais e dar um passo qualitativo em sua integração no novo turnismo de blocos que o regime de 78 em crise adotou.

A necessidade e urgência de pôr de pé uma esquerda anticapitalista e de classe

Como assinalou a CRT (organização espanhola membra da Fração Trotskista, assim como o MRT no Brasil) nestas eleições, não havia opção a favor dos interesses da classe trabalhadora, das mulheres e dos jovens, nem da luta por demandas democráticas contra esse regime que se expressam desde 2011. O resultado delas, que se aproxima bastante das apostas dos defensores do "mal menor", assim o atestam.

Estamos possivelmente às portas de um novo governo PSOE, que manterá o status quo e repressão a todo aquele que o questione, começando com o movimento democrático catalão, com uma agenda social liberal que, se os ares de recessão se confirmarem e que já sopram na União Europeia, voltará a aplicar ajustes e contrarreformas, como fez Zapatero. Tudo com o apoio da Unidas Podemos a este governo e com uma direita e extrema direita na ofensiva de quererem continuar ganhando terreno não só nas urnas, mas também nas ruas.

Para enfrentar o cenário de crise e ares reacionários que se avizinham, é urgente construir uma esquerda que batalhe por um programa abertamente anti-capitalista, antirregime e de classe, que coloque no centro a desenvolver a mobilização e a auto-organização operário-popular, e se proponha a lutar de modo independente a todos os governos "progressistas" e às partes que decidem sustentá-la.

 
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