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PÃO E ROSAS
Plenária do Pão e Rosas em São Paulo debate as batalhas de um feminismo socialista contra Bolsonaro
Redação

Mais de 120 mulheres e LGBTs se reuniram na plenária estadual do Pão e Rosas São Paulo, que contou ainda com delegações do Rio de Janeiro, de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul.

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Em um sábado chuvoso, mais de uma centena de mulheres e LGBTs se reuniram na Casa Marx, em São Paulo, para debater a necessidade da nossa organização contra Bolsonaro, a reforma da previdência e por justiça pela Marielle, a partir da perspectiva da construção de um feminismo socialista e revolucionário. Na mesa, estavam a professora estadual de Santo André e diretora da Apeoesp pela oposição Maíra Machado e a estudante de ciências sociais da USP Odete Cristina. Além de apresentar o Manifesto Por um Feminismo Socialista para Enfrentar Bolsonaro contaram em que consiste a agrupação internacional de mulheres Pão e Rosas, presente em diversos países do mundo organizando mulheres trabalhadoras e estudantes das mais diversas categorias.

Odete explicou como a crise internacional escancara a incapacidade do capitalismo para garantir ao menos a igualdade perante a lei, sendo os direitos das mulheres, dos negros e LGBTs os primeiros que são retirados. E como em meio a esse cenário explode um fenômeno internacional de mulheres, presente em diversos países como nas marchas contra Trump nos EUA, no Ni Una a Menos e na Maré Verde na Argentina, nas greves de mulheres do Estado Espanhol e da Catalunha entre outros processos. Para explicar o cenário atual do Brasil, debateu como essa crise se expressou de forma mais aguda num profundo questionamento político, social e econômico desde junho de 2013, passando também pelo golpe de 2016, as ocupações de escolas e universidades, as paralisações nacionais em 2017, o brutal assassinato de Marielle Franco, o avanço do autoritarismo judiciário e da Lava Jato, a prisão arbitrária do Lula e as eleições manipuladas que levaram Bolsonaro ao poder como herdeiro do golpe institucional. Além disso, pontuou como o projeto de país petista acabou fortalecendo esse setores da extrema-direita com a política do agronegócio, da repressão (no Haiti e nas favelas com as UPPs) e nas igrejas. Isso porque nunca buscou se enfrentar com o imperialismo que sempre subordinou nosso país e agora busca avançar ainda mais na submissão e exploração das nossas riquezas.

Odete discutiu também o paradoxo de como em todo esse período houve um avanço na luta pelos direitos das mulheres, o que chamamos de primavera feminista, mas, ao mesmo tempo, por se dar na maioria das vezes em separado das ações da luta de classes, acaba abrindo espaço para que setores burgueses, como a Globo, tentem cooptar nossa luta; ou, ainda, para que correntes feministas defendam que ter mais mulheres no poder é suficiente, sem levar em conta que mulheres reacionárias como Joice Hasselmann vão na contramão da luta por nossos direitos e até mesmo sem questionar qual seria o papel de mulheres que se dizem do campo progressista, como Tábata Amaral, mas que no final acabam defendendo consensuar com Bolsonaro uma reforma da previdência. Para terminar, Odete expressou como esse movimento internacional tem um protagonismo de mulheres muito jovens, que expressam toda sua força e coragem inspiradora na imagem da jovem adolescente de Guarulhos que enfrentou de peito aberto um policial armado de fuzil em sua escola, sem esquecer de como o pacote ultrarreacionário de Moro poderia permitir que aquele policial atirasse nela e ainda saísse impune.

Maíra seguiu a abertura da discussão ressaltando que é muito importante ter uma visão de que, ao passo em que avançava o movimento de mulheres no Brasil e no mundo, com avanços culturais, de costumes e valores, também se desenvolveu o golpe institucional e a extrema-direita foi ganhando espaço. Nesse sentido, pontuou que partir dessa questão expressa que se as transformações ocorrem sem uma estratégia anticapitalista, as conquistas acabam sendo pontuais e podem ser rifadas a qualquer momento. Por isso é preciso uma estratégia que em vez de separar as demandas das mulheres das necessidades do conjunto dos trabalhadores, é necessário que a batalha por nossas demandas levem ao enfrentamento contra os governos e o próprio capitalismo.

Para o Pão e Rosas, as mulheres já vêm expressando no Brasil que podem ser linha de frente das lutas contra os ataques bolsonaristas. Para tanto, é fundamental entender que os anos de governo do PT se basearam na conciliação de classes que abriu caminho para a extrema-direita e que agora oferecem às trabalhadoras nada mais do que esperar uma boa localização eleitoral para 2022. Não podemos esperar 4 anos para combater por nossas condições de vida, portanto, questionamos o PSOL, que é visto por um setor de massas como uma alternativa ao PT, mas que tem uma atuação que não se difere no sentido de buscar uma resistência parlamentar sem buscar mobilizar o conjunto das trabalhadoras e dos trabalhadores. O PSOL tem uma ala que defende a Lava-Jato e comemorou a ação de prender o Temer – como se essa prisão fosse o Fora Temer das ruas; uma outra ala que reconhece o golpe, mas que não faz nenhuma exigência à CUT e à CTB para que rompam com sua trégua e organizem os trabalhadores.

Frente a isso, a pergunta que Maíra fez para que todas refletissem foi: como construir uma resistência à Bolsonaro sem mover a força da classe trabalhadora, das mulheres e dos negros? Hoje as mulheres correspondem à metade da classe trabalhadora e é preciso mover essa força, opondo-se imediatamente aos planos do governo e rechaçando o pacote de Sérgio Moro, que servirá para dar licença para a polícia matar. Deveria ser papel de cada parlamentar do PSOL organizar a luta contra essa medida, mas vemos ao contrário, políticos como Freixo do Rio de Janeiro que integram a comissão de Moro e querem fazer melhorias no pacote. Maíra enfatizou que cada parlamentar da esquerda deveria estar na busca de mover essa força de milhões para derrotar Bolsonaro, ressaltou que faremos um chamado para o PSOL e o conjunto das mulheres lutadoras para organizar um Encontro Nacional por Justiça a Marielle.

Para finalizar, Maíra explicou que o capitalismo se apoia no machismo, na cooptação, na opressão às mulheres para explorar ainda mais a classe trabalhadora. Por isso é tão importante batalhar pelo fim do capitalismo e pela construção de uma outra sociedade. Lutamos pelas demandas das mulheres ao mesmo tempo em que consideramos que não existe emancipação das mulheres dentro desta sociedade capitalista. Assim, para enfrentar a opressão que milhões de mulheres sofrem, lutamos pela socialização do trabalho doméstico. Lutamos pelo fim do pagamento da dívida pública, que é o maior mecanismo de ingerência imperialista na América Latina.

A plenária contou com a presença de muitas mulheres, trabalhadoras e estudantes, dos mais diversos locais do estado de São Paulo, que transmitiram um pouco de como o Pão e Rosas vem atuando em cada lugar e mostrou toda a força das mulheres quando decidem se organizar. Relatos emocionantes de companheiras como a trabalhadora terceirizada Silvana, Vilma, trabalhadora do bandejão da USP, Marlete e Sandra, que são professoras do município de São Paulo e que expressaram toda a força das mulheres que descobrem como podem ter voz para atuar politicamente na sociedade, enfrentando as chefias no seu local de trabalho e até mesmo o próprio marido em seus lares. Falas inspiradoras que expressaram como essas mulheres puderam encontrar na sua organização uma enorme fortaleza para lutar contra a opressão cotidiana, o machismo, o racismo e a LGBTfobia, se colocando como sujeitos na política e nas suas próprias vidas.

As professoras Grazielle Rodrigues e Lívia Tonelli contaram um pouco sobre as batalhas em suas categorias, como a importante greve dos professores municipais de São Paulo e a paralisação protagonizada pela rede estadual contra a reforma da previdência no dia 22 de março. Mas também sobre os problemas do dia a dia escolar, de como tragédias como a de Suzano, ou a revoltante entrada da polícia para reprimir estudantes como a que ocorreu em Guarulhos, mostram a miséria da sociedade em que vivemos. Patrícia Galvão, diretora do Sintusp, contou um pouco das batalhas que as mulheres do Pão e Rosas vêm dando para a construção do Congresso de Trabalhadores da USP, Fernanda Peluci contou sobre nossas batalhas na CIPA e no metrô de São Paulo. Ambas destacaram a importância das batalhas para que os sindicatos sejam ferramentas de luta da classe trabalhadora, que tomem para si a demanda das mulheres, negros e LGBTs, atuando como verdadeiros tribunos das demandas populares. Marcello Pablito, trabalhador do bandejão da USP, saudou a plenária e colocou que luta para que as demandas das mulheres sejam encaradas em comum com as demandas de todos os trabalhadores, na batalha para que em nosso país, onde a precarização tem rosto de mulher negra, possamos lutar contra o machismo, o racismo e o capitalismo.

As estudantes Flávia Teles, Giovana Maria e Larissa Silva contaram sobre como vem sendo a atuação do Pão e Rosas nas USP e na Unicamp. Sobre nossa batalha pela organização de um Congresso dos Estudantes em cada universidade para debater as importantes lutas em defesa da educação e contra todas as medidas do governo Bolsonaro. Mas também sobre as iniciativas que levamos adiante juntamente com os companheiros da Faísca, organizando grupos de estudos, intervenções contra as comemorações do golpe militar de 64, entre outras iniciativas, sempre a partir da perspectiva de levantar um programa que questiona profundamente o elitismo das universidades públicas, sua produção de conhecimento voltada para as grandes empresas e o papel das burocracias acadêmicas e estudantis, defendendo uma universidade a serviço dos trabalhadores e de toda população pobre. Vírginia Guitzel debateu sobre a importância de lutarmos contra a LGBTfobia e construirmos um feminismo pela diversidade sexual, falando também sobre o repúdio à ação transfóbica do vereador do PSL Douglas Garcia. Vitória Barros expressou com muita sensibilidade a vida de uma jovem trabalhadora terceirizada em meio à profunda crise social no Rio de Janeiro, a importância de se organizar e como a juventude negra vem sendo relegada às mais profundas misérias nessa sociedade.

Nat Alexandre, coordenadora do Centro Acadêmico de Serviço Social da UERJ, contou um pouco das nossas batalhas para organizar os estudantes na entidade e também da importante paralisação que construímos na luta por justiça para Marielle Franco, batalhando por uma investigação independente que responda de fato quem mandou matar Marielle? Maria Elisa falou sobre a atuação do Pão e Rosas na UFMG e da importante campanha pela estatização da Vale frente à tragédia de Brumadinho, debatendo profundamente qual o papel das universidades perante uma tragédia capitalista e a precarização do trabalho expressa no fato de que a ampla maioria dos mortos eram de trabalhadores terceirizados. Valeria Muller contou como é a atuação do Pão e Rosas no Rio Grande do Sul, as nossas batalhas na UFRGS e como via muita importância no chamado a um Encontro Nacional de Mulheres que lute por justiça para Marielle.

Fernanda Montagner apresentou o livro “Brasil: ponto de mutação”, como uma das mais importantes elaborações coletivas que realizamos no último período com textos teóricos do semanário Ideias de Esquerda, no qual buscamos analisar o processo de transformação do regime desde as eleições de 2018. Explicou também por que somos feministas socialista que lutam contra a exploração e a opressão, e a divisão, muitas vezes impostas pelas burocracias sindicais e dos movimentos que divide nossas lutas, quando, na verdade, nossa principal batalha é pela unidade de todos aqueles oprimidos e explorados por esse sistema de misérias.

Veja também: Carta do Pão e Rosas à Luciana Nogueira, viúva de Evaldo: a vida não deveria ser assim

Maíra Machado encerrou a plenária ressaltando a importância dos relatos de cada companheira sobre as batalhas nas estruturas e sobre o conteúdo que estamos discutindo do nosso feminismo. Apontando como queremos sair da plenária e chegar a centenas de novas companheiras, e que o Esquerda Diário é uma ferramenta também das mulheres e LGBTs do Pão e Rosas. Colocando a necessidade de seguirmos na luta contra a reforma da previdência, exigindo das centrais sindicais e participando das ações como é o chamado de ato no primeiro de maio. E na batalha por justiça por Marielle, por isso a plenária aprovou um chamado ao PSOL e às mulheres lutadoras para construirmos um Encontro Nacional de Mulheres por Justiça pela Marielle.

Finalizando, Maíra contou do giro que estamos fazendo no país para lançar o livro “Rosa Luxemburgo pensamento e ação”, de Paul Frolich, que foi lançado no Brasil numa parceria entre as Edições Iskra e a Editora Boitempo. Com prólogo de Diana Assunção, o livro faz um resgate da vida e da militância dessa grande revolucionária que marcou época em sua luta contra o reformismo e o oportunismo na social democracia alemã e que foi assassinada por sua luta incansável pelo comunismo. Maíra declarou que “somos um grupo internacional de mulheres, com nossas companheiras do PTS, como a Myrian Bergman na Argentina e Andréa d’Atri, que está construindo o Pão e Rosas na Europa; somos profundamente confiantes na força da classe trabalhadora. Levantamos a hipótese de que frente a esse movimento internacional de mulheres que tem tanta força, e uma classe trabalhadora cada vez mais feminina e negra, apostamos que o movimento de mulheres, com as trabalhadoras na linha de frente, vai revolucionar os sindicatos e as mulheres trabalhadoras se colocarão na vanguarda do enfrentamento ao capitalismo. Nós confiamos que a revolução operária e socialista do século XXI vai ter rosto de mulher e, no Brasil, de mulher negra. Viva o feminismo socialista! Viva o socialismo e viva a classe trabalhadora!”

As mulheres e LGBT presentes na plenária tiraram uma foto em solidariedade aos trabalhadores da Donnelley, contra o fechamento da fábrica. Ao final, aconteceu uma intervenção artística em homenagem a Marielle e um samba da minas, que permitiu a confraternização entre os presentes, fortalecendo os laços de companheirismo e solidariedade entre todas as mulheres e LGBTs que participaram da plenária.

 
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