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GREVES MASSIVAS NA ARGÉLIA
Argélia: trabalhadores se organizam contra as manobras do governo
Redação
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Diante as tentativas da classe dominante de salvar o atual regime em crise, a mobilização não está enfraquecendo na Argélia. As massas populares conduzidas pelos trabalhadores entraram em greve e foram às ruas ao redor do país. Os manifestantes massivamente expressaram a rejeição da demissão constitucional de Bouteflika através do art.102 usado como manobra mais recente pelo chefe do exército Gaid Salah, em uma tentativa de salvar o regime, livrando-se de Bouteflika que já não tinha popularidade desde antes do anúncio da sua recandidatura em 2019.
Os trabalhadores também estão exigindo a renúncia de Sidi Said e os burocratas a serviço dos patrões, que agora lideram a União Geral dos Trabalhadores Argélicos (UGTA), enquanto os operários de base oscilam no poder.

Enquanto a mobilização contra o regime começou há mais de um mês, muitos setores estão em greve desde o dia 27 de março em todo o país. Os trabalhadores dos portos de Oran e Bejaia, também os de Sonacom e da Telécom em nível nacional, a companhia de Renovação de Navios do setor de petróleo em Hassi Messaoud, mas também em algumas fábricas como as de AlCost e COGEB, bem como os trabalhadores do setor público do Escritório Nacional de Saneamento, os Escritórios de de promoção e Gestão de imóveis, o Fundo Nacional de Seguro Social, a Aposentadoria, ou a ANSEJ, todos responderam presentes a esta segunda chamada à greve geral desde o começo do movimento.

No entanto, a tarefa de aderir à greve não foi simples, visto que os trabalhadores estão desapossados de sua ferramenta sindical, a central da UGTA, conduzida pela liderança burocrática personificada por Sidi Said e sua equipe. O mesmo, desempenha o papel de muleta do regime até o fim, apoiando primeiro Bouteflika contra as massas, em seguida, posicionando-se por trás do processo constitucional de remoção do presidente fantasma com o art. 102, que nada mais é do que uma manobra iniciada pelo chefe do estado-maior do exército para salvar o regime, livrando-se do Bouteflika.

Privado de uma organização sindical que defende os interesses dos trabalhadores, o chamado à greve foi transmitido nas redes sociais, bem como pelas filiais sindicais locais. Mas, apesar deste grande obstáculo, o sucesso da greve reflete a vontade dos trabalhadores de derrubar esse regime podre que condena os jovens ao desemprego, à precariedade ou ao exílio, as massas populares, atribuindo às mulheres o status de cidadãs de segunda classe, com um código familiar reacionário, amordaçando jornalistas, advogados e desprezando estudantes.

Percebendo a necessidade de reivindicar sua união para se organizar e coordenar, em nível de base, no setor público e privado, os trabalhadores apresentaram cartazes que pediam a saída de Sidi Said. Desta forma, na Assembléia Geral dos Trabalhadores da Sonacom de Rouiba, a perspectiva foi claramente declarada para recuperar o sindicato e torná-lo uma ferramenta a serviço dos interesses dos trabalhadores, bem como para desenvolver estratégias contra a liderança sindical burocrática que colabora com o regime.

Os membros do sindicato da Sonatrach (empresa petrolífera estatal da Argélia) - A Companhia Petrolífera Nacional, entraram em greve e assim, deram o exemplo para as outras categorias. A perspectiva para as próximas semanas, é, portanto generalizar a greve.

Alguns setores burocráticos denunciam Sidi Said para tomar seu lugar, e satisfazer seus próprios interesses. É preciso dar a este movimento um ritmo combativo, é preciso enterrar de uma vez por todas o regime de Bouteflika e de qualquer partido que se proponha a projetar seus ideais, através da ampliação do movimento de greve, chamando todos os setores tradicionais do movimento operário e todos os setores estudantis.

É necessário incluir um plano para atacar as empresas privadas oligarcas que se tornaram ricas através da corrupção e exploração dos trabalhadores. Essa burguesia nacional acumulou bilhões e quer uma “transição curta” para maximizar seus próprios interesses e evitar que os trabalhadores se revoltem contra suas condições de vida e trabalho. Na imagem das construtoras ou fábricas CEVITAL, onde os trabalhadores não só se matam no trabalho por causa da pobreza salarial, mas sofrem fortes repressões dos patrões quando tentam se organizar.

Por isso, é necessário que a classe trabalhadora organize um programa independente, contra os patrões, reivindicando a distribuição da riqueza e do tempo de trabalho, bem como a auto-organização contra as burocracias sindicais, com métodos democráticos radicais, como assembléias gerais soberanas e exigindo a revogabilidade das representantes eleitos.

A radicalidade de setores importantes da classe trabalhadora argelina é expressa hoje pela sensibilidade política que demonstram quanto às manobras do regime para se manter. O apelo feito por Gaid Salah, o chefe do Estado-maior do exército para usar o artigo 102 da constituição para demitir o presidente, é bem compreendido pelo que é: uma enésima tentativa de salvar o sistema. Livrar-se do elemento mais odiado pelas massas agora, isto é, Abdelaziz Bouteflika, mantendo suas instituições corruptas. Assim, poderíamos ver as bandeiras e slogans zombando do art.102 e de toda a Constituição, que nada mais é do que a consagração legislativa de um poder em plena decomposição.

O líder do exército, colocado por Bouteflika mais de quinze anos atrás, em vão para dar os ares de protetores da nação contra uma mão estrangeira, não é mais que uma ilusão. Os trabalhadores compreenderam que é justamente esse regime que vendeu a Argélia e a independência conquistada a sangue e fogo ao imperialismo.

E que, portanto, contra alianças entre o governo argelino e seus equivalentes estrangeiros, será necessário opor uma enorme solidariedade internacional entre os povos. Diante da agressão do povo palestino em Gaza pelo estado colonialista e terrorista de Israel, os trabalhadores da Sociedade Nacional de Veículos Industriais em Rouiba se manifestaram cantando “ Palestina, liberdade e Democracia”.

As manobras do poder para manter-se falham uma a uma. Pelo contrário, estimulam a combatividade das massas populares argelinas. A rejeição da manobra constitucional e a constituição do regime expressam a rejeição de suas instituições. Significa um salto importante na consciência das massas populares, para a recuperação de seus instrumentos de luta pela greve e pela auto-organização.

A classe trabalhadora não é mais enganada pela direção de Sidi Said. Demonstra sua vontade de lutar com todas as massas populares, reivindicar sua organização sindical, sua bandeira e sua independência em relação ao imperialismo. Deve agora poder impor-se como uma orientação política para a mobilização desempenhando um papel central para colocar na agenda a satisfação das reivindicações contra a miséria, o desemprego, a exploração, a insegurança, bem como para responder a aspirações democráticas das massas populares contra a corrupção, moradia precária, acesso à saúde, educação e informação. É somente desse modo que a perspectiva de uma Assembléia Constituinte Revolucionária pode emergir, sem emanar das entranhas apodrecidas do regime atual.

 
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