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Organizar os estudantes rumo ao dia 22, preparar um congresso da USP
Faísca USP

O chamado para um dia nacional de luta, no dia 22 de março, coloca em discussão
como os estudantes da USP podem se preparar para atuar na luta contra a reforma da
previdência. Mas acima de tudo, como podem se organizar frente ao governo
Bolsonaro. Para debater quais são as perspectivas do movimento estudantil na USP e
da oposição de esquerda ao governo, conversamos com Mariana Duarte, estudante
de Letras na USP e Odete Cristina, estudante de Ciências Sociais, militantes da
juventude Faísca e do grupo de mulheres Pão e Rosas na universidade.

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ED: Como vocês veem a preparação para o dia 22, que vem sendo chamado como um dia nacional de luta contra a reforma da previdência, entre os estudantes?

Mariana: Existe uma enorme politização entre os estudantes. Desde a calourada vêm se expressando muitas discussões e debates onde está claro a vontade de organização e discussão de ideias políticas frente ao governo Bolsonaro, discutindo como chegamos até aqui, como essa extrema direita hoje está na presidência e a relação desse governo com a própria crise internacional, pensando inclusive que nessa semana Bolsonaro está nos Estados Unidos se reunindo com Trump, escancarando e aprofundando a subordinação do país ao imperialismo dos EUA. Inclusive rechaçamos profundamente qualquer tentativa de golpe imperialista na Venezuela e o papel de capacho que Bolsonaro quer que o Brasil cumpra nesse avanço do imperialismo na América Latina. E fazemos isso sem dar nenhum apoio político ao governo de Maduro.

Pude conversar com alguns colegas que expressaram muito dessa dúvida sobre como poderíamos nos colocar diante desse chamado para um dia nacional de luta contra a Reforma da Previdência. Infelizmente a gestão do Centro Acadêmico do curso de Letras, a Viramundo, composta pelo PT, Levante Popular da Juventude e estudantes independentes, ainda não organizou nenhuma assembleia que promovesse esse debate entre os estudantes. Como consequência dessa política, não tivemos blocos organizados nem no 8 de março, nem na luta por justiça pela Marielle, dia 14. Agora, com esse chamado contra a reforma da previdência, o CAELL fez um evento de facebook convocando para a concentração de um bloco dos estudantes da Letras. Na verdade, para discutir qualquer rumo dos estudantes do curso era fundamental que tivessem organizado uma assembleia, em que pudéssemos debater como desde o nosso curso podemos participar desse dia, qual política defender, entre outras questões. Nós, da Faísca, oposição à atual gestão, iremos construir esse bloco de estudantes da Letras justamente pela importância que tem a luta contra a reforma da previdência, mas é fundamental que o CAELL construa de fato esse bloco e não seja um evento formal na internet.

Essa organização desde a base não deveria acontecer somente na Letras. O PT e o Levante Popular da Juventude, juntamente com a UJS, são parte da gestão Nossa Voz do DCE e poderiam aproveitar que estão em todos os cursos da USP, com seus quase 500 diretores eleitos, para organizar em cada faculdade assembleias e reuniões, debatendo como os estudantes podem se organizar contra a reforma da previdência, pautando também a necessidade de nos unificar com os trabalhadores. Nesse sentido, nós, da juventude Faísca, como oposição de esquerda ao PT na Letras, ao DCE na universidade e à direção da UNE nacionalmente, defendemos que é fundamental a organização desde a base por meio de assembleias e debates em cada curso. Imaginem a diferença que faria se a UNE organizasse os estudantes em cada universidade, pública e particular, na qual eles são parte do centro acadêmico?

E se cada sindicato dirigido pelo PT e PCdoB também fizesse isso? Com certeza poderíamos expressar com muito mais força nossa luta contra a reforma da previdência no dia 22, como parte de um plano de lutas construído e organizado em cada escola, em cada universidade, em cada fábrica e local de trabalho de todo o país.

ED: Qual a opinião de vocês sobre o papel do movimento estudantil e da oposição de esquerda ao governo Bolsonaro nesse momento?

Odete Cristina: Como a Mari colocou, vemos que existe uma enorme politização entre a juventude. Essa politização é um terreno muito fértil para o debate das grandes ideias, que tanto incomoda Bolsonaro e seus seguidores. Esse sentimento é a base onde podemos nos apoiar para fazer o movimento estudantil voltar a ser um fator na política nacional. Meu curso, Ciências Sociais, vem sendo bastante atacado pelos bolsonaristas, como o exemplo máximo daquilo que eles acham que é dinheiro jogado fora, um curso que forja as pessoas com pensamento crítico e que consequentemente expressa muito questionamento à política levada adiante pelo presidente, e também um desejo de atuar coletivamente como militantes políticos. A atual gestão do CEUPES, a Florescer sem Medo, é composta por muitos desses jovens de esquerda que não se conformam com os absurdos desse governo e também por correntes do PSOL, como o Afronte, o Rua, o Juntos, e outras organizações como PCB e Vanguarda Socialista. Nos atos do dia internacional das mulheres, e do 1 ano do assassinato de Marielle, eu e vários dos meus colegas estivemos nas ruas construindo blocos do curso que foram expressão dessa vontade de atuação política, mesmo sem a gestão do centro acadêmico ter realizado naquele momento um espaço de auto-organização dos estudantes. Isso também se expressou entre os estudantes da Pedagogia, onde o Afronte e a Vanguarda Socialista também são parte da gestão do Centro Acadêmico, e no dia 14, devido à falta de uma assembleia para deliberar um posicionamento comum, os estudantes de algumas turmas se auto-organizaram para pedir que seus professores liberassem suas aulas e que eles pudessem ir ao ato.

Fico pensando como essa disposição pode se colocar agora frente ao chamado do dia 22. Seria muito fundamental se, além da organização de uma assembleia, também votássemos um chamado a que o DCE organizasse em todos os cursos espaços de discussões com os estudantes, como a Mari colocou. Acredito que um chamado assim, é parte fundamental da diferença que os setores de oposição de esquerda podem fazer contra a lógica burocrática que a direção atual do DCE impõe ao conjunto do movimento estudantil. E seria muito importante que aqueles que se colocam como oposição de esquerda ao PT, como é o PSOL, pudesse se contrapor a enorme separação que esse partido impõe da política no parlamento com a luta nas ruas.

Buscando organizar desde a base os estudantes e os trabalhadores, mas não se contentando somente com atos que reúnam apenas uma vanguarda de poucos milhares e uma atuação meramente parlamentar. Mas buscando fazer a diferença também com um chamado para os demais centros acadêmicos, DCEs e sindicatos, para toda a UNE e as Centrais Sindicais, organizarem um plano de lutas com assembleias e reuniões de base que nos permita preparar a luta contra a reforma da previdência e todos os ataques de Bolsonaro, a começar pelo ato na sexta. Onde a atuação dos parlamentares estaria a serviço de impulsionar essa organização e luta desde a base.

ED: Então para vocês, esse dia 22 deveria ser parte de um plano articulado de luta contra a reforma da previdência e os ataques de Bolsonaro?

Mariana: Sim. Para nós o dia 22 precisa ser encarado como parte de um plano de lutas, que deve ser debatido profundamente entre os estudantes, buscando formas que nos permitam estar ao lado dos trabalhadores, tanto de dentro da Universidade, como os funcionários e professores, organizados respectivamente desde o SINTUSP e Adusp, mas principalmente com os trabalhadores de fora da USP. Com os professores da rede pública, os bancários, os metalúrgicos, os operários das fábricas e tantos outros. Buscando organizar uma luta unificada contra a reforma da previdência. Ligando essa batalha com outras questões importantíssimas como por exemplo, seguir exigindo justiça por Marielle, batalhando por uma investigação independente sem nenhuma confiança nessa justiça que um ano depois ainda não respondeu: quem mandou matar Marielle? Sendo que na última semana, com a prisão dos assassinos, ficou ainda mais claro o caráter político desse brutal assassinato, e que os assassinos eram milicianos ligados com a família de Bolsonaro. O Estado é responsável e nós queremos saber quem mandou matar Marielle e Anderson, por isso também defendemos a importância de uma investigação independente.

ED: Mas vocês acham que somente uma assembleia pode dar conta de debater todos esses temas?

Odete: Não. Sabemos que essas discussões e os debates são muito profundos e somente o espaço de uma assembleia é muito insuficiente frente a tantos desafios que o movimento estudantil tem, frente a um governo eleito pelas eleições mais manipuladas da história, após um golpe institucional e o avanço do judiciário, que tem uma das suas máximas expressões de autoritarismo na prisão arbitrária de Lula. Por isso, propomos a realização de um Congresso de Estudantes da USP. Um congresso com delegados eleitos em todos os cursos, a partir de muito debate e discussão entre os estudantes. Preparar a realização de um congresso deveria ser a prioridade número um dos Centros Acadêmicos e do DCE, pois esse seria o espaço privilegiado para debatermos, por exemplo, quais os efeitos do golpe e do avanço do autoritarismo do judiciário na política nacional atual? Inclusive existem organizações dentro do movimento estudantil que até hoje acham que não foi golpe, como o PSTU. Ou outras, como o Juntos, que durante muito tempo apoiou a Lava Jato de Sérgio Moro. Em busca de uma saída para a crise capitalista internacional, Bolsonaro, Paulo Guedes e os grandes empresários propõem reformas e privatizações. Para se contrapor a esse programa, nós da juventude Faísca achamos fundamental debater a necessidade de defender o não pagamento da dívida pública.

A dívida é uma verdadeira Bolsa Banqueiro que rouba nosso dinheiro todos os anos e é usada como um dos principais meios para justificar a necessidade de acabar com nossa aposentadoria e nos obrigar a trabalhar até morrer, sem nenhum direito. Esses são debates que deveriam ser feitos com o conjunto dos estudantes, para que, a partir de definir como avaliamos que pode se desenvolver a política dentro e fora da Universidade, possamos estar melhor preparados para retomar o movimento estudantil como um ator político importante na história do nosso país.

Mari: Além desses elementos que a Odete colocou, nós achamos que a realização de um congresso é algo absolutamente democrático. Desde 2015 não tem um congresso, tanto o PT quanto o PSOL já foram parte das gestões do DCE nos últimos anos, e nenhuma dessas organizações levaram adiante a realização desse espaço. Mesmo tendo sido eleitos, em alguns casos, defendendo essa política. Aliás, um congresso de estudantes deveria ser realizado a cada dois anos de acordo com o estatuto votado.

Desde que eu entrei na universidade nunca teve um congresso. Se formos pensar, só no âmbito dos ataques à educação, já teve corte de verbas, PEC do congelamento do teto dos gastos públicos, PEC do fim da USP aprovada sob bombas e balas de borrachas, uma situação de precarização extrema com a falta de contratação de professores e funcionários, Escola Sem Partido, reforma do ensino médio... Enfim, uma série de motivos que por si só justificariam a necessidade de um congresso.

Quando vinculamos tudo isso à política nacional, fica mais claro ainda. Teve golpe, greve geral contra a reforma da previdência, reforma trabalhista, prisão arbitrária do Lula, assassinato da Marielle e do mestre Moa, eleição do Bolsonaro. Motivos não faltam para a gente poder debater com o maior número de estudantes os desafios do movimento estudantil, num congresso organizado desde a base para ser o mais democrático e representativo possível.

Odete: Por tudo isso defendemos que é muito importante que os Centros Acadêmicos e o DCE construam um congresso de estudantes, nos permitindo realizar todos esses grandes debates e fazendo o movimento estudantil ressurgir como um ator na política nacional para estarmos à altura dos desafios colocados frente o governo BolsoDoria e o avanço da crise capitalista internacional. Não só dentro das Universidades, sabemos que a juventude trabalhadora será brutalmente atacada com a aprovação da reforma da previdência e importância de nos colocarmos na linha de frente contra isso. No 8 de março, dia internacional da luta das mulheres, percebemos a força desse movimento e fenômeno internacional. Justamente por não separarmos a luta das mulheres da luta da classe trabalhadora, agora, para esse movimento do dia 22 de março, as mulheres, juntamente com os negros, os LGBTs e demais setores oprimidos que já vêm sendo linha de frente dos questionamentos ao governo Bolsonaro e que são e serão os primeiros a sentir na pele os ataques reacionários, demonstrem sua força contra a reforma da previdência que vem nos forçar a trabalhar até morrer.

 
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