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BRUMADINHO
Brumadinho escancara: as universidades devem estar a serviço dos trabalhadores!
Redação

O crime cometido pela Vale no último dia 25 foi reincidente. O plano de privatizações de Bolsonaro promete muitas Marianas e Brumadinhos. A mineração, como é feita atualmente, é uma atividade predatória, da qual cidades inteiras, milhares de famílias, são economicamente dependentes. Como as universidades podem usar todo o seu potencial na resolução desse trágico dilema? Comecemos por batalhar para que estejam a serviço dos trabalhadores.

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Até o momento já são 150 mortos, além de 182 pessoas que estão desaparecidas há quase duas semanas, sendo a maioria trabalhadores terceirizado e negros. Fora as redes de solidariedade que imediatamente se formaram em torno de Brumadinho, professores, estudantes, intelectuais, jovens universitários passaram a se perguntar como poderiam ajudar, não apenas a amenizar as trágicas consequências de um crime catastrófico contra os trabalhadores e suas famílias, moradores de entornos de barragens, e o meio ambiente, mas a evitar que as mais de 50 outras barragens de rejeitos instáveis só em Minas Gerais voltem a afundar os mineiros em lama, como ameaçou na última semana barragens em duas cidades, obrigando uma evacuação urgente.

O bordão “não foi acidente”, muito usado há pouco mais de três anos, se preencheu de mais indignação. Setores cada vez mais amplos não têm dúvidas de que a Vale é uma empresa assassina. Provavelmente muitos desses constataram que a sede de lucros dos capitalistas que estão à cabeça da ex-estatal é a causa de tamanha tragédia. Especialistas das mais diversas áreas se debruçam a apresentar propostas de soluções nos espaços institucionais, e a grande maioria delas implica em ferir os lucros “sagrados” da mineração.

Sobre isso recomendamos a declaração do MRT “Pela re-estatização da Vale sob gestão dos trabalhadores e controle popular, para enfrentar a mineração predatória”.

Afinal: como as universidades, seus membros e o conhecimento gerado podem contribuir com a luta pelo fim de catástrofes capitalistas como a de Brumadinho?

Em primeiro lugar vale ressaltar que as universidades já demonstraram, há pouco tempo, potencial de serem focos de resistência aos ataques da extrema direita e dos golpistas, quando o presidente Jair Bolsonaro ainda era um candidato blindado pelo judiciário e suas manipulações e pelas forças armadas. Agora os estudantes, professores e técnicos precisam sair à vanguarda da luta contra o crime da Vale em Brumadinho, para que não se repita. Apenas a mobilização desses setores, organizados desde a base, usando seus sindicatos e entidades como instrumentos de luta, pode cumprir um papel diante de um problema tão estrutural como é o da mineração em MG.

Por fora da luta de classes e nos limites da institucionalidade, o papel que hoje podem cumprir as universidades na recuperação (parcial, pois os danos são irreparáveis) e prevenção de tragédias capitalistas como essa está aquém de sua potencialidade, com alguns claros limitantes.

Um deles são os cortes e a própria PEC do teto de gastos do ex-presidente golpista Michel Temer. Por responsabilidade dos governos e conivência das reitorias, a crise tem sido cada vez mais descontada na educação e na ciência, cenário que tende a ser aprofundado no governo Bolsonaro. Não são raros os relatos de pesquisadores que encontram sérios entraves pela pouca disponibilidade de verba para pesquisa e extensão. Enquanto isso todos os governos seguem pagando, religiosamente, a dívida pública, cujo valor poderia ser revertido no aprimoramento da técnica e de pesquisas sobre formas alternativas de mineração.

Ao mesmo tempo em que o Estado, hoje sob comando de Bolsonaro na presidência e de governadores ultra-direitistas como Romeu Zema em MG, aplica sucessivos cortes nas universidades, a iniciativa privada surge cada vez mais ávida para financiar a ciência, não por boas intenções, mas porque “quem paga a banda, pede a música”, e se utilizando de toda a estrutura mantida com o dinheiro público, podem conduzir as pesquisas a seu favor. Quantas universidades do país mantêm convênios com a Vale, que se aproveita do conhecimento gerado nas universidades para lucrar mais? As reitorias são responsáveis por manter essa situação.

Também é um entrave para que as universidades cumpram o papel que lhes cabe até o fim sua estrutura de poder, que reflete as mesmas contradições da sociedade de classes na qual estão inseridas, em que tragédias são causadas graças aos interesses de uma classe minoritária cujo sentido de existência é explorar a maioria da população. É preciso que as universidades lutem por Brumadinho não só porque nelas se concentra um potencial de organização e mobilização, mas por sua função social, que deveria ser de se debruçar sobre a resolução das mazelas da humanidade, hoje causadas pelo capitalismo. Parte de dar saídas profundas a problemas tão sistêmicos é batalhar por universidades não a serviço da minoria de parasitas exploradores como os donos da Vale, mas sim dos trabalhadores, da maioria da população.

Os estudantes, que são a maioria da comunidade acadêmica, devem retornar às aulas batalhando, em aliança com professores, técnicos e trabalhadores terceirizados, para combater, com mobilizações em todos os cursos e departamentos, os ataques de Bolsonaro com seus planos privatistas, de ainda menos limites à exploração desenfreada dos recursos naturais, de maior sucateamento da educação pública, de maior privação da juventude às universidades e de mais precarização à vida da classe trabalhadora. A por universidades a serviço dos trabalhadores está associada a subverter a estrutura de poder das universidades, ao nível de substituir reitorias e conselhos universitários, que muitas vezes têm membros envolvidos ou diretamente representantes de empresas como a Vale, por uma gestão de professores/pesquisadores, técnicos/trabalhadores terceirizados e estudantes, baseada em democracia direta nas decisões, com maioria estudantil.

A Vale não pode passar impune desse crime e nem pode se esquecer que continuará sendo assassina enquanto existir para garantir os lucros de seus diretores e acionistas. Todos os seus bens devem ser confiscados e revertidos na recuperação dos danos que causou. É preciso lutar pela reestatização da Vale sob gestão dos trabalhadores e controle popular, cujos representantes – ambientalistas, biólogos, engenheiros, geólogos, antropólogos, juristas, economistas, enfermeiros, veterinários – devem ser eleitos nas universidades e comunidades atingidas, assim como revogáveis a qualquer momento caso se corrompam e não ajam segundo os interesses da população. Os trabalhadores, organizados em luta contra os capitalistas escravocratas, seriam capazes de fazer a mineração transitar desse modelo predatório para sua superação, ao passo que liberte da dependência dessa atividade as famílias que se submetem hoje a condições completamente indignas em nome de uma sobrevivência que só dura até o rompimento da próxima barragem.

 
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