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POVOS INDÍGENAS SOB ATAQUE
Liderança Indígena é assassinada após conflito com fazendeiros no MS
Anaís Goedert, estudante da Letras USP
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No dia 29 de Agosto, enquanto procurava seu filho a beira de um córrego, Semião Vilhalva, 24 anos, foi baleado com um tiro no rosto. Pertencente a etnia Guarani-Kaiowá, o indígena era uma das lideranças nas retomadas de terra que ocorrem no município de Antônio João, onde pelo menos cinco fazendas estão ocupadas e são reivindicadas como parte do território indígena de 9.300 hectare, Ñanderu Marangatu.

O conflito entre fazendeiros e indígenas já ocorre há um bom tempo. Segundo laudos antropológicos, indígenas Guarani-Kaiowá sempre habitaram aquele território, até que por volta de 1950, com a expansão agrária promovida pelos governos da época, foi feita uma ampla distribuição de terras por meio de grilagem, com o intuito de mascarar a presença de indígenas, afim de expulsá-los das terras em um futuro próximo. Essa é uma realidade que enfrentam boa parte das comunidades do Mato Grosso do Sul, em especial os Guarani de Ñanderu Marangatu.

Em março de 2005, o ex-presidente Lula teria homologado o território indígena, não fosse pelo então ministro do STF, Nelson Jobim, que suspendeu a homologação em setembro e ordenou a desocupação do território ocasionando conflito entre indígenas e fazendeiros, onde Dorvalino da Rocha, 39 foi assassinado com um tiro no peito.

Atualmente, estão envolvidos no conflito o Dep. Federal Henrique Mandetta (DEM/MS) que é investigado pelo STF por desvio de verba pública, e a fazendeira presidente do Sindicato Rural de Antonio João, Roseli Ruiz, que em 2013 declarou à imprensa ter se formado em antropologia apenas para se infiltrar em organizações indígenas e criar laudos contra eles, afim de defender sua fazenda contra ocupações.

Resistência acima do preconceito e da escassez

Como divulgado anteriormente no Esquerda Diário, a APIB - Articulação dos Povos Indígenas do Brasil convocou uma reação de todas as etnias frente ao descaso do governo federal e do STF em homologar e demarcar terras.

Desde junho, uma série de fazendas tem sido ocupadas, o que nós podemos reconhecer como um movimento a nível nacional de auto-demarcação de territórios.

Na Tekoha – lugar onde se é em guarani -Apyka’i em Dourados, indígenas correm o risco de sofrer reintegração de posse e enfrentam diariamente pistoleiros. Na Tekoha Kurusu Ambá em Coronel Sapucaia, barracos e motos foram incendiados, duas crianças desapareceram durante 5 dias, e em praticamente todas as aldeias se passa fome pela escassez de alimentos.

Os Guarani-Kaiowá são uma das etnias mais negligenciadas pelo Estado, e que vivem em situação mais precária no Brasil, mesmo sendo a segunda maior população indígena do país. Já acompanhamos casos como Belo Monte, que fez com que as taxas de mortalidade e desnutrição infantil dessem um salto. O índice de suicídio entre os Kaiowá hoje é 12 vezes maior que o da população nacional, e agora acompanhamos uma guerra civil se formando.

Em uma cidade extremamente preconceituosa e dominada pelo latifúndio, o pensamento predominante é de que os indígenas são vagabundos, invasores e deveriam ter morrido junto a Vilhalva e outras lideranças. São espantosos os comentários de ódio na página Aty Guasu, que divulga imagens e notícias de conflitos, e na página do Dep. Henrique Mandetta, que se certifica de defender a propriedade privada e integridade do produtor rural.

Por conta de um racismo histórico, indígenas são impedidos de ir até a cidade, arranjar emprego ou apenas comprar mantimentos com medo de serem rechaçados, agredidos e mortos. Para que os Guarani não passem fome durante essa situação difícil, estão sendo arrecadadas doações de alimentos na sede do MST em Campo Grande.

A Anistia Internacional e a ONU já questionaram inúmeras vezes o governo federal sobre a situação de calamidade em que se encontram diversos municípios do Mato Grosso do Sul. Mas o governo até agora pareceu não se preocupar que existam pistoleiros assassinando indígenas e fazendeiros bloqueando rodovias no estado. Enquanto os Guarani mal podem sair do local em que estão, o DOF – Departamento de Ações de Fronteira e a Força Nacional escoltam e entregam mantimentos para fazendeiros. Ao constatar isso, percebe-se que o governo escolheu estar ao lado de quem detém poder, e não de quem deveria ter seus direitos na constituição garantidos.

 
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