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8 DE MARÇO
PT e CUT propõe um 8 de março que não coloca eixo na luta contra Bolsonaro
Maíra Machado
Professora da rede estadual em Santo André, diretora da APEOESP pela oposição e militante do MRT

Como acontece todos os anos, diversos coletivos de mulheres começam a se reunir em todo o país para organizar essa grande marcha, que tem sido marcada nos últimos anos por chamados de greves internacionais de mulheres para enfrentar os ajustes capitalistas e seus ataques frontais contra as mulheres em todo o mundo.

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No Brasil, será o primeiro 8 de março em meio ao governo Bolsonaro, um governo de extrema-direita, ajustador e misógino e poderá ser o primeiro grande ato político que se coloque abertamente contra os planos de ataque que já atingem o conjunto da classe trabalhadora e toda população pobre e oprimida. Uma enorme oportunidade para que as mulheres estejam à frente de levar esse combate para cada local de trabalho e estudo e arrastar, com a força que se expressa no movimento internacional de mulheres, o conjunto da classe trabalhadora para lutar contra a miséria, o desemprego e a carestia de vida que Bolsonaro junto ao imperialismo quer nos impor.

O que seria óbvio parece se colocar como uma enorme barreira para que essa força se coloque em movimento. Mais uma vez a política do PT e da CUT, ao contrário de organizar as trabalhadoras, é de batalhar por uma paz social que parte de legitimar o governo, já que ele foi eleito democraticamente agora nos resta fazer experiência com suas medidas e esperar com calma que os próximos quatro anos passem para que uma nova disputa no campo eleitoral seja levada à frente.

O problema dessa atuação passiva é que o papel das centrais sindicais deveria ser justamente o de explicar para a população que o governo Bolsonaro vai aplicar a Reforma da Previdência, mesmo que todas as pesquisas mostrem que a maioria dos brasileiros é contra essa reforma.

Com o processo eleitoral mais manipulado da história recente de nosso país, Bolsonaro foi eleito como herdeiro do golpe institucional, para levar adiante os ataques que Temer não conseguiu implementar, subordinando ainda mais o Brasil aos interesses do imperialismo, com uma enorme disposição da família Bolsonaro para ser um capacho de Donald Trump. Lula foi preso de forma arbitrária e impedido de concorrer às eleições, já que suas chances de vitória eram enormes, o direito da população poder decidir em quem votar foi arrancado pelo judiciário golpista, aliado às forças armadas e com um projeto claro de garantir a manutenção dos grandes lucros capitalistas massacrando a classe trabalhadora.

As manipulações não pararam por aí, milhões de nordestinos não puderam votar, as fake News dominaram o cenário nacional e o então candidato à presidência, Jair Bolsonaro, não participou da maioria dos debates. Ainda assim, 47 milhões de brasileiros e brasileiras votaram contra esse projeto de extrema direita e muitos votaram no PT para tentar impedir a ascensão desse governo que é abertamente contra as mulheres, os negros e as LGBTs.

O que já se mostrava nas eleições se confirma a cada dia: não é possível derrotar a extrema direita com uma estratégia meramente eleitoral/parlamentar, é preciso um plano de lutas sério que mobilize os grandes bastiões operários e possa impor uma derrota a todo esse plano de ajustes da burguesia que se expressa na figura de Bolsonaro e seu clã, que festeja o assassinato de Marielle Franco e quer calar a voz de toda a oposição.

Wagner Freitas, presidente da CUT, foi claro ao dizer ainda no final do ano passado que a CUT fará uma oposição propositiva, atuando como mera interlocutora, negociando uma coisinha aqui e outra ali, enquanto Paulo Guedes, Sergio Moro e sua legião de políticos capitalistas massacram todos os nosso direitos. Essa é a estratégia da CUT, ficar calada enquanto o governo não para de falar abertamente quais são seus planos.

As mulheres estão na linha de tiro desse governo e já estamos enfrentando os efeitos da terceirização irrestrita, da reforma trabalhista que impõe às mulheres que trabalhem em condições insalubres, mesmo grávidas ou amamentando. Mas não para por aqui, o governo tem a Reforma da Previdência guardada na manga, esperando o momento certo para impor que tenhamos que trabalhar até morrer. Somos nós mulheres, as mais afetadas por tragédias como a de Brumadinho, cuja a lama da privatização dos capitalistas devasta nossas casas, leva vidas inocentes e destrói o futuro dos nossos filhos e familiares.

Bolsonaro não irá preservar nenhum direito, mas para o PT e a CUT ainda é preciso preservar “o governo eleito democraticamente”. As declarações do presidente, de seus filhos, de seus ministros mostram que em nome de impor ataques econômicos de proporções históricas irão atacar nossos direitos democráticos mais elementares e para isso querem colocar as mulheres de volta no lugar de onde, para eles, não deveríamos nunca ter saído, da submissão patriarcal que nos impõe a dupla jornada de trabalho, a diferença salarial gritante que faz com que as mulheres negras recebam até 60% a menos que os trabalhadores brancos. Sem contar é claro, que para isso querem impedir que tenhamos o direito ao nosso próprio corpo e à nossa sexualidade.

Frente a tudo isso, a atuação das centrais sindicais e do petismo não poderia ser mais criminosa. Querem marchar no 8 de março, mas sem nomear Bolsonaro, já que para eles o caminho é a “resistência” passiva, com negociações respeitosas com esse governo. Esse caminho não começou a ser trilhado agora e já apontava em abril de 2017 a estratégia petista da resistência democrática. A CUT e a CTB, dirigida pelo PCdoB que está em apoio à candidatura de Rodrigo Maia para a eleição da câmara dos deputados, traíram abertamente o chamado de greve geral que poderia ter derrubado Temer e escrito uma história muito diferente para todos os trabalhadores brasileiros.

No marco da organização do 8 de março, essas centrais sindicais que organizam milhões de trabalhadores em todo o país, dizem que o foco é a luta contra a Reforma da Previdência, mas não movem uma palha para organizar e mover as trabalhadoras a partir dos sindicatos. Se a unidade das mulheres deve se dar a partir da luta contra a reforma, porque o PT e a CUT não estão organizando em cada local de trabalho o combate à mãe de todas as reformas?

Nos sites e redes sociais da CUT e da CTB não existe uma única menção à organização do 8 de março, expressando a política que essas centrais levam na base das categorias de trabalhadores, deixando que as demandas das mulheres sejam tomadas apenas por uma minoria de dirigentes sindicais, enquanto nas bases se evita fazer qualquer discussão mais profunda sobre o machismo e os direitos da mulheres com o conjunto das suas bases em cada sindicato. Dessa forma, o PT e a CUT separam as demandas das mulheres das pautas econômicas, tratando a luta por nossos direitos como “cortina de fumaça” e sem uma política que ligue a luta por nossas demandas ao combate contra os ataques ao conjunto dos trabalhadores. É preciso impulsionar em cada local de trabalho e estudo reuniões e assembleias para organizar as trabalhadoras e jovens desde a base.

Repetem o mesmo erro cometido durante as eleições, quando buscavam “virar voto” e não organizar nossas forças. Fazem um balanço de que o movimento #EleNão foi derrotado porque não conseguiu eleger uma ampla bancada feminista, quando na verdade o movimento só foi derrotado porque a estratégia eleitoral do PT canalizou toda a disposição contra Bolsonaro apenas para a via eleitoral, impedindo que estes atos pudessem se generalizar em mobilizações mais amplas nos locais de trabalho e estudo com milhares de comitês de base por todo o país para realmente derrotar o bolsonarismo. O que estava por trás dessa contenção era justamente a ideia de uma "frente ampla" contra Bolsonaro, que incluía golpistas de todo tipo como Geraldo Alckimin e sua vice latinfundiária escravista Ana Amélia.

Se as centrais sindicais que tem uma base de milhões de trabalhadores não assume essa tarefa, quem vai cumprir o papel de alertar a população que Bolsonaro é a continuidade do governo golpista de Temer?

Para inverter essa situação, ao contrário de atuar passivamente, as mulheres precisam exigir que as centrais sindicais rompam com sua paralisia e sua trégua e organizem em cada local de trabalho e estudo, assembleias de base que debatam cada reivindicação das mulheres trabalhadoras em aliança com cada trabalhador que nesse momento amarga os efeitos da reforma trabalhista.

Nos últimos dias, denúncias de todo o tipo foram feitas contra Flávio Bolsonaro em sua defesa de milicianos que hoje são ligados ao assassinato de Marielle Franco. Por isso, ao invés de nos calar como quer a CUT e o PT, precisamos dizer em alto e bom tom: Marielle vive em nossas lutas! Lutaremos por justiça à Marielle e contra todas as medidas de ataques às nossas condições de vida.

As centrais sindicais querem evitar um enfrentamento sério aos ajustes para impedir que trabalhadoras e trabalhadores brasileiros se coloquem em movimento e que nesse caminho questionem não somente o governo, mas também os ditames da burocracia sindical. A paz social defendia pelas grandes centrais sindicais tem o sentido concreto de defender os privilégios da alta burocracia, amenizando para isso os enfrentamentos com Bolsonaro, os golpistas e o autoritarismo judiciário, mantendo assim a subordinação aos interesses imperialistas e ao misógino Donald Trump.

Nós do Pão e Rosas viemos dando uma batalha nas reuniões de organização do 8 de março para que o eixo desses importantes atos possa mostrar a necessidade de que as mulheres estejam na linha de frente da luta contra Trump e Bolsonaro e por justiça à Marielle. Fazemos um chamado a companheiras da Frente Feminista de Esquerda e do PSOL, que também estão nessa batalha, para que possamos juntas exigir que a CUT e o PT organizem de fato a luta das mulheres em cada local de estudo e trabalho, convocando assembleias e reuniões de preparação para o 8 de Março a partir das centenas de sindicatos que dirigem em todo país, rompendo com a paralisia atual. As parlamentares eleitas pelo PSOL devem assumir esse combate e somar vozes e forças nessa exigência no interior do movimento de mulheres.

É preciso um plano de lutas sério, que organize nossas forças, exigindo o fim da passividade e da trégua das centrais sindicais. Nenhuma oposição parlamentar irá resolver o que somente a nossa luta pode colocar fim: os ataques que esse governo quer impor. Precisamos rechaçar a linha das direções dos grandes sindicatos brasileiros de propor a “nossa reforma da previdência”, a resistência parlamentar é uma grande falácia sem estar ligada à força das mulheres nas ruas, em cada local de trabalho atuando com nossos próprios métodos.

 
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