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RETROSPECTIVA 2018
Coletes amarelos, um símbolo do ano em que a raiva operária e popular vestiu amarelo
Redação

Relembre tudo que publicamos sobre o movimento dos “coletes amarelos”. O movimento continua mesmo depois de ter conseguido fazer Macron recuar sobre o aumento dos combustíveis e aumentado o salário mínimo em 100 euros. Um grande exemplo internacional e que tem um grande impacto ao comover um dos principais imperialismo no mundo. Para se enfrentar com Bolsonaro, com o judiciário golpista e com os empresários temos grandes lições a aprender deste movimento.

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Já ocorreram 6 atos dos chamados “coletes amarelos”, bloqueando estradas, tomando as ruas de centenas de cidades francesas. Veja nossa cobertura de um dos primeiros atos em 17 de novembro, veja também nosso resumo do sexto, do quinto, e do quarto ato deste movimento. As imagens dos “coletes amarelos” correram o mundo desde o final de novembro.

Os recuos do presidente francês Emmanuel Macron, retirando o aumento dos combustíveis, e depois aumentando o salário mínimo mal ganharam cobertura da grande mídia em nosso país. Não é à toa, aqui como lá, trata-se para a burguesia esconjurar o fantasma da auto-determinação dos trabalhadores, do povo e que eles não confiem em suas forças para irromper na arena da luta de classes impondo suas demandas.

Na França alguns setores da mídia tratam com pavor o movimento, ele traria um espectro da revolução. E o próprio movimento explorou em imagens suas reivindicações de 1789 (revolução francesa) como de 1968 (o maio que balançou todo o mundo). Centenas de escolas e universidades foram ocupadas, e mesmo com as centrais sindicais traindo o movimento escutam-se vozes de sindicatos locais, delegados de base, denunciando as direções sindicais. Formam-se em alguns locais reuniões conjuntas de “coletes amarelos”, movimentos contra violência policial, estudantes e trabalhadores pela unidade para derrotar Macron e questionar a V República. Política essa que é ativamente defendida pela CCR, corrente do Novo Partido Anticapitalista e grupo irmão do MRT na França.

As reivindicações cresceram do aumento do combustível ao poder aquisitivo dos trabalhadores e direitos sociais, a exigência de saída de Macron e mesmo a questionar instituições centrais do regime, levantando entre outras demandas o fim do Senado.

Veja também “A luta por uma sociedade democrática, da Comuna de Paris aos Gilets Jaunes”

O questionamento aos limites da democracia capitalista de um dos mais importantes imperialismo no mundo soa um sinal de alerta para a burguesia. Se a pobreza gera tamanha revolta em um país que tem “tanto a oferecer” a seu proletariado (particularmente se não for imigrante), se uma democracia capitalista tão antiga entra em crise e é questionado podemos estar diante do começo de uma nova fase na luta de classes – um contraponto progressista (em potencial) a tantos fenômenos à direita, como Trump, Bolsonaro, Urban, etc.

Para uma visão da situação mundial ver, em especial as primeiras partes de : “Argentina: começo de uma crise orgânica no marco de um mundo convulsionado”

Temendo o efeito contágio, países distantes como o Egito proibiram a venda de coletes amarelos e em vários países da Europa ocorreram manifestações, com especial destaque a um movimento que ganhou importância própria, o enfrentamento com o governo de ultra-direita de Orban na Hungria contra sua reforma trabalhista da escravidão.

O símbolo tomado pelo movimento, o colete amarelo é um item de segurança obrigatório em todos veículos francês, remonta a primeira reivindicação do movimento, contra o aumento dos combustíveis, já ganhava novo significado. Passava a ser símbolo de desafio às autoridades que buscaram a partir de meados de novembro impedir as manifestações – com uso de toda violência possível. A vestimenta amarela era agora da raiva operária e popular. Amarelo passava a ser a cor desta raiva, ou como disse um manifestante e virou manchete “isso é o que acontece quando o povo tem fome.

Para pensar o que podemos aprender para se enfrentar com o governo de Bolsonaro e seus ataques veja o editorial “Os coletes amarelos fazem Macron recuar, façamos como os franceses na luta contra Bolsonaro

Um movimento espontâneo e as múltiplas narrativas interessadas

Múltiplos discursos foram articulados para tentar mostrar o movimento como de direita. Em nosso país uma curiosa frente-única narrativa uniu o petismo a Bolsonaro nesta empreitada. Algumas semanas atrás publicávamos artigo “De coletes amarelos, sindicatos e intelectuais” que buscava dar conta de debater contra uma certa intelectualidade brasileira (como a famosa filósofa petista Marilena Chauí) e argentina que viam no movimento francês uma repetição de 2013 “um movimento de direita” ou até mesmo que “abria caminho ao fascismo”. Desmentindo esse argumento para a França e para o Brasil e suas implicações como uma “profecia auto-cumprida” para que o movimento operário não entre em cena para hegemonizar setores médios – que sim participam do movimento.

Dez depois desta publicação, em 19/12 Bolsonaro saiu a público, em uma live no facebook, para também narrar o movimento como uma resposta violenta a uma demanda de direita não atendida – repressão e expulsão dos imigrantes “não assimilidados”, ele afirmou: “todo mundo sabe o que está acontecendo com a França. Está simplesmente insuportável viver em alguns locais da França. E a tendência é aumentar a intolerância. Os que foram para lá, o povo francês acolheu da melhor maneira possível. Mas vocês sabem da história dessa gente, né? Eles têm algo dentro de si que não abandonam as suas raízes e querem fazer valer a sua cultura, os seus direitos lá de trás, e os seus privilégios`”.

Bem ao sabor de seu chanceler com ideias saída da Inquisão ou das Cruzadas para do alto deste reacionarismo melhor servir subservientemente aos EUA, para Bolsonaro o problema francês seriam leis liberais. Para o PT o problema seriam massas irem às ruas que não sob a convocação de um partido de centro-esquerda ou dos sindicatos seguindo sua pauta regiamente pautada pelas datas e regras de um regime carcomido pela desigualdade e corrupção inerentes ao capitalismo.

Mas afinal o que motivou esse movimento e quem o compõe?

Começando como um movimento organizado pelas redes sociais, sem lideranças claras, mas com múltiplos porta-vozes que rapidamente caiam, a raiva acumulada começou a se expressar com uma reivindicação contra o aumento dos combustíveis, cruciais para a locomoção no interior do país, e mesmo para aqueles que moram nos subúrbios e tem dificuldade de chegar a seus trabalhos e outros destinos nas cidades foi logo tratado como um movimento de direita.
Para uma reflexão sobre a geografia urbana e de classe do movimento ver: “Coletes amarelos: as margens no centro
Logo no começo do movimento não faltaram intérpretes em vários países do mundo que tentaram o emparelhar com o Tea Party americano – mas não houve mídia que encontrasse dito eco ultra-neoliberal ali – outros tentaram mostrar que teria semelhanças com o nascimento do “Movimento 5 estrelas” da Itália (que compõe um governo de extrema-direita junto aos xenófobos da “Liga Norte”).

Macron e seu governo bem que tentaram pintar o movimento como ligada aos xenófobos da Front Nacional, sem conseguir isolá-lo ou esgotá-lo assim, depois quis atribuir a “radicais” tanto de extrema-direita como de extrema-esquerda. E assim tentar negar a profundidade de um movimento que colocava seu governo em uma profunda crise.

Porém semanas depois – derrotando as forças repressivas do governo e tomando locais simbólicos de Paris – escutava-se claramente como este movimento reivindicava claramente uma recomposição do poder aquisitivo dos trabalhadores, demandava direitos sociais sucateados e ganhava contornos de questionamento tanto ao presidente, exigindo a demissão de Macron e avançava para questionar pilares da V República francesa, exigindo o fim do senado entre outras medidas.

Ainda em 2/12 publicavamos artigo para dar conta da complexidade que este movimento mostrava, com seu forte apelo popular, participação operária fragmentada graças a traição das centrais sindicais que se recusaram a chamar uma greve geral e ao contrário negociavam com Macron enquanto as ruas exigiam sua demissão. E além de setores populares e operário o movimento também contou com a participação de setores médios empobrecidos e até mesmo de pequenos empresários. Essa heterogeneidade facilitou o uso interessado para pintar como um movimento de direita, seja por Bolsonaro, seja pelo PT (com objetivos diferentes).

Danielle Cobet, direto da França escrevia “Coletes Amarelos: quando as massas entram em ação para dar conta dessa complexidade e ao mesmo tempo, a partir dela pontuar como uma entrada em cena de setores de massa nunca se dá de forma perfeita, pura e como em um manual. Não estava dado que o movimento seria hegemonizado à esquerda ou à direita mas que sem a intervenção ativa dos trabalhadores e de um partido revolucionário (resgatando Lênin no artigo) abria-se mão justamente deste potencial.

Na mesma data publicávamos outro artigo direto de Paris, “França: Coletes Amarelos e os elementos pré-revolucionários da situação” mostrando os antecedentes da crise de Macron, “um Jupiter vitorioso” que esmagara as urnas um ano e meio antes e já tinha uma rejeição de 80% dos franceses, números de difícil comparação no mundo se não recorrermos ao presidente oriundo de um golpe, Michel Temer. A profundidade do que esta crise tocava, em seus elementos econômicos, sociais, e de questionamento do regime não se resolveriam facilmente para a burguesia francesa, que tem diante de si um proletariado organizado e não derrotado e ao mesmo tempo uma necessidade de promover ataques que outros imperialismos (como o alemão, inglês, americano) promoveram muitos anos antes.

Pode te interessar ver como esse surpreendentemente movimento não é um raio em céu aberto. A insatisfação social e as debilidades de Macron já vinham crescendo desde abril passado quando se enfrentou com os ferroviários para impor uma reforma trabalhista

Façamos como os franceses na luta contra Bolsonaro

Nos últimos meses na França, com os coletes amarelos, com os menos conhecidos coletes vermelhos de trabalhadores que paravam o trabalho junto a seus sindicatos de base para se unir aos “coletes amarelos”, com estudantes ocupando e paralisando escolas e universidades, com movimento de mulheres, expressa-se uma grande instatisfação e um exemplo, pois finca-se, através da luta de classes, uma posição de auto-confiança para dobrar os patrões e seus governos, um exemplo para lutarmos contra os ataques em nosso país.

 
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