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Zema prepara um governo de empresários e muitos ataques aos trabalhadores em Minas Gerais
Flavia Valle
Professora, Minas Gerais

Alinhado com Bolsonaro, Romeu Zema (NOVO) já está anunciando grandes ataques a direitos sociais em Minas Gerais, para descarregar a crise econômica sobre os trabalhadores e o povo pobre.

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foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press

No mês passado Zema foi entrevistado pelos jornalistas Ricardo Boechat, Fábio Pannunzio e Eduardo Oinegue. Na entrevista fez questão de mostrar seu alinhamento com o governo de Jair Bolsonaro (PSL), do qual o NOVO fará parte com o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.

Nesta e em outras entrevistas divulgadas na grande mídia, Zema tem afirmado seu plano de ataques para "regular as contas do estado".

No período de transição para seu governo, Zema está montando uma equipe de empresários para governar para os ricos e capitalistas. O futuro governador mineiro quer ser parte da artilharia de ataques que Bolsonaro já anunciou, como a privatização da Petrobras e a Reforma da Previdência. Como na célebre frase de Marx, Zema fará do Estado mineiro o “balcão de negócios da burguesia”.

A equipe de Zema e os ataques anunciados

Zema tem apontado um déficit de 12 bilhões para o próximo ano, e para compensar aponta um único horizonte possível: regime de recuperação fiscal como fez o Rio de Janeiro. Esse regime de recuperação fiscal significa o aprofundamento dos ataques contra os trabalhadores e o povo pobre como aconteceu – e vem acontecendo – no Rio que, além dos ataques brutais e da intervenção federal, continua quebrado.

Em constante busca de diálogo e benção do governo federal, e seu presidente reacionário, Jair Bolsonaro, o governador do NOVO deixa claro que, se a Assembleia Legislativa de Minas não dialogar com suas propostas, o Estado corre risco de ficar “ingovernável” como o RJ. Ou seja, para governar o Estado mineiro a linha é clara: nada de “novo”, mas, sim, os velhos ataques liberais de um governo jogado aos pés do governo federal e implorando sua benção.

Zema em Brasília, após reunião com Bolsonaro, no dia 14 de novembro. Foto: Fernando Chaves/Divulgação

Zema é taxativo sobre atacar os trabalhadores e manter, senão aprofundar, os atrasos de pagamentos do funcionalismo público (tudo no mesmo momento em que diz que os trabalhadores do setor público vivem como “Rainha da Inglaterra”); diminuir o Estado; privatizações e, quando não forem lucrativas para o setor privado, como no caso de Cemig e Copasa por seus valores de 2 bilhões cada (não parecendo, para ele, tão interessantes para os empresários), pelo menos a garantia de que sejam pessoas “de mercado” a dirigir essas empresas estatais.

Zema também já tinha atacado a estabilidade dos servidores públicos no emprego, comparando-a com o direito dos "proprietários de escravos". Além de indicar a continuidade do atraso dos salários, Zema tem ameaçado demissões e garantido que haverá arrocho salarial.

Gustavo Barbosa foi um dos primeiros homens “de mercado” a aparecer como parte da equipe de Zema. O nome do futuro Secretário da Fazenda foi lançado num evento de um dos detentores da fraudulenta e ilegal dívida pública – o BTG Pactual – que, junto aos demais capitalistas, sugam as riquezas nacionais e garantem o enriquecimento dos banqueiros em detrimento da precarização da vida de milhões de trabalhadores mineiros e de todo o país. Barbosa também ocupou o mesmo cargo no Rio de Janeiro, de julho de 2016 a janeiro deste ano, na gestão de Luiz Fernando Pezão (MDB).

Entre os seus, Zema também escolheu o vereador de BH pelo seu próprio partido, Matheus Simões, para coordenar sua equipe de transição para o governo mineiro. O vereador, que pediu afastamento da Câmara, foi relator do projeto Escola Sem Partido em BH e um de seus defensores mais fervorosos.

Na entrevista da Band, quando os jornalistas interrogam a falta de políticas públicas no discurso do futuro governador, Zema não deixa dúvidas sobre seu horizonte de privatizações e terceirizações, desde que seja interessante ao setor privado.

Na educação, retoma o que foi o discurso do prefeito de São Paulo, João Doria, sobre uma melhor “gestão”. Retomando o que dizia durante a campanha, sobre o “reconhecimento [das escolas] por desempenho”, afirmando que é necessário “reconhecer os bons”, o governador expressa a mesma velha visão de uma meritocracia que visa o aprofundamento da precarização das escolas e do ensino nos lugares que possuem menor desempenho, sem levar em consideração os distintos fatores sociais responsáveis pelo baixo desempenho muito das vezes ligado ao próprio descaso dos governos mineiros com os professores – tendo em vista os recorrentes atrasos de salários – e os alunos.

Em relação à saúde, o programa do empresário não peca em ser ainda mais privatista. Na entrevista reforça a proposta de uma gestão filantrópica, terceirizando a saúde pública para o setor privado.

A supresa do NOVO e a expressão da crise orgânica em MG

É sabido que vivemos uma profunda crise econômica, política e social no Brasil. Em termos gramscianos, vivemos uma “crise orgânica” que afeta todas as relações de classes, inclusive aqueles seus representantes mais vigorosos.

Com os mecanismos de manipulação das eleições, como a prisão arbitrária de Lula, o principal candidato ocupando o primeiro lugar em todas as pesquisas eleitorais, o judiciário cumpriu um papel chave para abrir caminho (com influência mais ou menos direta) a um candidato que atacasse de forma mais profunda os trabalhadores em escala nacional, mas também regional.

O governo de Fernando Pimentel (PT) já havia aberto mais espaço à direita atrasando os salários do funcionalismo público enquanto garantia 13 bilhões ao ano de isenções de impostos para os empresários, ao invés de salvaguardar os direitos dos trabalhadores.

Depois da gestão petista as pesquisas apontavam a possível vitória do candidato amigo do corrupto Aécio Neves, Antônio Anastasia (PSDB). Podendo assim, o ex-governador tucano de Minas, voltar ao cargo de direção do Estado e garantir, também, todos os ataques golpistas contra os trabalhadores.

Mas a combinação dessa crise orgânica com a manipulação do judiciário e o apoio aberto de Zema à candidatura de Bolsonaro deu a inesperada vitória ao NOVO. Além desta confluência de fatores, Zema também foi citado no escândalo de fraude eleitoral de propagação de fake news por disparos de WhatsApp comprados por grandes empresários, que Bolsonaro já admitiu.

Carreirista do grupo Zema, fundado pelo seu bisavô, diferente do que tentou apresentar durante a campanha eleitoral – e ainda hoje – não se trata de nada ‘novo’ na política mineira. O empresário foi filiado ao PR por 18 anos e enriqueceu às custas da exploração capitalista das empresas Zema.

A relação entre o futuro governador e os velhos políticos da direita do PSDB, MDB e uma multidão de pequenos partidos fisiológicos que dominam a Assembleia Legislativa ainda não está clara. Ainda que confluam nos objetivos de atacar os direitos sociais e fazer os trabalhadores pagarem pela crise, a velha direita quer seu lugar ao sol nos governos de novos partidos que emergiram nas últimas eleições, como Zema e Bolsonaro. Da mesma maneira, o Centrão e a velha política do Congresso Nacional já têm feito Bolsonaro se curvar, com nomeação de ministros e abertura de negociações.

O que Zema não imagina que vai enfrentar também é a fortaleza da classe trabalhadora. Ele pensa que pode passar todos os ataques, gerindo o estado como uma "empresa eficaz", mas a nossa classe vai mostrar a sua força.

Mover o "gigante operário" mineiro contra Bolsonaro, Zema e seus ataques

Só no estado de MG são quase 7 milhões de trabalhadores assalariados, sendo quase 1 milhão e meio de operários industriais. Na rede estadual são 100 mil professores, sem contar os trabalhadores de serviços gerais. Um contingente que, se colocado em movimento, pode cumprir um papel chave de massificar a luta de todos os setores oprimidos e da juventude mineira contra os patrões que compõem o balcão de negócios do governo Zema.

Na França, a luta dos "coletes amarelos" contra o presidente Emmanuel Macron mostra que, se lutarmos decididamente em ações comuns e coordenadas, podemos enfrentar os ajustes de Bolsonaro, os golpistas e o autoritarismo judiciário. Essa força de massas nas ruas, impondo pela luta suas reivindicações em nome das condições de vida dos trabalhadores, revela a completa impotência da "resistência democrática" passiva e por fora da luta de classes que o PT propõe junto a suas burocracias sindicais, permitindo que os ajustes econômicos enquanto "esperamos 2022".

Manifestações na França. Foto: Benoit Tessier/Reuters

Contra qualquer passividade garantida pelas centrais sindicais, como fizeram durante o golpe a CUT e a CTB – traindo as greves e desmobilizando a classe trabalhadora que mostrava sua força – precisamos nos colocar na linha de frente contra os ataques que Zema e Bolsonaro já têm anunciado e contra os avanços autoritários do judiciário e dos golpistas.

A classe trabalhadora mineira já deu nesse último ano mais demonstrações de luta contra os ataques e contou com mobilizações ou greves de professores das redes estaduais, municipais e privadas, petroleiros, metalúrgicos, metroviários, professores e técnicos das universidades federais. Exigimos que os sindicatos dessas categorias, dirigidos pela CUT ou CTB, saiam da passividade e coordenem um plano de lutas no estado contra os ataques golpistas e de Bolsonaro.

Os sindicatos e entidades estudantis dirigidos pelo PSOL e pelo PSTU, bem como os parlamentares do PSOL, devem combater por este objetivo de mover o gigante operário mineiro na batalha por uma frente única na luta de classes.

Uma mobilização assim deve partir do rechaço ao atraso e parcelamento de salários e da luta contra o arrocho salarial e as privatizações. Para responder à crise econômica, a classe trabalhadora deve lutar por um programa próprio, começando pelo fim das isenções fiscais aos empresários e dos salários milionários de juízes e políticos. Que a Samarco pague a multa bilionária que deve e que a empresa seja estatizada sob controle dos trabalhadores, e que os recursos minerais do estado sirvam à população e não ao lucro da capitalistas estrangeiros e nacionais.

Leia também: Construir uma força anti-imperialista da classe trabalhadora para enfrentar os planos de Bolsonaro, dos golpistas e do autoritarismo judiciário

 
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