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IMIGRAÇÃO EUROPA
Dezenas de refugiados são achados mortos em um caminhão na Áustria
André Barbieri
São Paulo | @AcierAndy

Dezenas de refugiados foram encontrados mortos nesta quinta-feira dentro de um caminhão com placa húngara, estacionado no leste da Áustria, perto da fronteira com a Hungria, conforme relatado pela polícia do país.

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O diretor da polícia, Hans Peter Doskozil, disse em uma coletiva de imprensa que foram encontrados entre 20 e 50 corpos no compartimento de carga de um caminhão de 7,5 toneladas. As primeiras informações indicam que os refugiados teriam morrido asfixiados.

Segundo o jornal Krone, o caminhão estava estacionado no acostamento da rodovia entre o lago Neusiedl e a cidade de Parndorf, na província de Burgenland. Os corpos foram encontrados por funcionários do posto de serviço da rodovia, embora as autoridades acreditem que estavam ali há muito tempo.

Hoje, as autoridades verificaram que havia 71 corpos de imigrantes mortos no caminhão frigorífico, uma verdadeira atrocidade que envolve refugiados sírios e do Bálcãs.

A ministra do Interior austríaca, Johanna Mikl-Leiner, foi enfática ao descrever o ocorrido como um "dia sombrio" e disse que a tragédia "afeta a todos". Também enfatizou que o incidente demonstra "os métodos desprezíveis da máfia de traficantes em toda a sua atrocidade na Áustria".

Dezenas de milhares de refugiados, a maioria do Oriente Médio, tentam chegar à União Europeia para escapar da guerra e da miséria. Como informamos ontem, a Sérvia e a Macedônia são dois Estados-chave no trânsito dessas pessoas em direção ao bloco.

A Áustria é uma via de trânsito dos imigrantes para alcançar a Alemanha. Nesta semana, noticiou-se que agência Federal de Migração e Refugiados alemã aprovou um decreto interno pelo qual não enviará mais os requerentes de asilo aos países por onde eles entraram na União Europeia, uma ação classificada por Merkel como “um ato de solidariedade europeia”.

Xenofobia institucional e paramilitar

Entretanto, este discurso de "tolerância" de Merkel rapidamente se esfarelou no ar. Em reunião com seus homólogos da Áustria e dos países balcânicos, em Viena, Merkel afirmou que fará distinção clara entre os "imigrantes econômicos" e os "legítimos solicitantes de asilo".

Os "imigrantes econômicos", que deixam seus países devastados pelas guerras e a exploração promovidas pelas potências européias, não teriam direito de entrada na Alemanha. Ou seja, segundo Merkel, refugiados da Sérvia, Montenegro, Kosovo, Albânia, Bósnia-Herzegovina e de outros países dos Bálcãs não tem nenhuma possibilidade de obter asilo em solo alemão.

Nem parece que a Alemanha participou, durante três meses, dos bombardeios da OTAN sobre a província sérvia do Kosovo, em 1999, deixando a já empobrecida região completamente devastada.

"Seus cidadãos já não são sistematicamente perseguidos por causa de suas ideias políticas ou religiosas. Assim, não há motivo para solicitação de asilo," disse a chanceler, junto ao chanceler austríaco, Werner Feymann. Ambos disseram que os "sem papéis" destes países balcânicos devem ser deportados o mais rápido possível.

Além das regulações cada vez mais restritivas à imigração, estas declarações incentivam as campanhas xenófobas de grupos da extrema direita, como o Pegida na Alemanha, que defende a deportação e execução de imigrantes muçulmanos.

Enquanto nos últimos 30 anos se aboliram quase todas as fronteiras para o capital financeiro e as multinacionais, estas se fortaleceram para impedir o trânsito, controlar e expulsar as pessoas dos países mais pobres.

As intervenções militares europeias também não tem "fronteiras". Alemanha, Inglaterra e França lideram bombardeios na Península Arábica e na África. O exército britânico ocupa o Sudão do Sul durante uma guerra civil sangrenta entre o governo local e sete milícias. O governo francês não fica atrás: a França é o país que mais coordenou ataques militares na África nos últimos anos, participando de invasões no Mali, em Níger, na República Centro-Africana, no Chade, na Somália e no Sudão.

A crise migratória, com a terrível crise social que implica para a vida de centenas de milhares de imigrantes, deixa claro a hipocrisia dos governos da União Europeia, que querem "livrar-se" dos imigrantes ou "reparti-los em cotas para cada país", como se fossem pragas, como afirma o primeiro ministro David Cameron.

A brutalidade de acontecimentos como este na Áustria mostra o fortalecimento dos nacionalismos e da xenofobia no "continente civilizado" que junto aos Estados Unidos mais produz guerras e miséria no mundo. Os trabalhadores devem erguer a bandeira da defesa dos imigrantes como sua, lutando contra os Estados nacionais pela abolição de todas as leis antiimigratórias, contra a islamofobia, a xenofobia, os centros de detenção de refugiados (CIEs), para que a população de outros países tenha todos os direitos civis garantidos.

Esta odisséia de migrações tem sua origem nas violentas relações estatais capitalistas, e suas misérias não podem terminar nos marcos das divisões entre fronteiras nacionais.

 
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