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USP: um balanço das eleições do DCE e os desafios dos estudantes frente ao governo Bolsonaro
juventude Faísca USP

Quais os desafios do movimento estudantil na USP frente ao governo de Bolsonaro e o avanço do autoritarismo judiciário? Um balanço das eleições para o DCE Livre da USP

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As eleições do DCE Livre da USP foram pautadas pela discussão sobre quais devem ser os rumos do movimento estudantil e da esquerda frente a vitória de Jair Bolsonaro. O aumento do quórum expressa e enorme politização e a necessidade que os estudantes sentiram de se posicionar frente a esse cenário, ainda que num primeiro momento esse posicionamento se dê apenas na forma do voto, já que todas as chapas eram contrárias ao presidente eleito como herdeiro do golpismo institucional e das eleições mais manipuladas da história. Nosso desafio agora é seguir debatendo como construir a luta para que o movimento estudantil volte a organizar milhares de estudantes e consiga se aliar aos trabalhadores na importantíssima tarefa de derrotar os ataques de Bolsonaro, especialmente na educação, com o Escola sem Partido, e a reforma da previdência.

A gestão Nossa Voz (PT, UJS, Levante) foi reeleita com 4811 votos, capitalizando o espaço que o petismo conquistou nas eleições nacionais, como oposição democrática ao Bolsonaro. Em todo o país, o petismo vem buscando construir uma oposição parlamentar para deixar o próximo governo se "desgastar" até 2022, mesmo que isso signifique a implementação das reformas defendidas pelos capitalistas, como a reforma da previdência. Para seguir com essa estratégia o PT vem buscando por conformar uma frente ampla com diversos partidos burgueses, incluindo o coronel burguês que viajou pra Europa no segundo turno, Ciro Gomes, e até mesmo golpistas do PSDB, que a principio estão contrários a essa proposta. Uma frente como essa, não denunciaria o judiciário, pois considera o STF, pilar do golpe institucional, um aliado democrático. Não falaria mais do golpe institucional, porque pretende incluir em seu campo os golpistas e não vai se colocar enfaticamente na luta contra as reformas, porque parte dos seus aliados querem as reformas. Apostam novamente na impotente estratégia eleitoral que nos fez chegar até aqui, conforme já alertávamos no segundo turno, quando acompanhamos aqueles setores que queriam demonstrar seu rechaço a Bolsonaro votando criticamente em Haddad sem que isso representasse apoio a política e ao programa do PT.

Na USP, essa estratégia petista se mostrou com toda força nos comitês em defesa da democracia impulsionados pela gestão reeleita durante o segundo turno, cujo o único objetivo era organizar os estudantes para panfletar na campanha do Haddad, sem articular um plano de luta sério que pudessem colocar o DCE e os centros acadêmicos da universidade na linha de frente de organizar milhares de estudantes para se aliar com os professores, os bancários, os metalúrgicos e tantas outras categorias de trabalhadores que são base dos sindicatos dirigidos pelo PT.

Também se expressa na concepção deles sobre o papel do movimento estudantil apenas como um instrumento de pressão das instituições. No início do ano, vimos como essa visão de conciliação dos interesses dos estudantes com a reitoria levou ao absurdo da gestão Nossa Voz, defender que não tinha nenhum problema eles terem feito seis reuniões com o reitor sem informar os estudantes, antes mesmo de realizar uma única assembleia geral. Vimos também, quando dezenas de universidades foram invadidas pela polícia e o TSE, eles consideraram que nossa grande vitória era o posicionamento do STF golpista, que prendeu arbitrariamente Lula e manipulou como pode as eleições, em defesa de algo elementar como a autonomia universitária e a liberdade de expressão. Alimentando as ilusões dos estudantes numa das instituições mais golpistas do nosso país, que vem pela via do seu autoritarismo regendo o regime a serviço de aplicar os ajustes contra a classe trabalhadora e a juventude.

Um dos grandes desafios do movimento estudantil no próximo período será superar essa visão de conciliação com a reitoria. Vahan apesar de fazer demagogia se declarando como um defensor da autonomia universitária e se posicionar contra a censura ideológica do Escola sem Partido, se colocou numa posição de neutralidade frente ao BolsoDória e defende os parâmetros de sustentabilidades que congelam por 5 anos o orçamento da universidade. Além de ter sido um dos idealizadores do projeto “USP do Futuro” realizado pela consultoria privada norte-americana McKinsey, para defender uma concepção de universidade que avance nos projetos de desmonte e privatização, para que a universidade esteja cada vez mais a serviço dos grandes empresários e afastada da população pobre e trabalhadora.

Os 2627 votos que deram a chapa Transformar o Medo em Luta (PSOL e PCB) o segundo lugar na votação do DCE são uma importante expressão de que um grande setor dos estudantes vem questionado essa concepção petista pela esquerda. Mas, ao contrário do que os companheiros dessa chapa colocaram em sua campanha, de que o movimento estudantil precisa começar a luta de um marco zero, nós achamos fundamental retomar nossa história de organização ao lado da classe trabalhadora, e para isso também precisamos debater como chegamos até aqui. Falam que são a chapa da luta, mas foram parte das gestões que paralisaram o DCE desde 2010. Isso que querem trazer de volta. Onde estava essa luta durante esse tempo? Onde estava essa resistência em 2016, quando o golpe estava sendo aprovado, e essa gestão votou contra mencionar isso entre as bandeiras da greve que construímos? Por isso, colocamos a importância de que o PSOL e PCB façam um claro balanço de como foi equivocada a política que levaram adiante em 2016, quando eram parte da gestão Travessia do DCE e defenderam que nossa greve não deveria ter um posicionamento claro a respeito do golpe institucional em curso naquele momento. Inclusive com algumas correntes dessa chapa, como o Juntos, defendendo que a Lava Jato de Sérgio Moro, hoje ministro da justiça de Bolsonaro, deveria ir até o final doa a quem doer.

Hoje fica claríssimo como teria sido fundamental, se naquele momento o DCE Livre da USP tivesse se posicionado claramente contra o golpe institucional em curso e tivesse organizado os estudantes da USP para ser um bastião de resistência ao golpe, em aliança com os trabalhadores e se contrapondo a passividade das burocracias petistas. Hoje poderíamos estar em condições muito diferente não só no nível de organização do movimento estudantil, mas também na capacidade de influir nos rumos da política do país. Foi esse posicionamento equivocado das correntes que naquele momento estavam a frente do DCE, que conduziram nossa entidade a ficar absolutamente paralisada em 2017, aprofundando uma situação que já vinha acontecendo nos anos anteriores. E pior, abrindo caminho para que o PT, que não organizou nenhuma resistência séria na luta contra o golpe, pudesse questionar onde estava o nosso DCE frente a um momento tão decisivo da política do nosso país. Ao mesmo tempo que se fortaleciam com um discurso de que frente a paralisia da entidade era necessário um DCE presente, sendo que a Nossa Voz é parte da maior burocracia estudantil que há quase 30 anos faz da UNE uma entidade afastada da realidade dos estudantes.

O PSOL, conquistou uma importante expressão política nas últimas eleições, com Guilherme Boulos e seus parlamentares eleitos, se localizando como principal partido a esquerda do PT nacionalmente. Ao longo de toda campanha, debatemos com os estudantes como essa expressão política do PSOL poderia estar a serviço de preparar um plano de lutas sério em contraposição a estratégia meramente parlamentar do PT. Isso poderia acontecer se os atos e ações chamadas pela Frente Povo sem Medo, do qual nós fomos parte de construir e batalhar por essa perspectiva, fossem usados para exigir que as entidades estudantis e sindicais dirigidas pelo PT organizassem a luta desde as bases, sendo essa a única forma de massificarmos nossa mobilização. Na USP por exemplo, poderiam usar a localização que conquistaram com a chapa e os centros acadêmicos que dirigem para fazer um chamado exigindo que a chapa Nossa Voz e os CAs dirigidos pelo PT se comprometessem com uma política séria de organização de milhares de comitês de luta contra os ataques de Bolsonaro, como o Escola sem Partido e a reforma da previdência. Mas como os companheiros do PSOL e PCB se recusam a fazer essa exigência, acabam passando um pano para as burocracias petistas, cobrindo pela esquerda a mesma estratégia parlamentar que vai deixar passar os ataques enquanto faz o governo sangrar até 2022. E pior, impedindo com que esse questionamento pela esquerda da gestão Nossa Voz, expressa pela votação do DCE, possa se materializar em força militante em cada faculdade, única forma de fazer com que o PT rompa com sua paralisia e organiza algo de fato, unificando o conjunto do movimento estudantil na luta.

O PSTU tentou esconder seu apoio ao golpe institucional, a prisão arbitrária do Lula e a Lava Jato, construindo a chapa Rebeldia com um discurso de oposição radical ao PT que os levou a conquistar 261 votos, sem deixar claro para essa base suas posições golpistas. Chamamos os companheiros do PSTU a rever seu apoio ao avanço do autoritarismo judiciário em nosso país, para assim poder construir de fato uma oposição radical ao PT.

Nós do MRT, que impulsionamos o portal Esquerda Diário, construímos juntamente com companheiros independentes de diversos cursos a chapa Uma flor rasgou a rua, que conquistou 218 votos defendendo um programa que marcava claramente a necessidade de que o DCE fosse uma ferramenta de organização da luta dos estudantes ao lado dos trabalhadores para derrotar as reformas de Bolsonaro na educação e na previdência. Agradecemos cada um desses votos, pois sabemos que eles são expressão de confiança numa política e num programa que aponta a necessidade de se enfrentar com os avanços do autoritarismo judiciário para lutar contra os ataques de Bolsonaro, a começar pela batalha contra a reforma da previdência e o Escola sem Partido, sem nenhuma ilusão nessas instituições burguesas, sem nenhuma conciliação com a reitoria e a burocracia acadêmica, superando as burocracias petistas nas entidades estudantis, e batalhando para retomar aquele movimento estudantil de maio de 68 e que ia na porta das fábricas dialogar com os operários na ditadura militar, para organizar novamente milhares de jovens num movimento estudantil que tenha como horizonte a aliança com a única classe capaz de transformar toda sociedade, a classe trabalhadora.

Enquanto Bolsonaro declara que universidades públicas são dinheiro jogado fora e que quer acabar com os centros acadêmicos, nossa primeira tarefa é defender nossas entidades estudantis e a melhor forma de fazer isso é retomá-las como ferramentas de organização, para serem entidades combativas que promovam o debate de ideias e a unidade do movimento na luta. É com essa perspectiva que seguiremos debatendo com cada um dos nossos eleitores, com os estudantes e o conjunto do movimento estudantil. Por isso, também, fazemos um chamado a construção de chapas militantes para disputar essas ideias nas eleições dos centros acadêmicos da Letras, Sociais e Pedagogia. E principalmente para seguirmos batalhando pela construção de um plano de lutas sério, que possa colocar os estudantes da USP na linha de frente da luta contra os ataques de Bolsonaro.

 
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