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ELEIÇÕES 2018
Bolsonaro venceu as eleições mais manipuladas da história recente do Brasil
André Barbieri
São Paulo | @AcierAndy
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Imagem: Hélvio Romero

Com 99% das urnas apuradas, Bolsonaro registrou 55% dos votos válidos, contra 45% dos votos de Fernando Haddad.

Bolsonaro venceu as eleições mais manipuladas da história recente do país. Com as manobras judiciais e a tutela das Forças Armadas, para que as eleições fossem continuidade e aprofundamento do golpe institucional de 2016, Bolsonaro se beneficiou da radicalização do sentimento antipetista e do derretimento da direita tradicional (especialmente da catástrofe do PSDB).

Bolsonaro expressou uma radicalização do discurso religioso, prometendo ataques a direitos democráticos. Em seu primeiro discurso após o resultado das urnas no segundo turno rezou e fez várias referências religiosas, e jurou por Deus realizar as reformas contra os trabalhadores que o mercado financeiro deseja. Em seu discurso após o primeiro turno deixou assentada uma marca de sua campanha uma radicalização anti-esquerda prometendo prender ou expulsar os "vermelhos" do país.

Será o 8º presidente brasileiro desde a transição da ditadura; abre-se um novo ciclo no país. A burguesia tratará de alterar a relação de forças entre as classes, apontando o programa escravista de Bolsonaro na têmpora dos trabalhadores e da população pobre. Seu programa é de violenta continuidade das reformas de Temer, aprofundando a retirada de direitos com a reforma trabalhista, ataque às aposentadorias e privatizações de todas estatais para favorecer o imperialismo.

Isso não significa que terá terreno livre para isso; Bolsonaro venceu as eleições, mas as massas que fizeram experiência com os ataques de Temer, e associam a piora de suas condições de vida ao golpe, não aceitarão pacificamente os ajustes. É preciso nos organizar para enfrentar a continuidade violenta do golpe.

A vantagem de Bolsonaro caiu durante a semana prévia ao segundo turno, diminuindo sua margem de vitória. Se é verdade que a situação política gira mais à direita com uma figura reacionária que será a continuidade violenta dos ataques de Temer, também é verdade que esse declínio na reta final indica que a luta de classes se fará presente já nos primeiros momentos de seu mandato.

As bolsas de valores responderam em alta com o triunfo de Bolsonaro. Os aplausos do banco estadunidense Goldman Sachs revelam a aprovação dos chefes do capital financeiro mundial, donos da dívida pública brasileira que rouba R$ 1 trilhão do país por ano. O capital estrangeiro, em primeiro lugar o norte-americano, esperam superexplorar a classe trabalhadora, arrancar as riquezas nacionais e suas principais empresas, como a Petrobras, Banco do Brasil, Caixa Econômica e os Correios.

A equipe de banqueiros e empresários milionários que comporá parte do gabinete de Bolsonaro terá uma função especial: trucidar cada ponto dos direitos trabalhistas, acabar com a CLT, escravizar a população através da generalização da terceirização do trabalho, em especial a população negra e indígena, que Bolsonaro e Hamilton Mourão odeiam. Jorge Paulo Lemann, o homem mais rico do Brasil, dono da Ambev; Alexandre Bettamio, presidente executivo para a América Latina do Bank Of America; João Cox, presidente do conselho de administração da TIM; e Sergio Eraldo de Salles Pinto, da Bozanno Investimentos: estes são alguns dos capitalistas que junto a latifundiários e financistas buscarão fazer os trabalhadores pagarem pela crise.

Apesar de já ter declarado à televisão que se fosse eleito presidente fecharia o Congresso, apoiando a ditadura militar e a tortura, num ódio repulsivo às mulheres, aos negros, aos indígenas, à comunidade LGBT, agora Bolsonaro esconde essa cara e posa de “democrático” (numa eleição abertamente manipulada). Mas não podemos nos enganar. Seu vice Mourão não mente quando diz que quer acabar com o 13º salário. Bolsonaro não mente quando diz que quer acabar com todas as empresas estatais e flexibilizar todos os direitos trabalhistas muito mais do que Temer já fez.

Sem dúvida os trabalhadores não têm nenhum interesse no programa econômico ultraneoliberal de Bolsonaro e Paulo Guedes, que já prometeram privatizar a empresa dos Correios, atacar os salários, cortar o "custo trabalhista" para que os empresários demitam e explorem a bel prazer os trabalhadores, as mulheres e a juventude.

Limites para o programa ultraneoliberal de Bolsonaro

Pesquisa DataPoder360 nos dias 17 e 18 de outubro de 2018 indica que apenas 37% dos eleitores de Bolsonaro acham que “o governo deve vender todas ou partes” das empresas estatais. Para 44% dos bolsonaristas, é melhor manter tudo sob controle do Estado. Só 30% dos eleitores de Bolsonaro são a favor de o governo vender a Petrobras. Outros 60% dizem que a Petrobras deve continuar sob o controle do governo.

Em pesquisa do início de 2018, esmagadores 86% da população eram contrários à reforma da previdência, que Bolsonaro e seu vice, Hamilton Mourão, dizem ser "prioridade número 1".

Não há dúvida que Bolsonaro terá inúmeras contradições para governar, e isso será uma oportunidade para que as lutas dos trabalhadores emerjam e se enfrentem com os capitalistas e a direita. O reacionário ex-capitão, mesmo fazendo todas as alianças fisiológicas que já arquitetou com os partidos mais corruptos do país, como o DEM de Rodrigo Maia, paladino da reforma da previdência:

1) Na semana prévia ao segundo turno Bolsonaro viu sua vantagem decrescer, e sua rejeição aumentar, depois de suas declarações fascistas contra os "vermelhos", e as ameaças de seu filho sobre o fechamento do STF. Saindo com uma vantagem de apenas 10%, terá mais dificuldade em aplicar os ajustes que pretende. 2) Terá que lidar com a queda por terra de toda a sua demagogia “antissistema” e “anticorrupção” na medida em que tenha que compôr uma base parlamentar com o bando de mafiosos que sustentou o governo Temer, e estabelecer com o Congresso o balcão de negócios que tanto criticou ao PT. 3) Parte importante de sua maioria eleitoral não é consciente de que seu governo será muito pior do que o de Temer em termos de ataques, destruição de direitos, e piora das condições de vida. Contradição essa que tende a se agudizar ainda mais com a escalada de demagogia que fez no segundo turno, para conter os eleitores lulistas que ganhou no primeiro, dizendo que vai dar décimo terceiro ao Bolsa Família, e que não vai aumentar os impostos aos mais pobres. 4) As idas e vindas de Bolsonaro, indo de dizer que irá privatizar todas as empresas públicas, a reconhecer que manteria seus “núcleos estratégicos”, são uma antecipação dos conflitos que existirão no programa ultraliberal de Paulo Guedes e os interesses estratégicos de setores militares e da burguesia brasileira.

Não é possível combater seu governo, que representa os "donos do país" e a submissão ao imperialismo estrangeiro, sem uma enorme força organizada, em cada local de trabalho e estudo, com um programa anticapitalista e socialista que tenha influência sobre os setores de massas que vieram enfrentando Bolsonaro nos últimos meses.

Para enfrentar essa dinâmica sabemos que o PT é completamente impotente. Depois de governar por anos com os capitalistas, assimilando seus métodos de corrupção e se vangloriando de garantir a eles lucros inauditos, quis mostrar que ainda podia servi-los começando o segundo mandato de Dilma com a aplicação dos ajustes contra a classe trabalhadora, e com isso terminou de desmoralizar sua própria base social, abrindo caminho ao golpe que colocou Temer no governo para avançar mais rapidamente com os ataques.

A estratégia petista, puramente eleitoral, de contenção da luta de classes, para canalizar o descontentamento para o terreno dos votos, terminou sendo incapaz de oferecer qualquer resistência séria ao golpe institucional. Uma vez na oposição, sua política de responder ao ódio destilado pela Lava Jato e pela Rede Globo com ilusões no Poder Judiciário e nas eleições terminou sendo completamente impotente para frear o avanço da extrema direita.

Para combater seriamente o avanço da extrema direita e do golpismo, necessitamos exigir dos sindicatos, das centrais sindicais, entidades estudantis e populares que impulsionem comitês de base para organizar a resistência e preparar uma grande paralisação nacional combinada com mobilizações de rua em todo o país. Nestes comitês e nesta organização da classe trabalhadora e da juventude precisamos lutar para derrubar todas as reformas reacionárias do governo Temer e criar um grande movimento pelo não pagamento da dívida pública, para que haja recursos para as obras públicas, a saúde e a educação.

Só poderemos combater seriamente Bolsonaro com um programa que responda de forma radical às verdadeiras angústias da maioria explorada e oprimida do país. A única resposta radical e realista, é a que defenda a mobilização dos sindicatos e movimentos sociais para fazer retroceder o avanço autoritário e impor que os capitalistas paguem pela crise. Nós do MRT e do Esquerda Diário, que combatemos de forma independente do PT cada passo do golpismo, colocamos toda nossa energia nesse combate contra Bolsonaro, a extrema-direita, o golpismo e as reformas.

 
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