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ELEIÇÕES 2018
O apoio crítico de Mano Brown ao PT: “eu não gosto desse clima de festa”
Thiago Flamé

A fala de Mano Brown no ato pró-Haddad no Rio de Janeiro tem rendido polêmicas. O rapper afirmou que o PT se afastou das bases e não consegue mais comunicar com a periferia e que sendo assim, “quem falhou vai pagar”. Muitos petistas ficaram insatisfeitos, enquanto Bolsonaro de forma totalmente cínica tentou tirar proveito do desabafo de Brown para sua campanha de extrema direita.

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É verdade que faltou na fala do Mano Brown mais uma critica feroz contra Bolsonaro e o que ele representa, faria diferença agora para fortalecer os que entendem o que está em jogo. Só por isso Bolsonaro pode, cinicamente, fazer um vídeo tentando se utilizar das criticas do Mano Brown ao PT a seu favor. O candidato do PSL agradece pela verdade que Mano Brown expôs e reafirma que o PT errou “e errou muito”, dizendo que ele está indo na mesma linha que Cid Gomes. Mas ele é um músico e não um político e, não é demais lembrar, por tudo o que representa está no lado oposto ao de Bolsonaro e na alça de mira de policiais que querem mais liberdade para matar o povo pobre e negro nas periferias.

Uma semana atrás Mano Brown afirmava em show que “precisamos tirar o pensamento escravagista, o nosso pensamento de escravo tem que sair, o país é nosso, a maioria é nossa, não jogue seu voto fora, Bolsonaro é o caralho”. Em uma entrevista alertava expressamente “o cara que pregar justiça na rua, o cara que prometer austeridade, cadeia, é o que está sendo mais votado, mas quem é que vai preso? Essa lei vai cobrar quem na real? (...) O próprio povo não sabe onde ele está votando, ele tá votando no inimigo dele, no inimigo do filho dele”.

A fala de Brown, ao contrário da de Cid Gomes que equivale a uma punhalada pelas costas enquanto o Ciro está autoexilado na Europa, expressa a perplexidade de amplos setores com o que está acontecendo e como um candidato como Bolsonaro ganhou tanto peso mesmo nas periferias. É um desabafo, um grito de alerta, ainda que cheio de contradições.

É verdade que o PT perdeu o poder de comunicação com a periferia. Mas por quê? A direita se fortaleceu, Dilma sofreu um golpe institucional que se aprofundou com a prisão de Lula, que rechaçamos desde o primeiro momento e seguimos rechaçando, e tudo isso debilitou o PT. Mas o PT perdeu mesmo a capacidade de comunicação por que faliu, com a revolta da juventude em 2013 e com a crise econômica de 2015, sua estratégia de conciliação de classes e seu programa de melhoras graduais na vida do povo, dentro do aceitável para a burguesia. Fez parte de ataques importantes contra as massas negras para quem Brown dedica suas músicas. Triplicou a terceirização, manteve e aumentou as tropas brasileiras no Haiti.

Durante os anos que Lula governou, em base ao crescimento econômico pode encher os bolsos dos capitalistas ao passo em que fazia pequenas e gradativas melhoras no nível de vida da classe trabalhadora e do povo pobre. Ao mesmo tempo, fez todas as concessões ideológicas e democráticas que podia ao setores conservadores. Abriu mão da luta no campo dos costumes, aderiu de corpo e alma a ideologia do empreendedorismo enquanto ela levava ao fortalecimento eleitoral do lulismo. Fez a vontade dos militares, da Igreja Católica e dos pastores evangélicos em todas as questões importantes. Se abraçou no que existe de mais corrupto na elite e na política brasileira.

A crise capitalista, como era inevitável, bateu às portas do Brasil e a marolinha virou tsunami. Já não existia espaço para satisfazer a todos. O segundo governo Dilma, no pouco tempo que teve de vida, foi um governo mentiroso, de ajustes contra a base social que o elegeu, traindo as promessas da própria campanha, aplicando um programa de ajustes que incluiu cortes de verbas na saúde e educação, restrição ao seguro desemprego e auxílios do INSS e a mudança de lei para a exploração do petróleo, em favor dos interesses das multinacionais. As prisões, já superlotadas de jovens não julgados, viram sua população crescer mais de 20% sob o governo de Dilma, metade deles sem julgamento. Esses ataques à sua base social, porém, não satisfizeram as elites que pediam um ajuste mais rápido e estrutural.

Tiraram a Dilma via golpe institucional para avançar ainda mais nos ataques. O PT continuou tentando ser porta voz da conciliação dos interesses das massas com a burguesia, numa espécie de jogo duplo, apostando em negociações e não na mobilização. Em 28 de abril, a partir da greve geral que paralisou o país contra a reforma da previdência de Temer, poderia ter se desenvolvido um processo de luta que barrasse a reforma trabalhista aprovada meses depois, mas o PT apostou em desgastar o movimento esperando que com a impopularidade de Temer retomaria a presidência nas eleições. Grave erro. Foi nessa lógica que as centrais sindicais traíram a greve geral convocada para 30 de junho. Mais uma vez o golpismo avançou e acabou com a esperança conciliatória do PT. Desmoralizando sua própria base ao entregar cada uma das posições sem luta e cedendo todos os espaços para a direita, o PT foi impotente para barrar o caminho do fortalecimento da extrema-direita.

Quando Brown afirma que “se errou vai ter que pagar, quem errou vai ter que pagar” é compreensível que ele está falando ali de frente para Haddad, Manuela D´avilla e o aparato petista, mas deixar de fazer o contraponto com o outro lado, que ele mesmo fez tão bem em outros momentos, é justamente o que permite Bolsonaro tentar se utilizar da sua fala de maneira cínica. Quem vai pagar essa conta, ao fim e ao cabo, não são os dirigentes petistas, é a classe trabalhadora mesmo, o povo da periferia, o povo negro, até mesmo os votantes de Bolsonaro. Do lado de lá se levantam ameaçadoramente as forças da caserna e da perseguição política, da censura, da tortura, a serviço de reduzir novamente o povo brasileiro à condição de escravo. Com toda a cegueira do PT, o problema não é que este deixou de entender ou mesmo de se comunicar com o povo, da mesma forma que Bolsonaro vai ganhar não por que entende o povo. A cegueira do PT corresponde ao caráter utópico que tem seu programa num momento de crise capitalista. O clima não é de festa, ainda que o PT insista com os atos festivos. É preciso enfrentar a extrema direita com a força da mobilização da classe trabalhadora, e essa mensagem não será comunicada pelo PT.

É preciso mobilizar e organizar aqueles que já compreendem o que significará um provável governo Bolsonaro, e se preparar para resistir frente aos profundos ataques que virão. Não podemos esperar que o PT vá corrigir seus erros, e uma das coisas que o desabafo contraditório de Brown expressa é que existe espaço para que amplos setores da base petista tirem conclusões pela esquerda frente a impotência do PT para combater a extrema direita. Desde já é preciso agrupar e organizar o maior número de trabalhadores e jovens em comitês de base nos locais de trabalho e estudo e também nos bairros, exigindo da CUT e da CTB que multipliquem por milhares esses comitês de base em todo o país para podermos virar o jogo e enfrentar as forças da reação que se levantam de forma ameaçadora.

 
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