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LUTA CONTRA O RACISMO
50 anos depois: nossos punhos permanecem erguidos na luta contra o racismo e a extrema direita
Odete Assis
Mestranda em Literatura Brasileira na UFMG

Em 16 de outubro de 1968, os atletas Tommie Smith e John Carlos protagonizaram uma das fotos mais icônicas da história da luta negra em todo mundo. Os punhos fechados, as mãos com luvas pretas erguidas, a cabeça para baixo, em cima do pódio durante o hino nacional dos Estados Unidos, na entrega das medalhas dos Jogos Olímpicos na Cidade do México.

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Não se pode entender o significado histórico desse ato, se não partimos em primeiro lugar da situação política dos negros, nos EUA e em todo mundo. Desde a guerra civil norte-americana a segregação racial era uma das marcas da sociedade, na década de 50 os movimentos pelos direitos civis começaram a ganhar mais força. A situação absurda a que os negros estavam submetidos, com leis que garantiam a segregação dentro da sociedade americana, era reflexo de como o racismo e o capitalismo estão umbilicalmente ligados para dividir e fragmentar a classe trabalhadora, aumentando assim a exploração do conjunto da nossa classe. Tudo que a maior democracia capitalista do mundo oferecia ao povo negro era a repressão, o trabalho precário e a violência justificada por ideologias abertamente racistas.

Quando Rosa Parks recusou ceder seu lugar no ônibus do Alabama, uma faísca se alastrou por todo país, incendiando diversos outros lutadores negros que passaram a se organizar na luta pelos direitos civis. A situação convulsiva em todo mundo, marcada pela guerra fria entre Estados Unidos e já burocratizada URSS, colocava no imaginário a ideia da revolução. Enquanto em diversos países do mundo a classe operária voltava a se levantar contra as misérias desse sistema capitalista. Foi nesse terreno que despontaram grandes lideranças negras como Martin Luther King, Malcon-X, e o Partido dos Panteras Negras.

Em 1965 Malcon-X é assassinado e os Panteras Negras passam a organizar a auto-defesa do povo negro. 1968 chega para se tornar um ano marcante na história mundial. A juventude se organiza nas ruas contra a guerra imperialista no Vietnã. O campeão mundial dos pesos pesados, o lutador negro Muhammad Ali se recusa a ir servir os interesses norte-americanos numa guerra que não era sua, perdendo seu título de campeão mundial. No dia 4 de abril, Martin Luther King é assassinado em meio a luta pelos direitos civis. Sete dias depois, o presidente norte-americano Lyndon Johnson assina a Lei dos Direitos Civis, pressionado pelas grandes manifestações contra o assassinato de Luther King. A classe operária entra em cena no velho continente e protagoniza o Maio Francês e a Primavera de Praga.

Enquanto a luta negra aumentava a cada dia nos EUA, e em todo mundo o capitalismo convulsionava diante das lutas da classe trabalhadora e da juventude, começavam os Jogos Olímpicos no México. Os atletas negros chegaram a cogitar a possibilidade de simplesmente boicotá-los, mas não chegaram a tanto. Ao invés disso, criaram uma associação que deixava clara sua insatisfação com as coisas como eram, a OPHR, as iniciais em inglês de Projeto Olímpico pelos Direitos Humanos. Foi assim que após ganharem as medalhas de ouro e bronze na prova dos 200 metros rasos do atletismo, dois atletas negros norte-americanos, Tommie Smith e John Carlos subiram ao pódio e durante a execução do hino nacional dos Estados Unidos, abaixaram suas cabeças e ergueram seus punhos com a luva preta, num dos gestos consagrados pelos Panteras Negras, marcando para sempre a história do esporte e da luta antirracista em todo mundo.

O vencedor da medalha de prata, o australiano Peter Norman, sabia de todo o plano dos ativistas negros e decidiu apoia-los. O país de Norman, a Austrália, tinha leis de apartheid rigorosas, quase tão rígidas como as da África do Sul. Talvez isso justificasse o apoio que deu aos seus colegas norte-americanos quando eles contaram qual era o plano para aquela premiação ao dizer “estou com vocês” . Segundo palavras de John Carlos “Esperava ver receio nos olhos de Norman, mas em vez disso vimos amor.”

O Comitê Olímpico Internacional condenou severamente a ação dos atletas, sob a alegação de que esporte e política não combinam. A mídia norte americana criticou intensamente Smith e Carlos. A revista Time sublinhou a “raiva e a feiúra” do protesto. Tentaram retirar as medalhas de ambos, mas não conseguiram. Por muitos anos eles foram relegados pela autoridades que comandavam o atletismo nos EUA. O australiano Peter Norman, também sofreu retaliações da impresa e autoridades de seu país, o racismo era tão forte que a atitude de Norman frente ao protesto negro fez sua carreira entrar em colapso. Mas a ação que ele protagonizou tornou-se um dos maiores símbolos da unidade entre negros e brancos na luta contra o racismo, que se faz presente até hoje.

Agora, 50 anos depois, a luta contra o racismo permanece cada dia mais necessária, ainda mais diante do ascenso da extrema direita racista em diversos países do mundo. No Brasil essa extrema direita, tem em Jair Bolsonaro seu representante em meio às eleições manipuladas pelo golpismo e o judiciário. Um candidato que vem para impor pela via da força e da repressão todas as reformas que Temer e o golpismo não conseguiram implementar. Um candidato reivindicado pelo ex-líder da Ku Klux Klan, sob o argumento de que “Ele soa como nós”, pois afinal alguém que defende que “os negros não fazem nada” e “nem para procriar servem mais”, alimenta com sua ideologia racista e seu ódio a violência de seus seguidores proto facistas que teve como apice o assassinato do mestre Moa de Katendê, com 12 facadas após o primeiro turno da eleição.

É por isso que hoje, quando se completam 50 anos dessa foto simbólica da luta do povo negro, devemos nos embandeirar da tradição de combate e resistência do nosso povo, para novamente erguer nossos punhos contra essa extrema direita que vem para esmagar os negros, as mulheres, os LGBT e principalmente a classe trabalhadora, para lutar contra o racismo escancarado que nos quer fazer voltar a escravidão, contra a violência que assassina nossos irmãos, nos organizando desde cada local de estudo e trabalho com milhares de comitês por todo o país, para lutar contra Bolsonaro, o golpismo, as reformas o racismo e o capitalismo.

 
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