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Os trabalhadores perante as cinzas das tradições culturais
Afonso Machado
Campinas

O incêndio no Museu Nacional no Rio de Janeiro é um crime de proporções tão devastadoras para a memória, que somente a classe trabalhadora possui condições de sanar seus prejuízos históricos.

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Isto está longe de ser um chavão: os órgãos governamentais que administram os interesses da burguesia brasileira não apresentam condições históricas para entender o bem público, aquilo que é de interesse coletivo. Como foi muito bem apontado neste jornal por camaradas, o corte de verbas e o descaso das autoridades explicam esta tragédia que priva gerações do contato com cerca de 200 anos de história. O extraordinário acervo do Museu Nacional, convertido em cinzas, deixa não apenas o historiador e outros pesquisadores órfãos. É a humanidade que está impossibilitada de ampliar/enriquecer suas vivências culturais.

A verdade é que em termos culturais a burguesia brasileira faz feio perante as burguesias dos outros países. Até mesmo os países imperialistas ficaram escandalizados com o incêndio: governos que representam os interesses capitalistas, que saquearam povos e culturas, sabem lidar de maneira infinitamente mais competente com os documentos de cultura. Todavia não é um problema de falta de educação, já que estamos falando de uma classe aparentemente instruída. O problema é a falta de visão histórica: a classe dominante no Brasil tem um horizonte cultural que não vai além da conta bancária. Para agravar a situação, a fome cultural é tão grave no contexto brasileiro que cotidianamente ela é tapeada com uma série de porcarias simbólicas e farelos artísticos. Nenhuma mudança substantiva poderá ocorrer sem que o movimento dos trabalhadores lute por uma outra cultura: e nesta luta a organização da cultura do passado é vital.

Os acervos que apresentam documentos grávidos de tradições culturais, não podem interessar aqueles que usam cargos públicos para se enriquecer. Os acervos espalhados pelos museus do Brasil interessam aqueles que trabalham, são explorados, produzem as riquezas e não são devidamente apresentados às riquezas culturais. Existe uma razão histórica elementar para tal afirmação. Se o proletariado possui as condições de criar uma nova sociedade, sem exploração/sem a divisão social do trabalho, as tradições culturais são para um possível governo operário um bem acessível a todos e administrado por trabalhadores da cultura cientes da necessidade de elevação cultural das massas. Hoje muitos professores e pesquisadores fazem o que podem, dão o sangue e até tiram dinheiro do próprio bolso para tentar manter espaços que são responsabilidade do poder público. Precisamos chegar na raiz da questão. Para as pessoas que só encontram na cultura a possibilidade de lucros, patrimônios e acervos não passam de coisas embalsamadas. Já para os comunistas é necessário que todos assimilem a cultura do passado e ao mesmo tempo construam a cultura do futuro; e tudo isto pressupõe preservação da memória. Nada em termos de informação histórica está perdido para os trabalhadores: uma afresco da cidade de Pompéia, um artefato de alguma civilização pré-colombiana, um livro redigido na época do Império brasileiro, enfim, toda e qualquer informação científica e artística dizem respeito ao povo.

Fatias de séculos da história brasileira e mundial faziam parte das seções do Museu Nacional. Criado por Dom João VI em 6 de junho de 1818, este museu deveria ter sido cuidado, preservado. É hora de enxugar as lágrimas e continuar a luta no front cultural: lutemos pelos nossos museus.

 
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