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50 ANOS MAIO FRANCÊS
50 anos do Maio Francês: América Latina e anti-imperialismo
Gonzalo Adrian Rojas

Na última quarta-feira, 29 de agosto, organizado pelo Programa de Pós-graduação em Serviço Social (PPGSS) da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), no marco do Seminário Nacional: 50 Anos das manifestações de maio de 1968, fiz parte de uma mesa-debate sobre “Maio de 1968: América Latina e anti-imperialismo” desde Esquerda Diário.

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Nesta matéria apresento o conteúdo de minha intervenção.

O ponto de partida foi realizar uma leitura não hegemônica do maio francês, entendido como um processo internacional e de caráter internacionalista, com um componente além de estudantil, operário e com um forte impacto na América Latina.
Dessa forma, entendemos o maio francês como muito mais que um movimento de contracultura e geracional, sem subestimar seu impacto cultural na França conservadora bonapartista da V República de Charles de Gaulle e no plano mundial.

O maio francês é a abertura de um ciclo internacional que condensa a maioria das características deste, as tendências profundas apresentando um conjunto de questionamentos. Existe sim uma critica cultural, mas é anticapitalista, não pós-moderna, se apresenta como uma crítica da sociedade fetichizada contra o conjunto de suas injustiças. Critica a disciplina e a exploração capitalista, a intervenção imperialista e colonialista, a burocracia sindical dos partidos socialistas e comunistas com seu aparelho stalinista. Portanto, não foi só estudantil, também foi operária, foram realizadas as maiores greves na Europa depois da segunda guerra mundial.
Sobre o maio francês recomendamos a leitura da Revista Ideias de Esquerda número 4 que tem dossiê sobre o tema.

Entendido como processo, o maio francês é uma síntese de um conjunto de tendências da época, produto e gerador de uma onda expansiva que vem de antes de maio e se estende a longo prazo, que se compreende melhor historiando e mencionando no mínimo cinco elementos:

Um ascenso da luta de classes no plano mundial; Lutas anti-imperialistas e anticolonialistas no mundo, na América Latina, Ásia, e África; o impacto da Revolução Cubana de 1959 que se declara socialista em 1961, quando de fato já havia expropriado a burguesia no seu conjunto, e a expansão do guevarismo; a segunda Revolução Chinesa de Mao em 1949 e sua expansão, assim como a Revolução Cultural mesmo como parte de uma luta inter-burocrática no interior do partido Comunista da China; e a luta de libertação da Argélia com forte impacto na própria França.

Coincidindo com a ofensiva do TET no Vietnã organizado pela Frente de Libertação Nacional desse país, temos mobilizações massivas nos principais países imperialistas, em particular nos Estados Unidos contra essa guerra, em Washington, mas também em Paris, Roma, Oslo, Amsterdam, Tóquio e Alemanha contra presença do xã da Pérsia.

Também nos Estados Unidos temos a luta do Partido dos Panteras Negras (Blacks Panthers Party) organizando milícias de autodefesa, como por exemplo nas cidades operárias de Detroit e Newark.

Nos países do leste Europeu com a Primavera de Praga em 1968 e as lutas do movimento estudantil na Polônia, que assim como havia sido a Revolução Húngara em 1956, foram aplastadas pelo stalinismo.

Na França de De Gaulle se filtram lutas operárias anteriores que superam o controle do Partido Socialista Frances (PSF) e o Partido Comunista Frances (PCF), bem como as lutas emancipatórias das colônias, lembremos que já em 1962 os estudantes da Sorbonne içam a bandeira da frente da Libertação Nacional da Argélia na universidade.

Em todos estes processos existem fortes elementos de critica ao stalinismo em geral, e aos PCs oficiais em particular e a sua política de frente popular adotada pelo VII Congresso da Internacional Comunista dirigida por Stalin, tal política permitia realizar alianças com supostas frações burguesas progressivas, acabando com a independência política da classe trabalhadora.

Este ascenso de massas e na luta de classes teve suas inflexões, o golpe de estado na Grécia em abril de 1967 e o assassinato de Che Guevara na Bolívia, após ter lutado pela independência do Congo na África.

Do ponto de vista das tendências políticas com suas especificidades temos trotskistas, guevaristas e anarquistas em frentes de luta com breve presença de maoístas nestes. Trotskistas e guevaristas, com estratégias diferentes, defendem um caráter socialista na revolução, os anarquistas negam a ação política enquanto os maoístas, mesmo com críticas aos PCs oficias, defendem a tese stalinista de aliança com a burguesia nacional, em termos maoístas o bloco das quatro classes: operários, camponeses, pequena burguesia e burguesia nacional numa frente antimperialista, não anticapitalista. Por exemplo, fazem parte no inicio junto as mencionadas correntes do Movimento 22 de Março no maio francês, dirigido por Daniel Cohn Bendit mas abandonam logo. Guevara por sua vez, é uma expressão clara de luta contra etapismo de comunistas pró URSS e pró China com sua celebre frase: “Revolução Socialista ou caricato de Revolução”.

O anti-imperialismo aparece com força na América Latina, e a morte de Guevara tem um efeito contraditório porque simultaneamente é uma derrota do internacionalismo, mas fortalece como nunca o sentimento anti-imperialista na juventude.

América Latina vivenciou uma situação revolucionária e com impactos de luta anti-imperialista, desenvolvi brevemente dois casos, o massacre de Tlatelolco no México em 1968 e o Cordobazo na Argentina em 1969 contra a ditadura de Onganía.
Em 1968 no México, após dois meses de greve e dias antes do início das Olimpíadas no país, o Conselho Nacional de Greve dos estudantes convocam uma enorme mobilização durante o governo do Partido Revolucionário Institucional (PRI). Tanto o Exército, como a Direção de Segurança, assim como infiltrados conhecidos como luvas brancas (levavam uma luva branca na mão para o que as forças repressivas identifiquem como colaboradores) realizam um verdadeiro massacre, uns 300 foram assassinados, 700 feridos e mais de 5 mil detidos.

Na Argentina na cidade de Córdoba, berço da reforma universitária que este ano completa 100 anos, em maio de 1969, existiu uma semi insurreição numa cidade operária – estudantil que colocou em xeque a presidência de Ongania, que combinava uma politica nacionalista reacionária de direita com uma economia liberal. A unidade operária- estudantil gerou uma relevante luta de rua que só o exército consegui controlar.

Sobre a Reforma Universitária de Córdoba recomendo leitura desta matéria de minha autoria para este jornal.

Finalizando me referi a impressionante luta que estão realizando os docentes e os estudantes na Argentina hoje, há 50 anos do maio francês, como informamosneste jornal.

Conclui a exposição com uma tese trotskista que tem relação com o maio francês, mas também com outro conjunto de lutas: a espontaneidade da luta de massas radicalizadas não é suficiente para construir uma direção para conduzir a vitória, isso tem que ser preparado com paciência e antecedência.

 
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