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OPINIÃO
Mulheres na publicidade dos bancos: o empoderamento é de quem?
Thais Oyola - bancária e delegada sindical da Caixa

Nos últimos tempos, os maiores bancos do país tem investido pesado em campanhas publicitárias que tentam surfar na onda do movimento de mulheres, que ganha força em todo o mundo, buscando cavar novos nichos para alavancarem seus lucros.

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Seja o Itaú com a campanha mulher empreendedora Vai Garota, dizendo que “a conquista de uma mulher é uma conquista para todos”; seja o Bradesco com a campanha “mulheres para frente” ou o Santander com a campanha Mulher 360 pelo “desenvolvimento econômico da mulher”, todos os maiores bancos privados do país querem tentar convencer as mulheres de que são seus parceiros.

Empoderamento de quem?

Por trás do cenário colorido que os bancos querem vender às mulheres que seriam suas potenciais clientes, passemos aos bastidores escuros da exploração e precarização do trabalho que alimentam os seus lucros recordes que não se abalam em meio à crise, muito pelo contrário.

Não é segredo para ninguém que os maiores bancos do país são os redatores da Reforma Trabalhista que, além dos inúmeros ataques que afetam mais a vida das mulheres trabalhadoras, está a previsão de que as mulheres gestantes e lactantes possam trabalhar em ambientes insalubres.

Não é segredo também que esses mesmos bancos são alguns dos grandes fomentadores da terceirização irrestrita. O exército de mulheres terceirizadas da limpeza, na sua maioria negras, telefonistas, recepcionistas, trabalhadoras dos correspondentes bancários que ganham quando muito pouco mais de 1 salário mínimo, alimenta com o trabalho precário os lucros nos balancetes financeiros.

E como se não fosse o bastante, os maiores bancos ainda ajudam a sangrar através da dívida pública (conhecida também como “Bolsa Banqueiro”) uma montanha de recursos da saúde e da educação e também das políticas públicas voltadas à proteção da mulher contra a violência, por exemplo. Todos sabem que, se não tem creche, não tem escola, não tem hospital, quem arca com o cuidado dos filhos são principalmente as mulheres, as mesmas mulheres trabalhadoras dos ambientes insalubres, as mesmas mulheres do trabalho precário.

Mas a resposta a esta ordem de ataques não pode ser empoderar individualmente as mulheres, não pode ser pleitear cargos maiores que são somente correia de transmissão de mais exploração e precarização do trabalho. Afinal o Santander é presidido por uma mulher e isso em nada reflete na melhoria das condições de vida das mulheres mais atacadas pela Reforma Trabalhista e a terceirização. Para enfrentar os interesses capitalistas capitaneados pelos maiores bancos do país e do mundo, as lutas podem ter também o rosto das trabalhadoras, efetivas, terceirizadas, donas de casa.

Os movimentos de mulheres que tem eclodido no Brasil e em vários países no último período, em particular o movimento de mulheres na Argentina que quase arrancou o direito ao aborto neste mês de agosto , mostram que os nossos direitos não nos são dados, mas sim arrancados pela luta.

Cadê as assembleias para os bancários organizarem sua luta contra os ataques da Fenaban?

Com toda essa ordem de ataques aos direitos e precarização da vida das mulheres, foi espantosa mas nada surpreendente a tentativa, na mesa de negociação de, por exemplo, reduzir a PLR das mulheres em licença maternidade no último dia 22. No entanto, hoje a Fenaban recuou deste “requinte” no ataque aos direitos das mulheres, infelizmente, muito mais pelos abalos que renderia em suas campanhas publicitárias do que na organização da categoria, que tem um potencial de mobilização que a CUT, direção dos principais sindicatos do país, insiste em manter abafado e passivo.

É sobre essa espoliação das condições de vida que atravessa milhões de trabalhadores direta ou indiretamente, que a Fenaban busca impor à categoria bancária uma espécie de disciplina que busca ser um novo parâmetro de rebaixamento dos salários e das condições de vida de outras categorias em todo o país.

Ao longo de julho e agosto, tem se sucedido as negociações sem que as direções sindicais tenham sequer proposto armar a categoria para os ataques que se colocam na mesa de negociação. Na principal concentração bancária do país, o sindicato dirigido pela Articulação CUT, depois do dia 08 deste mês, não chamou uma assembleia sequer para os bancários organizarem e decidirem os rumos de sua luta.

Num setor que é estratégico para a economia e para a correlação de forças políticas no país, cada bancária e bancário que mostrar sua disposição de luta pode fazer avançar as trincheiras que de fato querem combater o golpismo que quer escolher a dedo o próximo presidente para atacar ainda mais os direitos dos trabalhadores. Aí sim, no terreno da organização dos trabalhadores, podemos dizer que o avanço de cada mulher é uma conquista de todos. E está claro, mais uma vez, que esse avanço só poderá se dar enfrentando a burocracia sindical. Mas por isso mesmo podemos apostar na organização das mulheres trabalhadoras como uma enorme fonte de força da classe para retomar os sindicatos em nossas mãos.

Veja também: Uma resposta anticapitalista às eleições manipuladas pelo judiciário e a crise

 
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