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ARGENTINA | EDUCAÇÃO
Movimento estudantil argentino se levanta em defesa da educação pública
Marie Castañeda
Estudante de Ciências Sociais na UFRN

O governo Macri quer avançar com seus ataques em conjunto ao FMI, após a Maré Verde que inundou o país em defesa do direito ao aborto legal, seguro e gratuito. Agora os estudantes se somam aos professores universitários na construção de uma enorme mobilização em defesa da educação pública.

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O ataque se dá em quatro níveis. O primeiro dele é o não cumprimento do orçamento previsto para a educação, sem ao menos explicar o porquê. O segundo é o corte de ao redor de um bilhão de pesos somados a um outro corte anunciado no começo do ano pelo CIN (Conselho Intrauniversitário Nacional), de 3 bilhões. A isso se soma o ajuste dos salários dos professores que pretendem colocar na metade da inflação, um verdadeiro arrocho, em um momento em que a inflação já está com uma projeção acima de 30%. O quarto nível é o orçamento que já é escasso, afetado pela inflação e pela desvalorização do dólar. O não cumprimento do orçamento previsto não é uma novidade e afeta ano após ano cada vez mais a situação das universidades públicas no país vizinhos, existem registros de cortes de 700 milhões de pesos todos os anos.

Os impactos destes cortes são evidentes, não existe dinheiro para pesquisa, permanência e para garantir um salário digno e ajustado de acordo com a inflação para os professores, logo, muitíssimos jovens afetados pela crise são obrigados a deixar de estudar para trabalhar, pelo preço das passagens, das cópias e até mesmo para arcar com as contas de suas casas, que também vêm sofrendo aumentos absurdos pelos “Tarifazos”.

Veja abaixo o vídeo:

O Conselho Intrauniversitario Nacional é formado por 65 REItores que decidem por toda a comunidade acadêmica do país: 800 mil estudantes, 130 mil professores e mais de 50 mil trabalhadores. A indignação causada por este ataque relembra a indignação do último dia 8 de Agosto, quando 38 Senadores decidiram que as mulheres seguirão morrendo pelo aborto clandestino e assim também colocou para os estudantes quão necessário é se mobilizar para barrar este ataque.

As aulas do segundo semestre ainda não começaram por deliberação dos professores, que fazem greve em defesa da educação pública e que chegam em algumas universidades já na terceira semana. Esta luta se insere na crise política que enfrenta Macri, aprofundada pela Maré Verde e o reacionarismo do Senado e da Igreja Católica.

Esta semana começou trágica com a morte de Chicha Mariani, das avós de maio, que faleceu sem encontrar sua neta. Ao mesmo tempo, Macri declarou há algumas semanas que queria dinamitar o Estaleiro Rio Santiago, onde trabalham mais de 3.000 operários e que realizaram uma manifestação nesta terça-feira, que foi reprimida duramente pela polícia de Buenos Aires, ao mesmo tempo que centenas de ativistas queriam se despedir de Chicha, fortes imagens da polícia atropelando operários geraram solidariedade e unidade entre os trabalhadores e estudantes, jurando seguir na luta contra a repressão que travou Chicha durante toda a sua vida. Ontem, há 100 anos da Reforma Universitária de Córdoba, esta cidade se viu tomada pela unidade entre professores, trabalhadores e estudantes que após assembleias de base decidiram construir uma mobilização massiva nas suas ruas.

Um dos principais motes da mobilização, além da exigência do reajuste imediato do salário dos professores, é o não pagamento da dívida pública, cuja entrega foi firmada a ferro e fogo por Macri com o FMI. Este mecanismo que suga 1 trilhão de reais dos cofres públicos brasileiros existe também no país hermano e apenas no primeiro semestre deste ano arrancou mais de 16 bilhões de dólares, o que equivale a quase cinco vezes o orçamento das 57 universidades públicas de toda a Argentina, que hoje está ao redor de 3,4 bilhões. É completamente inadmissível que dinheiro pago pela população através dos impostos seja revertido para o bolso dos banqueiros enquanto as universidades não tem condições de funcionar.

O “Sempre com as garotas, nunca com a Igreja” segue mais atual que nunca, afinal, como é possível que o governo pague as luzes das catedrais e os salários dos padres que não trabalham, mas não garante o mínimo orçamento previsto para a educação?

Assim, a maré verde das ‘pibas’ toma a linha de frente da reorganização do movimento estudantil argentino, colocando a necessidade de que os próprios estudantes e trabalhadores decidam o rumo da educação. A necessidade de um plano de luta bem desenhado e de espaços de autoorganização prima e por isso a Juventude do PTS, organização irmã do MRT, organiza assembleias de base nos locais que é parte da gestão das entidades estudantis e batalha com as direções kirchneristas para que estes espaços existam.

Guada Oliverio, militante do PTS e da gestão do CEFYL (Centro Acadêmico de Filosofia e Letras) da UBA, falou ao Esquerda Diário: “Convocamos assembleias porque nos parece que são as instâncias onde os estudantes junto aos professores e trabalhadores temos que decidir. Hoje na Argentina um punhado de REItores quer decidir por cima de 1 milhão de estudantes sobre o orçamento para a educação que é cortado pelo FMI. Por isso, as assembleias são nossos espaços de luta, organização e decisão coletiva.”

Veja o video: "Brenda, presidenta do CEFYL da UBA, na assembleia do dia 22/08"

Na noite de ontem (23), a Universidade de Direito de Córdoba sofreu um ataque da polícia a mando de seu decano, que reprimiu os estudantes que estavam em aula e também fora, com o objetivo de esvaziar a universidade. Graças à resistência dos estudantes a assembleia se manteve e abriram a universidade, votando pela renúncia do decano e pela continuidade da construção da mobilização, impulsionando as assembléias entre cursos, na mesma cidade que ontem mais de 20 mil pessoas nas ruas em defesa da educação pública.

A juventude do PTS e o Pão e Rosas dá muita ênfase na necessidade de tomar a história nas próprias mãos. O ajuste de Macri e do FMI quer destruir a educação pública e frente a este ataque, é necessário unir forças como aliados estratégicos dos trabalhadores. Myriam Bregman, deputada pelo PTS na Frente de Esquerda, disse durante a construção da mobilização para o 8A que a história nos coloca em uma encruzilhada para tomar lado e defender os nossos direitos e da classe trabalhadora, é essa tarefa que se dá a juventude na Argentina hoje e que pode nos inspirar para defender a educação no nosso país, em meio às eleições manipuladas pelo judiciário e a educação em frangalhos pelos ataques golpistas. Não bastam declarações e notas públicas, é necessário organizar a luta.

 
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