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PÃO E ROSAS
Nosso feminismo é socialista
Isabel Inês
São Paulo

Nosso feminismo é socialista: não existe emancipação integral das mulheres enquanto a maioria da população for explorada pelo capitalismo mundial.

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O movimento de mulheres está na vanguarda do combate ao neoliberalismo, sendo hoje o movimento pela legalização do aborto na Argentina a expressão mais potencialmente explosiva e avançada, chamado de “maré verde”, que pode se transformar num tsunami regional. O Pão e Rosas, é um grupo de mulheres internacional que em cada país batalha por colocar essa força no sentido de lutar por cada direito parcial que conseguirmos arrancar deste Estado e combater o capitalismo, pois sabemos que não podemos ver em separado a opressão patriarcal de um sistema baseado na exploração de classes. Por isso nosso feminismo é socialista: não existe emancipação integral das mulheres enquanto a maioria da população for explorada pela burguesia.

O capitalismo não é capaz de dar igualdade para as mulheres nem perante a lei nem perante a vida. O Estado burguês pode se ver obrigado a ampliar alguns direitos democráticos em resposta a processos de luta ou pela tentativa de cooptação de alguns setores, mas apenas na medida em que não ameacem a exploração do trabalho e a propriedade privada, que são as bases da dominação burguesa.

A conquista de direitos parciais é parte de nossa luta dia a dia, mas o capitalismo hoje não pode nos dar as condições para que as mulheres tenham igualdade perante a vida. As mulheres ganham menos que os homens mesmo quando a lei diz o contrário, e além disso o trabalho doméstico não remunerado tira horas e mais horas do dia de bilhões de mulheres em todo o mundo e é condição para os capitalistas conseguirem que a classe trabalhadora esteja pronta a trabalhar no próximo dia, e por um valor inferior, já que este trabalho necessário não é remunerado.

O problema é que mesmo o limite de concessão de direitos democráticos está cada vez mais restrito devido ao avanço da crise mundial, fazendo se chocar de forma mais aguda as aspirações de igualdade com as condições objetivamente cada vez mais desiguais. Que se tornam ainda mais latentes devido ao próprio discurso imperialista de “empoderamento feminino”, que foi uma manobra política ideológica para tentar cooptar o estouro de uma série de movimentos por direitos das mulheres. Esse “empoderamento” de um feminismo liberal, vendido pela Avon, Itaú, por governantes como Hillary Clinton e mesmo o que foi Dilma Rousseff não é alcançável nem possível à maioria das mulheres, mas por outro lado gestou nas amplas massas uma subjetividade mais subversiva e “empoderada para a luta” contra a desigualdade. O “tiro” imperialista, pode ter saído pela culatra.

PARA VER MAIS:[VÍDEO] Andrea D’Atri: "O patriarcado não vai cair sozinho, tem que ser derrubado"

A somatória dessa nova subjetividade insurreta das mulheres com uma nova localização objetiva na produção capitalista, com a feminização do trabalho e o papel de reprodução do trabalho que as mulheres ainda são obrigadas a cumprir, é uma matéria potencialmente revolucionária para recompor a subjetividade da classe trabalhadora. Nós, feministas socialistas e revolucionárias, apostamos nessa hipótese, o Pão e Rosas junto ao PTS (Partido dos Trabalhadores Socialista), organização irmã do MRT na Argentina, vem colocando como a potência do movimento de milhares de mulheres pode fazer a terra tremer e garantir o direito ao aborto, legal, seguro e gratuito, assim como ser linha de frente contra os ajustes do FMI e do imperialismo e das contra-reformas da burguesia e do presidente Mauricio Macri.

Nesse sentido que o Pão e Rosas e o PTS organizaram um encontro que contou com mais de 800 pessoas na MadyGraf, uma fábrica gráfica sob controle operário na Zona Norte de Buenos Aires: porque queremos acabar com o patriarcado, mas sabemos que ele não cairá sozinho, é preciso derrotar o sistema que o sustenta, que é o capitalismo. Qualquer ideia de emancipação e empoderamento individual, desligada das bases econômicas e sociais de um sistema que se baseia na desigualdade, significa alimentar uma ideia irrealizável e que por fim acaba cooptada ou assimilada pelo próprio Estado. As mulheres trabalhadoras e jovens, impulsionando a luta pelo direito ao aborto com uma concepção de choque com o Estado capitalista e completa independência de classe, podem ser uma alavanca para a luta do conjunto da classe operária contra os ataques dos capitalistas.

Nosso feminismo é socialista, pois é fundamental saber quem são nossos aliados e quem são nossos inimigos, não compactuamos com a ideia de “sororidade feminina” que leva o movimento a ver inimigas de classe, como deputadas de partidos do regime, empresárias e governantes, como “aliadas de gênero”. Não! Como disse Myriam Bregman, legisladora de Buenos Aires no ato do 1º de maio, “não temos nada a ver com Hilary ou Ângela Merkel. Tampouco com as empresárias, como as de Kraft [multinacional do ramo alimentício], que tivemos que enfrentar junto com nossos companheiros. Nós queremos ser mulheres empoderadas que lutem contra toda forma de opressão e exploração”.

Por isso construímos um partido dos trabalhadores, comunista e internacionalista, para construir uma força material que possa se preparar para tomar o poder da burguesia, que hoje condena a humanidade à miséria. Uma força que luta pela emancipação de toda a humanidade, das mulheres, dos negros e de todos os trabalhadores. Uma sociedade onde o conceito de igualdade não seja formal como o que o capitalismo propagandeia, onde nem essa “igualdade para ser explorado” é garantida, condenando milhões de pessoas ao desemprego e à miséria.

Lutamos por uma sociedade em que o desenvolvimento da técnica, da arte, da medicina, de todas as capacidades humanas seja ilimitado, socializando as tarefas domésticas, acabando com a divisão entre vida doméstica e a vida social. Dando condições materiais iguais a todos, para que possam desenvolver suas características diversas. Onde o gênero, a raça e a origem nacional não sejam um fator de desigualdade e opressão.

Como dizia Lênin, dirigente da Revolução Russa, “A democracia burguesa promete de palavra a liberdade e a igualdade. Mas na prática nenhuma república burguesa, nem a mais avançada, concedeu à mulher (metade do gênero humano) plena igualdade de direitos com os homens, nem diante da lei, nem libertou a mulher da dependência e opressão dos homens (...). A democracia burguesa é a democracia das frases pomposas, das palavras solenes, das promessas liberais, das consignas grandiloquentes sobre a liberdade e a igualdade, mas que na prática, tudo isto oculta a falta de liberdade e a desigualdade da mulher, a falta da liberdade e a desigualdade dos trabalhadores e explorados” (O poder soviético e a posição da mulher).

Foi contra essa falsa democracia capitalista, que a Revolução Russa, em seus primeiros anos, antes de sua degeneração burocrática stalinista, conquistou às mulheres a legislação mais avançada da história, legalizando o aborto, socializando o trabalho doméstico e assim libertando as mulheres desse fardo embrutecedor, garantindo o direito ao divórcio e outras medidas que visavam libertar a mulher e a tirar do âmbito doméstico a colocando na vida pública e política. Para os revolucionários russos libertar a mulher era uma tarefa de primeira ordem; diziam que para ver o grau de desenvolvimento de uma sociedade, bastava olhar como as mulheres viviam. No caso do capitalismo vemos os números escandalosos de mortes por abortos clandestinos, de feminicídios, de dupla e tripla jornada de trabalho e de mulheres grávidas obrigadas a trabalhar em locais insalubres, de acordo com a nova reforma trabalhista. Esses dados objetivos mostram a falácia do desenvolvimento capitalista e a necessidade de destruí-lo pela raiz.

Há quem diga que isso é impossível, que é preciso, de “movimento em movimento”, ir conquistando gradativamente maior igualdade. O problema dessa concepção reformista que muitos setores da esquerda adotam – no Brasil o PSOL, mas também diversas correntes feministas, como a do “99% contra os 1%” – é que o Estado é visto no fim como um regulador supostamente imparcial da sociedade, e não um instrumento de opressão e de dominação da burguesia; assim a chave não é derrubá-lo, mas sim buscar que ele “seja mais justo”.

VEJA AQUI: Chamado às mulheres brasileiras: venha marchar dia 8 de agosto pela legalização do aborto

Nesse sentido acabam justamente se subordinando à política que o capitalismo criou para manter certo consenso; para enfrentar a nova politização e anseios sociais de integração o capitalismo dividiu em “caixinhas” cada demanda, dos negros, das mulheres, dos LGBT, mantendo-as afastadas de uma estratégia operária. Por outro lado, o Estado entra nesses movimentos com novas burocracias identitárias e com políticas de institucionalização para buscar retirar qualquer caráter radical das lutas e dividir mais a classe operária, em negros e brancos, mulheres e homens, para enfraquecer a força que os trabalhadores têm de parar a produção, e assim os subordinar a direções pequeno-burguesas e a estratégias de integração e cooptação.

Assim, essa ideologia identitária, bem como as novas direções que surgiram desses movimentos, auxiliam a divisão da classe operária e a própria burocracia sindical, que hoje cumpre o papel de manter a divisão objetiva dos trabalhadores entre precários, efetivos e terceirizados. Nesse ponto o movimento de mulheres também pode ser o elemento para criar uma nova força anti-burocrática, isso porque a unidade das trabalhadoras pode romper a divisão entre efetivas e terceirizadas, mas também porque a velha estrutura sindical burocrática e masculinizada tem menos poder de contenção frente a trabalhadoras “empoderadas”.

A ideia neoliberal de empoderamento individual pautada no sucesso financeiro (ou seja, se tornar chefe) se choca com a maioria das mulheres que trabalham em funções precárias, terceirizadas e/ou com salários inferiores. Fator fundamental da exploração capitalista que usa da opressão para rebaixar o valor do trabalho feminino e lucrar mais. Esse empoderamento do “corpo padrão”, do “consumo e das roupas” que passa todos dias na TV, se choca com a dupla jornada de trabalho, com as doenças psicológicas e físicas fruto da eterna busca pelo padrão inalcançável. Padrão constantemente reafirmado para manter a mulher como objeto onde seu valor varia de acordo com a idade e os quilos.

No neoliberalismo se reatualizou de forma mais aprofundada a frase de Leon Trotsky, dirigente da Revolução Russa: “a profundidade do problema da mulher está dado pelo fato de que ela é, em essência, o elemento vivente no qual se entrecruzam todos os fios decisivos do trabalho econômico e cultural” pois ao incorporar a mulher no mundo do trabalho produtivo, o capitalismo manteve a reprodução não remunerada da força de trabalho no âmbito doméstico, cumprido ainda pelas mulheres nas duplas ou triplas jornadas de trabalho, mas também na reprodução do trabalho social, como na educação e saúde, que não só são categorias femininas, como são das principais áreas atacadas pelo capitalismo.

Esse choque entre o espírito do empoderamento com as condições concretas da vida das mulheres coloca que é preciso lutar, e o empoderamento para as mulheres trabalhadoras não pode se desligar da sua condição de existência, ou seja, o trabalho. O espírito não vive sem a carne. Por isso dizemos que nosso feminismo é socialista.

Isso ajuda a explicar também por que o movimento de mulheres internacionalmente vem expressando o descontentamento social. Nos EUA, as mulheres se organizam contra as políticas xenófobas de Trump; no Estado Espanhol, pós crise da Catalunha, as mulheres vão às ruas contra a violência machista favorecida pelo Estado, e na Argentina lutando pela legalização do aborto. Isso mostra as mulheres na vanguarda da luta por arrancar seus direitos contra o neoliberalismo.

Como Andreia D’Atri e Celeste Murillo sintetizam neste artigo “Nesta complexa e inovadora realidade não há lugar para o reducionismo de um corporativismo sindical economicista que só integra, em sua perspectiva, uma classe operária masculina (e, por que não também branca, nativa e heterossexual). Mas tampouco podemos limitar a luta das mulheres por sua emancipação a um sujeito também estereotipado — a dona da casa —, cuja existência tem mudado substancialmente nas últimas décadas, prescindindo da perspectiva do capitalismo em sua totalidade orgânica, que inclui esse novo rosto feminizado da força de trabalho. Qual será o impacto que as lutas das mulheres nos espaços da reprodução terão sobre as lutas de uma classe trabalhadora cada vez mais feminizada? De que maneira o empoderamento das mulheres, através desse ressurgimento do feminismo a nível mundial, impactará sobre as mulheres exploradas e quais serão as consequências para um sindicalismo masculino, incapaz de incorporar os setores mais oprimidos da classe?”.

O Pão e Rosas, que atua junto aos grupos da Fração Trotskista no Chile, Brasil, Argentina, Mexico, EUA, França, Espanha, Uruguai, Peru, Itália, como parte do movimento de mulheres para que avance em sentido revolucionário. Cada passo que conquistamos se eleva a moral de luta das mulheres e pode ser a o motor da emergência da classe trabalhadora contra o Capitalismo. Nós não nos confundimos, sabemos que setores do imperialismo e da classe dominante fazem demagogia com nossos direitos. Porque querem evitar que identifiquemos inimigos e aliados. Não querem que nos unamos com os explorados, pois se unimos nossas demandas com o conjunto dos trabalhadores, nossa força será impagável contra o capitalismo imperialista que reproduz e mantém o patriarcado.

Assim como dizia Trotsky, as mulheres podem ser a força moral que arrasará com todo o conservadorismo, toda opressão e miséria. Essa é a força que pode acabar com o velho mundo e abrir caminho para o estágio superior da humanidade, uma sociedade comunista, livre e ilimitada. ISSO É PÃO E ROSAS, COMPANHEIRAS!

 
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