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ABORTO
O obscurantismo medieval foi a campo contra nosso direito ao aborto
Andrea D’Atri
@andreadatri

O papa ensaiou distintas táticas desde que se iniciou o debate sobre o aborto legal no Congresso. Agora, vem com um jogo mais ofensivo. Os que acreditavam que Bergoglio era Francisco não deveriam se surpreender por ele ser o próprio Jorge.

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Durante a primeira etapa, foi surpreendente que a Igreja tivesse mantido um discurso moderado e que não obrigara estudantes das escolas confessionais a se mobilizar contra o direito ao aborto, junto dos “carros-alegóricos” que carregavam bizarros e gigantescos adereços de fetos, com o apoio crucial de fanáticos coloridos e fundamentalistas evangélicos.

Mas o civilizado diálogo entre o Vaticano e o Episcopado argentino com as milhões de mulheres a quem eles concediam o “jubileo de perdão” por ter abortado, durou pouco

Se eles trocaram de tática e se preparam para nos detonar, temos que redobrar nossos esforços para vencê-los

É provável que o Papa, assim como Macri, e um setor do Cambiemos (e também do PJ), esperassem que o projeto não passaria pelos Deputados. Sua esperança era de que a manobra pró-governo rendesse seus almejados benefícios para a sombria imagem presidencial, e deixasse em mals lençóis a ex-presidente, que não soube ter a mesma “ousadia democrática” de maneira oportuna, dividiu a oposição e, finalmente, não virou nada. Mas acontece que enquanto isso, a maré verde deslanchou, propondo conseguir a meia sanção à pura prepotência de mobilização, obrigando o Congresso a votar a favor de seu direito.

O governo, o PJ e a própria Igreja ficaram dando socos no ar. Mas reconheceram o duro golpe e se preparam melhor para a próxima batalha no Senado. Se com os deputados tivemos que esperar do lado de fora por um resultado incerto, o próximo dia 8 de agosto será uma noite agônica. Se eles mudaram de tática e se preparam para nos derrotar, temos que redobrar nossas forças para vencê-los.

Vindo com tudo

Bergoglio adverteu o perigo rapidamente. Por isso, saiu apenas a meia sanção, o Papa “bonzinho” declarou que quem defende a legalização do aborto são como os nazistas. Raríssima metáfora a que utilizou o chefe da instituição milenar que acompanhou de perto o genocídio dos povos originários da América, que benzeu as armas do nazismo na II Guerra Mundial, que administrou a ditadura genocida na Argentina e que foi cúmplice dos roubos de bebês.

Logo, a vice-presidente Gabriela Michetti proporcionou uma reunião no Episcopado, para articular as táticas de atraso que a fracassaram no Senado. Incomodada com o primeiro revés, andou recorrendo aos jornais dizendo que as mulheres que foram estupradas deveriam assumir sua gravidez forçada. Algo que até a escritora Margareth Atwood repudiou por considerar isso mais brutal do que o que sua própria imaginação seria capaz de transformar em uma obscura ficção.

Mais recentemente, o arcebispo Carlos Sánchez foi determinado durante ahomilia do Tedeum no dia 9 de julho. O dia anterior, como em uma série distópica produzida pelo Netflix, meia centena de bispos se reuniram na renovada Basílica de Luján – a que Cristina Kirchner doou importantes recursos para sua restauração – para celebrar uma “Missa pela Vida”. Para abri-la, um discurso do Papa denunciou as verdadeiras intenções eclesiásticas: o arcebispo de La Plata disse que Mauricio Macri deveria vetar a lei se é verdade que tem uma profunda convicção contraria ao direito ao aborto. Mauricio Macri ficou atado as suas próprias palavras.

Médicos católicos impulsionam a campanha #NãoContemComigo, advertindo com total impunidade que não acataram a lei caso ela seja promulgada. Estudantes são punidas por usarem os panos verdes pelo aborto legal. Videos de danças anti-direitos viralizaram nas redes sociais, mas também outros simulando execuções sumarias a adolescentes que usam os panos verdes.Pinturas intimidadoras, ameaças a figuras conhecidas que se pronunciaram a favor da legalização. E como no filme The Wall, meninas e meninos de um colégio católico em Santiago del Estero,foram obrigados a desfilar a passos militares, com panos azuis em seus colos. Tudo muito pró-vida.

Na seleção do Vaticano, todos eles jogam

Mas enquanto Michetti e Pinedo nos entretem com seus monstruosos projetos de “Um mundo feliz”, o Vaticano contabiliza seus aliados na oposição. Ali, os caudilhos peronistas que pretendem votar a favor da sanção para que a maré verde não termine os afogando, sabem que dormem com o inimigo. Por que, ainda que Pichetto diga que votará a favor, ainda que a Frente para a Vitória agora (recentemente) diga que seu bloco de senadores fará o mesmo, sabem que são muitos os governadores e legisladores peronistas que correm para pedir ajuda ao Vaticano quando veem entrar em perigo a sua governabilidade em suas províncias.

Pelas dúvidas, o arcebispo platense os lembrou, recentemente, cuanto devem para a pacificadora Igreja quando se trata de apagar incêndios. Ele mencionou como os representantes do "interior profundo". Se referia a aqueles senadores que vão à missa todos os domingos, que impuseram a religião nas escolas públicas, que tem fotos com o Papa em seus escritórios, que fazem grandes doações e negócios com o Opus Dei e que vão "chorar para a Igreja" quando o povo trabalhador de suas províncias reclama por seus salários não pagos.

A Igreja não tem amigos somente no "lado dos maus". Sim se da o luxo de se colocar beligerante ainda quando não consegue mobilizar seus fiéis, é por que todo o peronismo, incluindo Cristina, fortaleceu sua envergadura e reclamam sua intervenção na política nacional. Até distintos setores da centro-esquerda e de movimentos sociais se gabam da sua relação com Bergoglio e parecem ter se convertido em intérpretes, tanto do sentir das mulheres nos bairros populares, como do verdadeiro sentido do que o Papa quis expressar quando nos chamou de "nazi". Mais que orgulho, nos dá vergonha alheia, reconhecer que somente a Frente de Esquerda (FIT, na sigla em espanhol) mantém independência absoluta do Vaticano e de sua política de contenção social e contra os direitos das mulheres, a diversidade sexual e outros coletivos.

No 8 de agosto, nós jogamos a final

Nos querem escravas, como disse a escritora Margareth Atwood. Nos querem submissas, controladas por seus dogmas, sem direitos nem autonomia. Necessitam nos proporcionar uma derrota, que sirva para que aprendamos a não nos rebelarmos contra os mandatos, contra a autoridade. Uma derrota que nos faça perder a esperança de que podemos enfrentar os assédios, humilhações e ataques que impõe aos trabalhadores.

Nós mulheres do Pão e Rosas na Frente de Esquerda dizemos que as massas femininas que hoje se levantam pelo direito ao aborto também são chamadas para cumprir um papel crucial na luta por impedir um novo roubos dos capitalistas: somos a metade da classe trabalhadora assalariada, somos a maioria entre os mais explorados, somos a maioria entre os mais prejudicados, empobrecidos e oprimidos. Se queremos transformar a vida miserável que o capitalismo patricarcal nos condena, temos então que aprender a vê-la atravez dos nossos olhos.

Por tudo isso, o próximo dia 8 de agosto não podemos permitir que nos dobrem. A derrota do obscurantismo medieval da Igreja e todos seus representantes políticos será o fortalecimento da nossa luta. Temos que nos preparar para vencer.

O Pão e Rosas propõe que nos organizemos, desde agora mesmo, em cada lugar de trabalho, em cada escola, em cada universidade, para dar as batalhas concretas contra os ataques dos governos e dos capitalistas, contra a burocracia sindical que pretende aprisionar nossas forças, contra as corrente políticas que dizem que nossa força tem de ser entregue a algum candidato ou candidata que saberá conduzir nossos destinos nas próximas eleições, contra os que seguirão tentando nos convencer de que não temos esse poder nas nossas mãos, e que somos somente vítimas impotentes. Temos que chegar ao 8 de agosto como uma força invencível.

Nossos direitos não caem do céu. Os conquistaremos com nossa vontade e nossa disposição de dar esse combate. O céu pode esperar.

Tradução: Rafael Barros

 
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