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MULHERES E EDUCAÇÃO
Em visita ao Brasil e de mãos dadas com o imperialismo, Malala fala da educação das mulheres
Cássia Silva

Malala Yousafzai, baleada pelo Talibã no Paquistão por exigir que mulheres tivessem acesso à escola, visita o Brasil financiada pelo Itaú, fala do descaso com a educação que recebem as mulheres mas fala em nome da ONU e do imperialismo, responsável pela enorme sangria da dívida pública que retira recursos da saúde, da educação e ameaça ajustes como a reforma trabalhista e da previdência.

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Em evento no Ibirapuera, na cidade de São Paulo, Malala Yousafzai disse que veio ao Brasil para “achar meios para que as 1,5 milhão de meninas tenham acesso à educação”. Essas 1,5 milhão de meninas se encontram hoje fora da escola. Malala também afirmou que quer discutir o papel da educação na formação feminina com as populações mais pobres, em especial as afro-brasileiras.

Malala acha que “trabalhando junto com os defensores da educação e podendo dar a todas as pessoas, que vêm das camadas menos privilegiadas” a educação de alta qualidade é possível para as mulheres. O que Malala não conta e que poucos se atentam, é o fato de que a organização que ela representa, a ONU, tem por trás de si grandes potências imperialistas como os EUA, que diretamente impõe situações de miséria a dezenas de países, para que seja possível aumentar seus lucros.

Malala fala em nome da ONU educação desde 2013, quando se recuperou de um tiro na cabeça que levou ao ir pra escola, no Paquistão, país onde as mulheres eram até pouco tempo, proibidas de frequentar as escolas. A promoção da figura de Malala foi estimulada por países como Inglaterra, França e Estados Unidos, ao mesmo tempo em que estes países bombardeavam o Oriente Médio para conter os ânimos da Primavera Árabe.

Sobre a relação entre a liberdade das mulheres e o investimento em educação, é fundamental saber que está acompanhada por uma situação da mulher num país recordista em violência contra a mulher e de mulheres mortas por abortos clandestinos. O Brasil é um país em que os índices de feminicídio são amplamente conhecidos. 12 mulheres são assassinadas todos os dias, numa brutal cadeia de violência a que são submetidas. E não é como se os governos que gerem o Estado brasileiro se sentissem responsáveis por isso.

Para uma melhor percepção das prioridades do governo golpista, Temer retirou R$208 milhões de programas que incluíam uma suposta proteção às mulheres, em abril de 2018, para reservar R$1 trilhão anual para o pagamento da dívida pública.

Assim, numa situação em que a cada 7,2 segundos uma mulher é vítima de violência doméstica e 97,5% das cidades brasileiras não possuem casas para abrigo para que ela possa recorrer, em que a cada 11 minutos ocorre um estupro e a assistência médica, clínica e psicológica basicamente não existe, em que a disparidade salarial entre mulheres negras e homens brancos é de 60%, a prioridade é a chamada “Responsabilidade Fiscal”. Na desculpa para manter a entrega das riquezas do país para empresas estrangeiras e garantir que nosso orçamento pague essa dívida interminável, em vez de destinar verbas para educação e saúde, a “Responsabilidade Fiscal” é um entrave para qualquer possibilidade de emancipação da mulher.

É importante levar em conta que essa ofensiva dos golpista em retirar por sangria os direitos das mulheres, em especial das mulheres trabalhadoras, também foi embasada por retóricas vazias dos anos de governo do PT, que dizia governar para as mulheres. Isso porque o Partido dos Trabalhadores pagou piamente a dívida com as empresas estrangeiras e fez alianças com os setores mais reacionários nos seus anos de governo, incluindo o próprio partido golpista que hoje está no Poder Executivo, o MDB. Só em 2012, os pagamentos de serviços da dívida pública foram de R$465 bilhões, mais de 2.300 vezes o orçamento do Programa de Prevenção e Enfrentamento da Violência contra as Mulheres nos oito anos anteriores.

E ainda que saibamos que a relação entre a liberdade das mulheres e o direito elementar à educação, lembramos que a mesma instituição que financiou a vinda de Malala ao Brasil, o Banco Itaú, é dos 12 negociadores diretos da dívida com o Estado brasileiro, e que é muito importante reconhecer a situação alarmante e emergencial que vivemos hoje no Brasil. A escola é o primeiro espaço de socialização de um indivíduo fora da família, é lá que a criança tem a possibilidade de estabelecer relações por fora do crivo de seus pais e constrói suas primeiras relações sociais.

Dessa forma, relembramos o Plano Nacional de Emergência contra a violência às mulheres, publicado em 2017 aqui no Esquerda Diário, para contrapor as demandas das mulheres à sangria imposta pelo Estado brasileiro, que insiste em atacar as mulheres e os trabalhadores para pagar a dívida pública.

O Plano Nacional de Emergência contra a violência às mulheres deveria ser responsabilidade do Estado e seus órgãos competentes. Ele leva em conta a necessidade de educação sexual nas escolas para que as meninas não sejam mais submetidas às normas morais religiosas, familiares, até porque a Igreja e a família continuam fortalecendo a ideia de que as mulheres devem ser submissas aos homens e maridos e devem naturalmente ser mães, em verdade, a identidade de gênero e a orientação sexual deve ser livremente construída. Além disso, o Plano pauta reivindicações imediatas como assistência econômica, física e psicológica e Casas Abrigo ou Lares transitórios para mulheres em situação de violência.

Consequentemente, a situação da mulher brasileira hoje passa por refletir a desigualdade salarial. Para sanar a disparidade dita acima, de 60% entre mulheres negras e homens brancos, é urgente a implementação de igualdade salarial, ou seja, igual trabalho, igual salário. Deve também considerar a necessidade do fim do trabalho terceirizado sem a necessidade de concurso público, para libertar um batalhão de, principalmente, mulheres negras do subemprego, que mantém milhões em condições semi-escravas em todo o Brasil sem nem o direito à sindicalização.

Também é importante ter em vista a pauta do aborto legal, seguro e gratuito, em tempos da maré verde de argentinas pela legalização desse direito elementar. O direito de decidir sobre o próprio corpo, sobre a maternidade e dar um basta nas estatísticas de mulheres mortas por abortos clandestinos, ele deveria ser garantido pelo SUS.

Nesse sentido, defendemos esse combate à violência do ponto de vista da luta pelos direitos a igual salário, moradia e educação da mulher estarem intrinsecamente ligados às demandas da classe trabalhadora. Cada ação machista reforçada pelo descaso e manutenção da opressão pelo Estado brasileiro e seus governo deve se dar em base à organização das mulheres a partir de cada sindicato e entidade estudantil, porque nossa luta é uma só, com homens e mulheres, negros e brancos, terceirizados e efetivos, unidos na construção da emancipação feminina e a libertação de toda a humanidade. Não pode ser possível que depositemos nossa confiança em centrais sindicais e estudantis dirigidas pelo PT e pelo PCdoB que traíram e continuam traindo os direitos das mulheres e dos trabalhadores, não dando luta contra as reformas golpistas e contra o Judiciário na retirada do direito do povo decidir em quem votar.

Por isso, as verbas para o Plano de Emergência devem também ser de enfrentamento com o sistema capitalista e prever a taxação progressiva das grandes fortunas e das imobiliárias, o confisco dos bens de todos os empresários e políticos privilegiados e o não pagamento da dívida pública brasileira. Não podemos confiar que será de mãos dadas com o imperialismo, como faz Malala, que vamos conquistar os direitos das mulheres. Apenas com as mulheres à frente na defesa dos direitos com independência de classe, e lado a lado com os trabalhadores, que vamos conquistar educação e saúde de acordo com nossas necessidades.

 
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