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De Barbosa a Rafaela, Fernandinho é mais um negro crucificado no Brasil
Yuri Capadócia
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“Quando as coisas vão bem, eles me chamam de atacante belga. Quando não correm bem, sou o atacante belga descendente de congoleses". A fala do atacante Romelu Lukaku, da seleção da Bélgica, é bastante simbólica da hipocrisia da xenofobia da seleções europeias, que quando se trata de vitórias "relevam" as origens de seus craques, enquanto em derrotas são impiedosas ao relembra-las com o objetivo de rebaixar os mesmo atletas.

Não muito diferente disso, se dá o tratamento aos atletas negros no Brasil. Quando se trata de reivindicar os louros da glória conquistada por tais atletas, releva-se o fato de se tratar de negros, enquanto que para crucifica-los aparece sempre em primeiro plano a cor de sua pele.

Barbosa faleceu em 2000, segundo sua família já havia conseguido exorcizar o fantasma de 50

Os exemplos ao longo da história são muitos. Em 1950 , ano em que a seleção brasileira sediou a Copa do Mundo pela primeira vez e época da primeira tragédia de nosso futebol, coube a Barbosa o fardo de carregar todo o peso do Maracanazo, apontado como o culpado no gol de virada do Uruguai. Barbosa até sua morte foi responsabilizado e hostilizado pela derrota, e da mesma forma como agora com Fernandinho e Gabriel Jesus, o teor racista das críticas sempre se utilizaram do fato de ser um negro para desqualifica-lo ainda mais.

“No Brasil, a pena máxima (de prisão) é de 30 anos, mas pago há 40 por um crime que não cometi”, Barbosa, goleiro culpado pelo Maracanazo

O jornalista Mario Filho em seu clássico O Negro no Futebol Brasileiro para falar da derrota de 1950 define a culpa que teriam imputado a Barbosa, Bigode e Juvenal como um “um recrudescimento do racismo”, que ressurgiu mais intenso e forte entre muitos brasileiros, que teriam ligado a perda na Copa à origem étnica e social dos jogadores.

Rafaela Silva sorridente com o ouro na Rio 2016

Quando Rafaela Silva perdeu nas Olimpíadas de 2012 os "críticos" também não deixaram passar batido o fato de se tratar de uma mulher negra, "macaca" e "fracassada" foram os insultos mais comuns. Anos depois, nem mesmo sua redenção nos jogos e a consagração com a medalha de ouro na Olimpíada do Rio, evitou que fosse mais uma vez vítima do racismo institucional de nossa sociedade durante uma parada policial quando chegava de uma viagem, "Achei que tinha pego na favela" disse o policial ao taxista.

Quando se diz que o racismo é velado no Brasil, mais correto seria dizer que é oportunista, pois quando é do interesse se pintar uma nação miscigenada receptiva a todas as raças, conforme o mito da democracia racial consagrado na cultura do país, isto é feito; mas quando surge a oportunidade da Casa Grande colocar a Senzala em seu lugar, isto é feito de forma explícita e implacável.

A burguesia sempre tenta cooptar os expoentes negros que se destacam nas mais diversas áreas, e isso passa pelo processo de embranquecimento deles. A representação de Machado de Assis, entre outros escritores, é um grande exemplo nesse sentido. Se Pelé, o maior jogador de futebol da história, não foi submetido ao mesmo processo de embranquecimento, talvez se deva a impossibilidade dada aos registros de hoje e pela tecnologia, mas também pela inofensividade do "Rei" nessa questão. Pelé sempre preferiu se calar diante do racismo, ou negá-lo, como declarou quando o goleiro Aranha se negou a dar continuidade em uma partida em que era ofendido como macaco: "se eu tivesse parado todo jogo em que algum torcedor me chamasse de ’macaco’ ou ’crioulo’, teriam que ser interrompido todos os jogos em que participei".

Todo negro sabe que para se destacar é necessário que seja duas vezes melhor que os seus concorrentes, mas o que o racismo de nossa sociedade impõe é que os negros sejam também infalíveis, pois a cada tropeço o racismo oportunista estará de prontidão para associar o erro, a inferioridade a sua cor da pele.

 
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