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RÚSSIA
De 2017 a 2018: do Centenário da Revolução à Copa do Mundo na Rússia
Yuri Capadócia

A percepção do tempo é bastante subjetiva. Há momentos em que para uns é demasiadamente rápida, já para outros, ainda vagarosa. Entretanto, a medida do tempo é sempre fixa, seja em dias, meses, anos, no todo do calendário enfim. Ainda assim, ironicamente, foi o calendário o responsável por aproximar o legado da Revolução Russa de 1917, cujo Centenário foi celebrado no final do ano passado, da realização da Copa do Mundo no país.

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Mas se em menos de seis meses se condensa na Rússia o amálgama simbólico entre as duas datas - os cem anos do processo que desencadeou toda a sucessão de fatos que dominou a história da Rússia no século XX, e a realização do evento máximo do futebol internacional, que está sendo usado por Putin para fazer a promoção de uma Rússia “positiva”, moderna e capitalista, capaz de sediar os jogos -, se faz necessária a pergunta como se desenvolveu esse processo de restauração capitalista no país, responsável pela queda do Estado proletário da URSS, e a emersão da Rússia capitalista?

Novamente aqui se dá o contraste entre o desenrolar dos fatos históricos e o peso de seus significados. Se pensarmos na cronologia dos eventos responsáveis por enterrar o regime da URSS, não é possível vislumbrar o tamanho da transformação no período. Não houve um momento de ponto de inflexão, em que de forma brusca a URSS converteu-se em Rússia. Pelo contrário, o processo se estende de forma esparsa pelo tempo, possuindo antecedentes mesmo antes de Gorbatchov assumir o cargo de secretário geral em 1985, e começar a implementar as medidas restauracionistas, conhecidas como Perestroika e Glasnot, e se arrastando para muito além do ano de 1991, quando simbolicamente a bandeira soviética é baixada pela última vez e o pavilhão tricolor da Rússia é hasteado em seu lugar.

Todos têm a mesma percepção do capitalismo que tinham recentemente do comunismo. São sonhos! Julgam Marx... culpam o ideal… Um ideal assassino! Já eu, culpo os que puseram em prática. O que nós tínhamos era stalinismo, não comunismo.

Antes de Gorbatchov implementar as reformas que demarcam o início formal da restauração capitalista, é importante resgatar os antecedentes que forneceram a legitimação para esse ímpeto restauracionista. Desde os levantes na Alemanha Oriental no ano de 1953, a Revolução Húngara de 1956, a revolução derrotada na Polônia também em 1956, a Primavera de Praga em 68, culminando com as ondas de greve novamente na Polônia nos anos 80, todos esses processos assinalam a contestação ao regime stalinista e a demanda da população por uma revolução política, com a reimplementação de mecanismos de democracia direta, como eram os soviets.O afogar em sangue dessas revoluções políticas e revoltas operárias acabou por deslocar os anseios democráticos das massas da defesa do Estado operário, permitindo que um setor da burocracia, capitaneado por Gorbatchov, desviasse o processo para implementação de uma democracia burguesa na Rússia.

“Agora estão transformando tudo em escuridão.. Tudo o que aconteceu no país depois da Revolução de Outubro é renegado… Sim, na época houve Stálin, houve o stalinismo. Sim, na época houve repressões, violência contra o povo, isso eu não nego. Tudo isso aconteceu. E, no entanto, é preciso pesquisar e avaliar essas coisas de maneira objetiva e justa.”

Como antecipava Trotsky, no livro Estado operário, termidor e bonapartismo, “O fim inevitável do bonapartismo stalinista coloca agora mesmo um ponto de interrogação na conservação do caráter de Estado operário da URSS. A economia socialista não pode se edificar sem poder socialista. A sorte da URSS, como Estado socialista, depende do regime político que venha a substituir o bonapartismo stalinista”.

A escritora Svetlana Aleksiévitch e seu livro "O fim do homem soviético"

Mais do que nos fatos históricos a transformação do período está expressa na vida, na integral transformação de um modo de vida que se produziu sob o cotidiano das pessoas. Por isso, neste especial em que resgataremos o processo de restauração burguesa, recorremos ao livro O fim do homem soviético, da ganhadora do Nobel Svetlana Aleksiévitch, em que a autora, caracterizada pelo uso literário de transcrições de depoimentos colhidos por ela, nos fornece um rico material para a visualização do modo como a alteração do modo de produção acarretou uma integral transformação no cotidiano das pessoas. Nos próximos textos trataremos do ímpeto reformador de Gorbatchov; do “Putsch”, a tentativa fracassada de golpe e reversão das reformas; a degradação das condições de vida nos anos 90 sob os governos Iéltsin; até a consolidação no poder de Pútin, o atual “tsar” da Rússia.

“Se é pra falar dos anos 1990...Eu não diria que foi uma época boa, foi detestável. As mentes deram uma guinada de cento e oitenta graus… Alguns não aguentaram e ficaram loucos, os hospitais psiquiátricos ficaram abarrotados.”

 
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