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Dossiê 49 anos de Stonewall
Stonewall: por trás do ascenso revolucionário e as épocas de reação
Matías Yer
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O movimento LGBT moderno teve seu ponto de partida na revolta de Stonewall. A reação após anos de submissão não apenas expulsou naquela noite a polícia homofóbica, também resultou que milhares de gays, lésbicas e travestis começassem a se organizar e lutar contra a opressão.

O questionamento radical ao capitalismo como garantidor da heternonormatividade e reprodutor da desigualdade não estava apoiado unicamente na terrível perseguição que sofriam as pessoas LGBT, mas sim na irmandade que achavam em outros setores que também se colocavam em luta. A Frente de Liberação Homossexual (GLF pela sua sigla em inglês) fundada logo após a revolta de Stonewall encontrou nos movimentos contra a segregação racial, o machismo, as intervenções militares do imperialismo seus principais aliados, coordenando ações com os Panteras Negras e conseguindo que seus dirigentes reivindicassem a militância pela libertação sexual como parte do movimento revolucionário.

No entanto, ainda em épocas onde a perspectiva da revolução social se fazia concreta pela radicalização das massas, estes movimentos careceram de uma estratégia consciente para vencer. Ainda que ligados aos setores mais oprimidos e marginalizados, não consideravam os trabalhadores como a única classe que, organizada, é capaz de destruir as bases da opressão burguesa, sua dominação economica. Este ceticismo se origina na política criminal do stalinismo que prendia as pés e mãos do movimento operário internacional enquanto preparava a restauração capitalista na União Soviética, e a burocracia sindical norteamericana que depositava todos os seus esforços em submeter o proletariado yankee ao Partido Democrata, utilizando os preconceitos anticomunistas, raciais, machistas e homofóbicos para evitar a radicalização dos trabalhadores.

Este vazio estratégico, substituído por uma concep-ção abstrata de poder popular e resistência armada, deixou expostas as organizações radicais frente aos ataques do aparato de inteligência estadounidense, com programas como o COINTELPRO do FBI. O programa de autodefesa dos Panteras Negras e sua organização autônoma de programas de assistencialismo despertaram a necessidade no Estados de persegui-los, assassiná-los, e criar causas judiciais contra estes para retirar-lhes o prestígio vindo do apoio popular que despertavam, mas estiveram longe de poder construir um poder real capaz de resistir a estes ataques, menos ainda derrotar a burguesia e construir uma nova sociedade livre da opressão.

O movimento em épocas de reação

A derrota e a desarticulação destes movimentos radicais nos Estados Unidos e a imposição (e preração) de novas ditaduras a nível mundial implicou um retrocesso na militância revolucionária. Os erros estratégicos da esquerda implicaram também que os anos de derrota não fossem utilizados para a preparação de futuros combates, mas sim que fossem anos de adaptação ao regime. A luta contra a legislação homofóbica continuou vigente principalmente nos canais intitucionais e advogados e políticos que eram então suas referências. Já sem o caráter subversivo dos primeiros anos, as mobilizações pelos direitos homossexuais e as manifestações do orgulho gay continuaram aumentando em convocação, transformando a comunidade homossexual em um ator político, e um eleitorado a ser levado em consideração.

Numerosos grupos de pressão ou lobbies surgiram ao longo dos anos 70, não mais fiocados em uma organização militantes, mas sim em conseguir leis ou decisões judiciais que reconheceriam os direitos das pessoas homossexuais. Isso implicou em que grupos como o Gay Activist Alliance abandonarssem durante anos a luta contra a criminalização de pessoas travestis e transexuais para apresentarem exigências mais “aceitáveis”. Esta organização surgiu como uma separação da Frente de Libertação Homossexual meses antes da sua fundação, denunciando a Frente como esquerdistas que buscavam canalizar a luta LGBT em uma luta revolucionária, deixando de lado questões que “realmente afetam” aos homossexuais.

Focados em um único tema, “a questão gay” seu caráter perdeu toda a radicalidade e também o diálogo com a situação de milhares de jovens homossexuais e travestis jogados na pobreza. Ao não questionar as diferentes formas nas quais se expressa a opressão dependendo de questões como gênero, cor e pele e classe social, o regime encontra neles um interlocutor razoável, com o qual pode negociar as migalhas.

Mas ainda em processo de assimilação e aceitando a integração ao sistema, o questionamento à heteronormatividade despertava uma e outra vez a reação. O escritório central do Gay Activist Alliance foi incendiado em 1974. Um dos primeiros representantes eleitos abertamente homossexual, Harvey Milk, foi assassinado em 1978 foi um policial, Dan White. Após receber apoio do Departamento de Polícia de São Francismo, que realizaram coletas para financiar sua defesa, sua pena foi a mais baixa possível de acordo com o crime ocorrido.

Este julgamento foi respondido com os “Distúrbios da Noite Branca” uma mobilização espontânea que se enfrentou fisicamente com a política chegando a incendiar várias cabines. A polícia, horas após de haver reprimido a revolta, realizou uma invasão política em um bairro homossexual, agredindo violentamente pessoas que não tinham nada a ver com a revolta. Com 100 pessoas e 61 policiais hospitalizados, a nova prefeita decidiu fomentar a incorporação de gays e lésbicos como oficiais da política. A mesma que após as invasões foi encontrada comemorando a repressão dizendo “Sorrimos na noite que morreu Milk, sorrimos também hoje”.

As organizações homossexuais de São Francisco, ligadas ao Partido Democrata, consideraram isso uma conquista no caminho da aceitação. O movimento contra a brutalidade policial que existe hoje em dia nos Estados Unidos indicaria que não.

Na hora de enfrentar os primeiros momentos da crise da AIDS, esta assimilação e progressiva pacificação do movimento foi o principal limite organizativo encontrado pelo comunidade homossexual para enfrentar um sistema que enquanto que milhares de jovens morriam, montou uma campanha de ódio e desinformação condenando seu estilo de vida. Tiveram que passar muitos anos para que a passividade dos lobbys políticos dessem espaço para mostras de ativismo e ação direta outra vez, ainda que já incorporados a estratégias reformistas.

 
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