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Dossiê 49 anos de Stonewall
Monique Wittig e uma crítica à heteronormatividade
Redação

Wittig é cosiderada uma precursora da teoria Queer, mas seus escritos começaram principalmente nas décadas de 60 e 70.

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Monique Wittig, foi uma escritora e poeta francesa, deu aulas de Estudos de Gênero na Universidade do Arizona, Estados Unidos. Wittig é considerada uma precursora da Teoria Queer, mas seus escritos começam principalmente nas décadas dos 60 e 70. O primeiro foi publicado no ano de 1969, chamava “As Guerrilheiras” e um dos seus mais conhecidos foi publicado em 1992, intitulado “O pensamento heterossexual e outros ensaios”.

A Revolta de Stonewall

No fim dos anos 60, não apenas os homens gays e pessoas travestis se identificavam com o feminismo, mas as próprias fileiras do feminismo começavam a se dividir entre mulheres heterossexuais e lésbicas. Neste contexto de segmentação dos movimentos (mulheres, lgbt, negros, anti-guerra, etc) escreve seu manifesto Monique Witting, que intitula “O pensamento Heterossexual”.

O ativismo que despertou com a Revolta de Stonewall identificava na sua aliança com o resto dos setores oprimidos e em seu combate ao capitalismo o único caminho possível para encontrar a liberdade sexual e o fim da opressão patriarcal.

Este movimento irmão de todos aqueles que lutavam contra a guerra no Vietnã, em defesa dos direitos da comunidade negra, e com o novo movimento de mulheres, conquistou visibilidade e avançou em seus direitos em uma época atravessada por uma geração que elegeu como horizonte a revolução socialista contra a miséria capitalista.

Assim, entre 1970 e 1985 conquistaram a descriminalização da homossexualidade e das relações lésbicas em 26 Estados dos EUA. Em outros países imperialistas se avançou no mesmo sentido, como na Alemanha Ocidental e Canadá em 1969, Austria, Finlância em 1071, Noruega em 1972, Espanha em 1979, Portugal em 1983, entre outros.

Witting torna pública uma das suas teorias mais influentes no fim de 1978 nos EUA. Naquele momento a crise mundial e as revolução em todos os lados do planeta, haviam feito cair por terra as grandes teorias sociológicas e antropológicas estruturalistas.

Nos anos 80, após a derrota sofrida pela classe trabalhadora e o começo do neoliberalismo, o indivíduo passa a ter um lugar mais significativo nas teorias sociais. Neste marco é que as feministas pós-estruturalistas como Monique Witting, desenvolvem suas teorias sobre o papel do indivíduo na mudança das estruturas. Este novo paradigma teve sua máxima expressão teórica no conceito de “desconstrução” de Jaques Derride.

O movimento feminista deixou para trás sua segunda onda e com ela a ambição de mudar o sistema desde a raiz. Desde então com o surgimento destas novas teorias impulsionaram a ideia de que a mudança se dará no plano individual. Uma vez que o sujeito, no caso de Witting las mulheres (especialmente as lésbicas), tomam consciência da sua situação de opressão, podem começar este processo de desconstrução através de mudanças na linguagem. ASsim a visibilidade da opressão e a transformação das categorias tradicionais da linguagem, abrem na estrutura uma fenda pela qual se pode mudar.

Os escritos de Witting contribuiram muito na visibilidade das lésbicas inclusive dentro de um feminismo que muitas vezes as rechaçava. “O pensamento heterossexual” foi um manifesto de ruptura que abriu a porta para pensar criticamente o componente heteronormativo que atravessa as sociedades no capitalismo.

Mas a teoria de Witting parte de uma definição errônea do patriarcado, ao reduzi-lo exclusivamente à heteronormatividade, concebendo a mulher como um dos dois polos opressivos desta heterossexualidade compulsória. Seguindo seu raciocínio o opressivo é inerente ao gênero masculino e a submissão da mulher inevitável enquanto exista o binômio homem-mulher.

O princípio fundamental na qual se baseia a teoria de Witting (e de muitas outras contemporâneas) é que traça uma evidente ruptura com o pensamento marxista, é que as ideias existem para além do material. O discurso é então a base da opressão e portanto é a linguagem e os significados os campos de batalha onde se deve dar a emancipação das mulheres e da comunidade LGBT.

Partindo desta suposição significa que os gêneros e a heterossexualidade são construções sociais que existem desligadas do sistema econômico que as produz e reproduz para sua sobrevivência. E as relações sociais ficam também desta forma desligadas das relações de produção que as contraem.
Monique Witting cita Marx em vários de seus textos mais famosos, mas resignifica conceitos esvaziando-os de todo o materialismo histórico. Ela sustenta por exemplo que, “dialeticamente a luta de classes entre homens e mulheres é a que abolirá os homens e as mulheres”.

A briga pelo discurso se dá entre homens e mulheres, sendo as lésbicas o sujeito emancipador, as que se encontram em um plano superior de consciência. A luta pelo discurso termina quando se desconstrua em cada pessoa a linguagem heteronormativa e falocêntrica. Alguns aspectos desta teoria são retomados hoje pelo feminismo radical.

O feminismo socialista por sua vez, divide com estas correntes a crítica à heteronormatividade, que é reproduzida pelo patriarcado e encontra formas específicas no capitalismo. No entanto, com o feminismo radical difere não apenas na estratégia, mas na concepção que tem da relação opressão-exploração.

Para as feministas socialistas é necessário atacar as bases materiais deste mundo de opressão e exploração. A opressão é vista pelas socialistas como algo que vai além do homem individual, se reproduz em uma sociedade baseada em uma desigualdade de origem: entre uma minoria que possui os meios de produção e explora o trabalho da maioria. Nesta sociedade capitalista a opressão de gênero (como aquelas divisões étnicas, religiosas, culturais, sexuais) é funcional para sustentá-la e reproduzi-la.

Por infâncias libres, diversas e respeitadas. Porque são as futuras gerações de um legado que segue em luta por uma vida que mereça ser vivida.

No entanto, enquanto as diferentes etnias, raças e gêneros podem coexistir, a relação antagônica entre explorados e exploradores é a que define a existência de uma pela outra. Nas palavras do marxista Terry Eagleton “enquanto ninguém tem uma determinada pigmentação de pele porque outros tem outro, enquanto ninguém tem um sexo porque existem outros que possuem um diferente, sim é verdade que milhões de pessoas se encontram na ‘posição’ de assalariados porque existem algumas poucas famílias no mundo que concentram em suas mãos os meios de produção”.

A “desconstrução” individual à que aspiram as seguidoras de Witting ao deixar em um segundo plano a questão de classe deixa também de lado a grande maioria das mulheres. As mulheres trabalhadores, as que carregam a dupla jornada, tem no caminho da sua emancipação a necessidade de se libertar da dependência econômica de seus companheiros e companheiras, romper as cadeias do trabalho doméstico não remunerado, conquistar uma maternidade não compulsória, com educação sexual e acesso ao aborto. As teorias que seguem o legado de Monique Witting separam a opressão da exploração constantemente, vêem a opressão como algo estático, e isolado da sociedade que reproduz constantemente as desigualdades.

A crítica à heteronormatividade não pode ser vista de forma isolada do sistema econômico no qual vivemos. Entender isso, é abrir espaço para uma verdadeira liberdade sexual que não pode ser pensada sem o objetivo de uma revolução social que mude a realidade mateiral das maiorias exploradas.

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