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MULHERES
Argentina: mulheres à frente
Cecilia Rodríguez

Crônicas das que colocaram o corpo na paralisação nacional argentina.

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São 8:19 de uma segunda-feira, 25 de junho. Patrícia Bullrich, ministra de Segurança da Nação, twitta: “Através da Ponte Pueyrredón é possível circular”. Estou na Ponte Pueyrredón: não é possível circular.

Aliás, não há tantas pessoas que querem circular. Caso não acreditem em mim, olhem as fotos que publicou a ministra agora a pouco em Avellaneda-Capital: nenhuma alma. O que há, é claro, são os prefeitos (e algumas prefeitas não muito sonoros). Dessas fileiras uniformizadas, esses tipos são os únicos que carregam armas longas e alguns as carregam incomodamente penduradas no centro do corpo: a metade da espingarda projeta-se para baixo, entre as pernas. Vamos falar sobre imagens primitivas ...

Logo ao lado da prefeitura, mal tocando os escudos, um amontoado grupo de lenços e chapéus levanta as mãos para acenar lenços verdes.

"As forças federais estão garantindo que aqueles que entram possam ir trabalhar", twitta a ministra, de sua casa ou de seu escritório.

"Somos mulheres trabalhadoras e viemos gritar: greve geral", cantam as outras, da rua, ao ritmo de A bella chao.

Elas estão à frente das colunas da esquerda e do sindicalismo combativo que, desafiando a ordem de greve geral rotineira da CGT, decidiram fechar os acessos à Capital Federal e realizar ações nas principais cidades do país.

“Com o último fio de voz”

"Com o último fio de voz, eu respondo", diz Paola, ferroviária demitida de Sarmiento. Ela tem sua garganta um pouco tomada desde dia frio do 13J, mas ela ainda a agita: "Ganhamos a aprovação preliminar da legalização do aborto porque nós mulheres tomamos as ruas e exigimos isso. Por isso agora estamos à frente contra o FMI, contra o pagamento da dívida e a crise que eles querem nos fazer pagar a todas e a todos os trabalhadores”.

Coragem de mulheres incansáveis, que vêm de um primeiro triunfo e querem dobrar a aposta: isso se respira. Por exemplo, em Agustina Chaves, trabalhadora do metrô, um dos setores que o governo escolheu para atacar especialmente. "Se a força que demonstramos nas ruas em 13J a colocamos aqui para lutar com nossos companheiros e companheiras, podemos derrotar esse governo", me conta enquanto arruma seus dois lenços: o verde pelo direito de decidir, o lilás pelo Grupo de mulheres Pão e Rosas.

Ao seu lado está Marilina Arias. Sob o agasalho preto, se deixa ver o avental de professora. "Estamos na primeira fila para enfrentar o ajuste de Macri, porque sabemos que isso implicará em um maior custo de vida para as famílias trabalhadoras, famílias que são fundamentalmente sustentadas por mulheres".

"Nós somos as que mais sofrem, somos as primeiras a sermos demitidas", diz Andrea vestindo sua camisa do grupo aeronáutico El despegue. "No meu caso, eles me demitiram porque sempre estive à frente da organização junto com meus companheiros. Também fui demitida porque na frente dos chefes abusadores organizamos a Comissão de Mulheres Aeronáuticas e conseguimos parar com os abusos. É uma clara perseguição minha demissão. O sindicato não faz nada, mas nós temos nossos delegados que foram votados por nós, discutimos tudo em assembléia e eles estão me acompanhando. É por isso que estamos todos juntos hoje no tribunal ".

“Eu estive aqui em 2001”

“Acredito que se existe algo que nós mulheres sabemos, é de luta. Sempre na história estivemos na vanguarda”, dice Myriam Bregman com orgulho e memória. “Eu estive aqui em 2001. Eu vi as mulheres dos bairros saírem pra lutar pelo pão para seus filhos, nesta mesma ponte, nesta mesma zona sul, assoladas pelo desemprego e pela fome. Vi a repressão daquele governo. Vi como mataram, neste mesmo lugar, a Maxi e a Darío. Agora querem fazer um roubo como esse. Estamos aqui porque queremos evitá-lo”.

Muito perto da legisladora da Frente de Esquerda encontra-se Catalina Balague que também se lembra bem de 2001. Por esses anos ela foi demitida de Pepsico. Uma luta exemplar conquistou sua reincorporação e se converteu num caso emblemático criando jurisprudência para benefício de milhares que enfrentam demissões desde então. A era macrista a encontrou demitida outra vez, pela mesma Pepsico: a primeira grande repressão deste governo foi à mulheres como Caty e seus companheiros. Assim, foi alimentando as forças repressivas de Bullrich, que depois iriam desaparecer com Santiago Maldonado e matariam ele e Rafael Nahuel. Por isso Caty não podia estar à frente.

“Queremos dizer aos dirigentes sindicais que se as mulheres podem conseguir a aprovação provisória do direito ao aborto mobilizando-se nas ruas, quanto mais poderíamos conquistar se os sindicatos mobilizassem os milhões de trabalhadores para barrar este ajuste?”

Festejando suas palavras, as companheiras cantam: “Que venha ver, que venha ver, as mulheres cortamos que venha ver a CGT”.

"A CGT queria uma greve para desabafar. Nós não queremos desabafar, queremos terminar com o ajuste ", diz Myriam Bregman. "Queremos evitar um novo saque como o de 2001. É por isso que acho muito importante que hoje nosso partido, o PTS, junto com o Movimento de Agrupações Classistas e as mulheres do Pão e Rosas estejam na rua. Esta é a unidade que deve ser construída: mulheres, jovens, trabalhadoras, trabalhadores. Assim podemos derrotar este governo. Espero que este grande movimento de mulheres, que começou a se expressar na Argentina com o grito de ’Ni una menos’ e depois se transformou em uma grande luta pelo direito ao aborto, agora se transforme em uma grande luta contra o FMI e contra todas as políticas de ajuste deste governo ".

São 10:19 de uma segunda-feira, 25 de junho. Patricia Bullrich já não twitta contra a paralisação. A prefeitura se retirou. As mulheres avançam

Traduzido de La Izquierda Diario.

 
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